Google Cloud: energia nuclear para IA é alternativa ‘limpa e acessível’
Um dos grandes dilemas da adoção crescente de inteligência artificial generativa no mundo é o elevadíssimo consumo de energia nos data centers que rodam esses algoritmos. Grandes empresas de tecnologia americanas – a saber, o Google, a Microsoft, a Oracle e a Amazon/AWS – anunciaram recentemente que vão investir em energia nuclear para dar conta dessa demanda e, ao mesmo tempo, não aumentar emissões de carbono.
Nos EUA, a maior parte da geração de energia não é limpa, ou seja, depende de usinas que queimam carvão e gás, ou mesmo combustível nuclear. Estima-se que pouco menos de 25% da matriz energética do país seja renovável, segundo a Federal Energy Regulatory Commission (FERC), autoridade norte-americana que regula a transmissão de eletricidade, gás natural e petróleo.
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A energia nuclear, apesar de não emitir gases causadores do efeito estufa, gera resíduos radioativos difíceis (e caros) de armazenar, além de trazer riscos de acidentes. Apesar disso, segundo Camila Zoé Frias, head de comunicação do Google Cloud para a América Latina, a energia é limpa e importante para atender a demanda dos consumidores corporativos por GenAI.
“A rede precisa de novas fontes de eletricidade para dar suporte às tecnologias de IA que estão impulsionando grandes avanços científicos, melhorando serviços para empresas e clientes, assim como impulsionando a competitividade e o crescimento econômico”, diz a executiva, em entrevista dada por e-mail ao IT Forum.
Confira abaixo os melhores momentos:
IT Forum: A adoção de tecnologia e sistemas online tem expandido globalmente a demanda por data centers. Existe perspectiva que essa demanda estacione em algum momento ou isso nunca acontecerá? É possível otimizar aplicações para que esse consumo diminua?
Camila Zoé Frias: Com certeza, é possível usar aplicações para que o uso de energia nos data centers sejam otimizados. No Google, não só estamos desenvolvemos IA para nossos usuários e produtos, mas também estamos aproveitando a IA para otimizar as nossas próprias operações e trabalhando para reduzir o uso de energia e as emissões da computação de IA em nossos data centers.
Um data center operado pelo Google é, em média, aproximadamente 1,8 vezes mais eficiente em termos de energia do que um data center empresarial típico. Em 2023, a eficácia média anual do uso de energia para nossos data centers foi de 1,10 em comparação com a média do setor, de 1,58.
Isso significa que nossos data centers usaram cerca de 5,8 vezes menos energia para cada unidade de energia de equipamento de TI.
Construímos uma infraestrutura eficiente e de ponta desenhada para a era da IA, incluindo o Trillium, a nossa Unidade de Processamento Tensor (TPU) de sexta geração, que é 67% mais eficiente em termos energéticos do que a TPU v5e. Identificamos práticas testadas que, quando usadas em conjunto, podem reduzir a energia necessária para treinar um modelo de IA em até 100 vezes e diminuir as emissões associadas em até 1 mil vezes.
A nossa TPU v4 foi 2,7 vezes mais eficiente em termos de energia do que nossa TPU v3, e em breve ofereceremos a GPU Blackwell de próxima geração da Nvidia para clientes do Google Cloud. A Nvidia estima que ela treinará grandes modelos de linguagem usando 75% menos energia do que GPUs mais antigas para concluir a mesma tarefa.
ITF: A inteligência artificial generativa é uma aplicação especialmente demandante de energia. Como o Google está lidando com esse fato diante da demanda (e da oferta) crescente por GenAI no mundo?
Camila: Temos o compromisso de alcançar energia livre de carbono (CFE) 24 horas por dia, 7 dias por semana, até 2030, o que significa garantir que o consumo de energia das nossas operações seja totalmente correspondido (…), em todos os locais, com energia limpa.
Em termos de iniciativas, é importante ressaltar que aplicamos as capacidades de IA para acelerar a ação climática, com o objetivo de mitigar de 5 a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) até 2030. Entendemos que a IA pode ser utilizada para organizar informações, melhorar as previsões e otimizar sistemas complexos para a sustentabilidade.
ITF: Recentemente o Google anunciou o uso de energia nuclear para data centers como alternativa limpa, mas esse tipo de energia também gera resíduos difíceis de lidar. Por que o Google considera energia nuclear uma alternativa sustentável e como vai assegurar que ela seja segura?
Camila: O acordo recém anunciado [que pode ser lido em inglês nesse link] envolve a compra de energia nuclear de múltiplos pequenos reatores modulares (SMRs) a serem desenvolvidos pela Kairos Power. Este acordo é importante por dois motivos.
A rede precisa de novas fontes de eletricidade para dar suporte às tecnologias de IA que estão impulsionando grandes avanços científicos, melhorando serviços para empresas e clientes, assim como impulsionando a competitividade nacional e o crescimento econômico. Dessa forma, este acordo ajuda a acelerar uma nova tecnologia para atender às necessidades de energia de forma limpa e confiável, e desbloquear todo o potencial da IA para todos.
E as soluções nucleares oferecem uma fonte de energia limpa 24 horas por dia que pode nos ajudar a atender de forma confiável às demandas de eletricidade com energia livre de carbono. Acreditamos que o avanço dessas fontes de energia em estreita parceria com comunidades locais impulsionará rapidamente a descarbonização das redes de eletricidade em todo o mundo.
ITF: De quanta energia exatamente estamos falando? Essa alternativa vai ficar restrita aos EUA ou pode ser ampliada?
Camila: O acordo com a Kairos Power, especificamente, permitirá até 500 MW de nova energia livre de carbono (…) para redes elétricas dos EUA. E ajudará mais comunidades a se beneficiarem de energia nuclear limpa e acessível.
ITF: De que forma o Google busca reduzir o próprio consumo de energia e as emissões de gases do efeito estufa?
Camila: Nossa estratégia de sustentabilidade está ancorada em dois pilares: nossos produtos e nossas operações. Do ponto de vista de produtos, estamos capacitando as pessoas com informações para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas, com foco em setores como energia e transporte onde os nossos recursos podem ter um impacto significativo.
Paralelamente, trabalhamos para impulsionar a sustentabilidade em nossas operações de quatro maneiras principais: acelerando a transição para um futuro de carbono líquido zero, promovendo a administração da água, construindo uma economia circular e restaurando a natureza e a biodiversidade.
ITF: Existem políticas específicas para o Brasil com relação ao uso de energia limpa? Se sim, quais?
Camila: Sabemos que o Brasil conta com uma matriz energética majoritariamente limpa. (…) Do nosso lado, somos a primeira corporação de serviços de nuvem a lançar uma pontuação Carbon-free Energy (CFE) para as nossas cloud regions. A nossa região da nuvem de São Paulo, por exemplo, opera com pontuação CFE acima de 90%.
A pontuação CFE ajuda os nossos clientes a escolher as regiões que trazem menos impactos ambientais para rodar cargas de trabalho na nuvem do Google. E, para estar apta a ser uma alternativa de baixo carbono aos clientes, a cloud region deve apresentar uma pontuação CFE acima de 75%.
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