Gratuito, musical infantil ‘Kafka e a Boneca’ explora relações humanas de forma lúdica

As obras modernistas de Franz Kafka tornaram o autor um dos mais relevantes do século XX e os relatos reais de um encontro pouco convencional desse escritor com uma menina que perdeu seu brinquedo favorito inspirou o musical infantil “Kafka e a Boneca”. A produção original está em cartaz no Teatro do Sesi-SP com sessões gratuitas aos sábados e domingos. A trama mostra que Kafka foi atraído pela tristeza de Lia Hillel durante um passeio pelo parque Steglitz, em Berlim. A garotinha chorava por ter perdido sua boneca favorita e, para dar consolo, o autor inventa que ela saiu pelo mundo para viver sua própria aventura. A partir de então, ele passa a escrever cartas fingindo ser a boneca que, nas mãos de Kafka, explora da China ao deserto do Saara. Esse encontro real trouxe motivação para a vida do autor, mas também um conflito: como concluir essa história sem causar outra frustração na jovem amiga? Em entrevista à Jovem Pan, o diretor Marllos Silva explicou que a adaptação é toda centrada nas relações humanas: “Apesar de contar uma história real, o musical não está preso ao momento histórico. Diante disso, o maior desafio foi construir essas relações profundas e verídicas”.      

Apenas de ser um espetáculo destinado ao público infantil, o musical também foi pensado para fisgar quem acompanha as crianças no teatro. “Em um primeiro olhar, pode parecer que o lúdico entre a relação da menina com a boneca é o principal chamariz para uma criança nesta produção, entretanto, acredito que a relação da menina com o mundo, os perigos que ela pode enfrentar e, principalmente, a relação entre pais e filhos também despertam interesses”, comentou Marllos, que acredita que é justamente a questão familiar presente na história que faz com que os adultos também se envolvam com o espetáculo. “As crianças não vão sozinhas ao teatro, então este é um importante fator a se considerar quando fazemos um espetáculo neste gênero: que os adultos também sejam contemplados dentro da história.” No papel de Kafka, o ator Marcos Lanza entende que o musical evidencia os despertares – sendo o do autor pela vida e o da pequena Lia para a esperança após ter que lidar com uma perda. 

“Esse encontro do Kafka com uma criança proporciona a ele uma vontade de viver. Ela [Lia] acendeu algumas emoções que para ele estavam esquecidas e reacendeu coisas que estavam perdidas na cabeça dele. Para Lia, foi uma forma de entender e também de como ressignificar a perda, porque, teoricamente, quando uma menina perde uma boneca, a mãe vai lá e compra outra, então o que torna essa aventura mais emocionante é como o Kafka se esforça para fazer com que a Lia entenda a perda da boneca, que era a melhor amiga dela, de uma forma que não fique magoada”, pontuou o artista. As músicas originais, assim como a trama, não ficaram presas em questões históricas, no entanto, o período em que esse encontro aconteceu e o fato de Kafka ter nascido em família judia serviram de inspiração. “As canções tiveram liberdade artística. Obviamente, tem um sotaque brasileiro, mas ao mesmo tempo existe uma diretriz judaica de coisas que a gente estudou e ouviu. Além disso, existe nossa influência da Broadway e de musicais em um contexto geral”, explicou o diretor musical Daniel Rocha. “É uma história que está fazendo 100 anos, mas estamos contando sobre o olhar de uma criança moderna e de valores modernos.”

Serviço:

  • Local: Teatro do SESI-SP (Av. Paulista, 1313 – Jardins, São Paulo)
  • Temporada: 05 de março a 18 de junho
  • Sessões: Sábados e Domingos, às 15h
  • Ingressos: Gratuitos. Reservas antecipadas pelo site sesisp.org.br/eventos