Galípolo diz que inflação está acima da meta e elevação da Selic tornou menos atrativo apostar contra o real

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira (22), que a inflação do Brasil está acima da meta de 3% e bastante disseminada, não sendo pressionada por alguma razão pontual. A afirmação foi realizada em audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
“A inflação acima da meta está bastante disseminada, ela também não é algo pontual. Tanto que quando olhamos para o IPCA para os segmentos mais voláteis, administrados ou alimentação domicílio, conseguimos enxergar uma inflação que está bastante acima da meta, fora inclusive da banda superior da meta, disseminada por diversos produtos, sejam bens industriais, sejam serviços, seja através do IPCA ou administrados ou alimentação a domicílio”, afirmou Galípolo aos senadores.
E alertou: “As expectativas de inflação passam, então, a sofrer uma desancoragem, isso é um elemento muito importante na gestão da política monetária, o manejo das expectativas de inflação.”
Selic
Gabriel Galípolo afirmou, ainda, que bancos centrais emergentes frequentemente precisam deixar os juros mais altos, de forma a aumentar os prêmios e atrair investimentos – e, desta forma, evitar uma desvalorização das suas divisas. É por causa deste processo, explicou o banqueiro central, que se tornou menos atrativo apostar contra o real no fim de 2024, dado o processo de elevação da Selic.
“Muitas vezes você vê autoridades monetárias de países emergentes, mesmo num momento de desaceleração econômica, tendo de manter a taxa de juros mais elevada para oferecer um prêmio maior para quem decidir investir no país e aí conter um processo de desvalorização da sua própria moeda”, disse Galípolo, em participação de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
Na sua apresentação, o banqueiro central destacou que, para países emergentes, movimentos do cenário internacional – como as decisões de política monetária dos Estados Unidos – têm impacto. Na sequência, o presidente do BC afirmou que o carry trade da moeda brasileira, por exemplo, se tornou vantajoso em relação ao peso mexicano no fim de 2024, quando a autoridade monetária aumentou a Selic em 1 ponto porcentual e sinalizou mais duas altas da mesma magnitude, em janeiro e março.
“O processo que foi feito no final do ano, de elevação da taxa de juros, direcionou para que você pudesse ultrapassar o prêmio para quem estava apostando, por exemplo, em moeda mexicana e tornar menos atrativo apostar contra a moeda brasileira”, disse.
Galípolo destacou que o valor do real é importante para a inflação brasileira, chamando atenção para o fato de que 60% a 70% da produção de alimentos do país tem ao menos alguma correlação com o preço do dólar. O presidente do BC ainda repetiu que a meta de inflação é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), e que cabe à autoridade monetária definir os juros de forma a cumprir o alvo.