Google Cloud quer novas “minirregiões” de nuvem para crescer na América Latina

Ricardo Fernandes, presidente do Google Cloud para a América Latina, e Eduardo Lopes, head do Google Cloud Brasil, posam sorridentes lado a lado. Ricardo Fernandes veste paletó azul e camisa branca, enquanto Eduardo Lopes usa óculos, camisa escura e jaqueta preta. Ao fundo, parte de uma parede clara e parte de um painel com letras grandes em preto (nuvem)

Sem previsão de inaugurar novas regiões de nuvem na América Latina, o Google Cloud quer novas “minirregiões” para expandir seus serviços na região. A estratégia foi descrita por Eduardo Lopez, presidente da empresa para a América Latina, em um encontro com a imprensa brasileira durante o Google Cloud Next 25, principal evento da companhia para parceiros e clientes realizado na última semana em Las Vegas, nos Estados Unidos.

As “minirregiões” citadas por Lopez são, na realidade, instâncias do Google Distributed Cloud (GDC). O produto, lançado pela companhia em março de 2023, permite que clientes implementem uma extensão da infraestrutura e dos serviços de nuvem do Google dentro de seus próprios data centers. No Brasil, a empresa já opera um projeto do GDC desde outubro do ano passado, com a Nuvem de Governo, do Serpro.

Para Lopez, o GDC é a opção de menor custo e tempo para implementação para a organização continuar alcançando áreas em que não está presente na região. “Precisamos de dois anos para construir uma nova região. No ritmo em que a tecnologia está evoluindo, isso é muito tempo”, diz. “Levando em consideração as características do Brasil e da América Latina, o GDC é a solução para complementar as três regiões que temos”.

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O Google Cloud, vale lembrar, opera três regiões na América Latina. São Paulo, no Brasil, e Santiago, no Chile, foram as duas primeiras. Em dezembro do ano passado, a região de Querétaro, no México, começou suas operações. O presidente da companhia para a América Latina vislumbra que outras áreas carentes de serviço, como Argentina, Colômbia e até o Nordeste do Brasil, poderiam ser alcançadas através de novas parcerias do GDC.

“Com as características de nossa região, fomos os primeiros a vender GDC no mundo”, lembra Lopez. Em agosto de 2023, o governo de El Salvador foi o primeiro a assinar um projeto de nuvem distribuída do Google, voltado para a digitalização de serviços públicos. Um outro projeto de GDC também é implementado no México atualmente.

O projeto de nuvem soberana implementado pelo Serpro, maior estatal de tecnologia do Brasil, em parceria com o Google Cloud foi, inclusive, o principal destaque do Google Cloud Summit Brasil, realizado em outubro do ano passado. Na ocasião, Lopez chegou a ser questionado sobre a ausência de grandes investimentos por parte da empresa no mercado nacional, e apontou que o Google Cloud prefere se voltar para a “execução” invés de “anúncios gigantes”.

Nas semanas anteriores, as principais rivais da companhia no mercado global de serviços de nuvem, anunciaram grandes aportes no Brasil para expandir sua infraestrutura de data centers. A Amazon Web Services (AWS), prometeu R$ 10,1 bilhões até 2023 e a Microsoft, com a Azure, disse que colocará R$ 14,7 bi no país nos próximos três anos.

Gemini: da nuvem para o GDC

Para garantir a atratividade do modelo do GDC, o Google anunciou, durante o Next 2025, a chegada de alguns dos serviços de inteligência artificial (IA) generativa dentro da oferta de nuvem distribuída. Em uma parceria com a Nvidia, a empresa revelou que os modelos multimodais Gemini estarão disponíveis dentro do GDC a partir do terceiro trimestre deste ano.

Historicamente, organizações que operam como modelos on-premises e enfrentam restrições de dados em suas operações, seja por necessidades regulatórias ou demanda por baixa latência, têm dificuldade de acessar tecnologias de IA generativa. Na maior parte dos casos, essas empresas precisam montar suas próprias estruturas de hardware e software, usando modelos open-source, para tirar proveito da tecnologia. Na prática, isso aumenta a complexidade e custo operacional.

Com o Gemini na GDC, o Google aposta que pode virar esse jogo. Ricardo Fernandes, head do Google Cloud no Brasil, aponta que segmentos como o varejo, mineração e até manufatura podem ser beneficiários do modelo aqui no País.  Globalmente, o McDonald’s foi um dos clientes do modelo que já está com um projeto em produção, usando ferramentas de IA no modelo GDC para empregar dados em tempo real dentro de seus restaurantes.

“Para empresas que têm alguma restrição de conectividade, é um modelo que se aplica muito bem”, aponta Fernandes. “É fato que o Brasil ainda tem muitos clientes com operação on-premise. Poder levar IA para esses ambientes é maravilhoso. O grande concorrente das nuvens não são outras nuvens, é o on-premises”.

Em conversa com o IT Forum, Sachin Gupta, vice-presidente e gerente geral do Google Cloud responsável pela unidade de negócio GDC, explica que o projeto implementado pelo Serpro é a versão “air-gapped” do Google Distributed Cloud, em que o cliente opera a estrutura e serviços oferecidos pela empresa de forma completamente autônoma e desconectada da internet e do próprio Google Cloud. “É muito similar à forma como se acessa um serviço em nuvem pública. Para um desenvolvedor, a experiência é a mesma do ponto de vista de APIs”, conta.

O executivo pontua também que segmentos do setor público, incluindo setores de defesa e inteligência, têm sido os principais clientes do GCD no modelo air-gapped. Ele vê, no entanto, a possibilidade de expansão para outros setores, especialmente setores altamente regulados. Gupta concorda que o Brasil é umas regiões em que o modelo tem potencial de expansão – e, não à toa, tem uma viagem prevista para o País em junho deste ano. “Nós vemos grandes oportunidades [no Brasil], mas acho que podemos fazer muito mais”, afirma ao IT Forum.

*O jornalista viajou a Las Vegas a convite do Google Cloud

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