Frios, frescores e frescuras: como o clima impacta diretamente no humor
Estamos enfrentando um calor inacreditável. Recentemente, passamos por vendavais e chuvas que deixaram cidades inteiras sem luz, por dias. Vivo em São Paulo. Muitos dias começam gelados e somos obrigados a sair de casaco. Só que, no meio do dia, inevitavelmente, abre aquele sol. Somos obrigados a tirar o casaco e, se ninguém está olhando, ainda levantamos um pouco a barra da calça e enrolamos as mangas da camiseta sobre os ombros, improvisando uma regata. Lutamos para nos adaptar fisicamente ao clima, mas nem sempre percebemos o quanto ele impacta no nosso humor. Existe um tipo de depressão especial, que consta nos manuais de psiquiatria, chamada “Depressão Sazonal”. Ela ocorre mais no inverno ou em dias curtos, com pouco sol. Apesar de ser mais comum em dias frios, nublados e chuvosos, ela pode acontecer no verão. Vocês sabem que eu gosto de ser especial, então, para mim, ela aparece nos dias quentes e ensolarados.
Vamos combinar que dia de calor, fora do ar-condicionado, da piscina ou da praia é “u ó”. Quando acontece no sábado, e eu não tenho muito o que fazer, é terrível. Levar meu filho ao parquinho para queimar o traseiro no escorrega, enquanto disputo uma sombrinha com outros pais, é um saco. Se nos refugiamos no shopping, corremos o risco de ouvir de alguém: “Shopping com um dia lindo lá fora? Tsc tsc tsc.”. Aí vamos num barzinho tomar um chope, em mesas ao ar livre. Afinal, dia lindo lá fora. Resultado: suor no bigode e, o pior, pizza. Não me refiro à Marguerita, mas à famosa rodela molhada na região do “suvaco”. Até a piscina é uma promessa de alegria, que, muitas vezes, não é cumprida. É muito difícil que a água esteja na temperatura ideal. Ou tá fria, e recolhemos o umbigo com falta de ar, ou tá quente de baixar a pressão.
Em contrapartida, adoro dias frios. Nesses dias, ficamos em casa sem culpa. Fondue, chocolate quente, mantinha com um toque aveludado (nunca sei o nome desse tecido), casacos disfarçando possíveis gordurinhas. Um longo sobretudo, então, é Europa na certa (mesmo que na Avenida Paulista). E tem os dias de chuva. Se não for sexta-feira e não tivermos que atravessar a cidade, adoro. E dormir com barulhinho das gotas caindo, gente? Que coisa mais divina é essa? Meu humor também oscila de acordo com a altitude. Funciona assim:
Praia: altitude zero. Suou, mergulhou ou tomou um chuveirão. Isso quando não damos sorte de ter uma brisa do mar. Picolé de limão refresca por dentro. Empadinha na sequência – se possível de camarão – equilibra a temperatura corporal.
Cidade no alto da serra: altitude sabe lá qual, mas é bem maior que na praia. Primeiro que eu enjoo subindo a serra (labirintite). Quando chego lá no alto, me dá uma moleza inexplicável. O povo ama aquele dia frio com sol. Eu detesto. E pra decidir: suar no suéter ou arrepiar de camiseta?
Machu Picchu: altitude perto do céu. É lindo, mas eu andei de ré e não falei muito.
O fato é que quem nasce humano, sente frio, calor, alegrias e tristezas. Às vezes mais intensas do que poderiam ser. E tudo o que podemos fazer é tentar ser felizes. Não importa a temperatura.