Gerdau aposta em cultura e IA para acelerar transformação dos negócios

Para Gustavo França, a transformação digital não se faz só com tecnologia, mas com cultura. CIO global da Gerdau, maior produtora brasileira de aço, o executivo rejeita o termo “transformação digital” e prefere falar em “transformação de negócio”. “Não é tech por tech. Meu papel como CIO é ser um agente de mudança e, muitas vezes, o mais difícil não é a tecnologia, é mobilizar as pessoas”, afirma.
França assumiu o cargo em janeiro de 2024, mas sua trajetória na empresa começou há 23 anos, como analista de TI em Salvador. Hoje, lidera uma estratégia de transformação que envolve não apenas inovação tecnológica, mas a reestruturação de processos, parcerias externas e uma gestão ativa do core de tecnologia, que inclui uma instância única do SAP para sete países nas Américas.
As declarações foram dadas durante visita à primeira fábrica da Gerdau, localizada em Sapucaia do Sul (RS)*, onde o executivo apresentou os principais avanços tecnológicos da companhia e destacou o papel da cultura organizacional como base para a transformação.
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Segundo o executivo, a inovação é tratada como capacidade organizacional e está disseminada em todas as áreas da empresa, não concentrada em uma equipe específica. “Temos uma comunidade de inovação com agentes espalhados por toda a companhia. A depender do desafio, usamos ferramentas como design thinking, open innovation, alianças com startups e prototipações rápidas”, explicou.
IA para o aço — e para os dados
Entre as frentes mais avançadas, está o uso de gêmeos digitais na planta de Ouro Branco (MG), que produz 4,5 milhões de toneladas de aço por ano. Com simulações virtuais, a empresa consegue prever o comportamento da produção e tomar decisões em tempo real. Além disso, sistemas de videoanalytics são usados para reforçar a segurança nas operações, identificando situações de risco como queda de colaboradores ou uso incorreto de EPIs.
A Gerdau também implementou um sistema proprietário, o Gerdau Intelligence, que conecta diferentes modelos de linguagem (como GPT, Gemini e Copilot) para gerar respostas específicas a problemas técnicos e operacionais. O sistema já dá origem a produtos como a G, assistente virtual para colaboradores, e o NoHub, ferramenta de consulta a manuais e históricos de falhas industriais.
SAP, IA e governança
A arquitetura de sistemas da Gerdau é robusta e centralizada. O SAP — com uma instância única que atende os sete países da operação — vem sendo modernizado desde 2014. Ao longo da última década, a companhia implementou soluções como o SuccessFactors (gestão de pessoas), o Ariba (procurement), o IBP (planejamento integrado) e o TDF com o Medon (apuração de tributos).
Boa parte dos processos foi automatizada com uso de IA. O case da assistente robótica Gabi, que atua na área de compras, rendeu à empresa o prêmio Excellence da SAP. “Hoje temos mais de 500 mil pedidos gerados com apoio de automações e leilões globais feitos pela nossa rede”, disse França.
A operação de tecnologia da empresa também se prepara para um novo ciclo: a implementação do S/4HANA, planejada até 2027. “É uma estrada longa, mas necessária para extrair ainda mais valor da fundação que construímos”, completou.
Segundo o executivo, a estabilidade do core é compatível com o nível de inovação da companhia. “Nossa disponibilidade de sistema SAP é de 99,98%. Operamos com nível global de excelência, sem abrir mão de ser early adopter quando a estratégia exige.”
Transformação como cultura
França reforça que nenhuma tecnologia avança sem adesão das pessoas. “Desde 2014, percebemos que era preciso começar pelas pessoas. Cultura vem antes de qualquer ferramenta.” Os projetos de transformação são conduzidos por times multidisciplinares, em modelos que misturam profissionais de tecnologia e das áreas de negócio. “Quase sempre é o business que lidera. A TI está ali como habilitadora.”
Ao rejeitar a ideia de que a transformação digital é um capítulo concluído, o CIO aposta em um modelo contínuo, que equilibra modernização e propósito. “Nosso aço é forte, nosso forte são as pessoas”, disse, citando um antigo lema da empresa. A frase, segundo ele, ainda resume bem a estratégia da Gerdau para inovar: com solidez, mas sem rigidez.
*A jornalista viajou a convite da SAP
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