Greenpeace ataca o agro e diz que Brasil ‘come veneno’

A ONG Greenpeace divulgou nas redes sociais uma charge criticando o agronegócio. Nela, uma criança que assiste à Copa do Mundo pergunta à mãe se é verdade que nós, brasileiros, comemos veneno enquanto os outros países não. A informação falsa divulgada pela ONG enquanto o Congresso tentava modernizar a lei de defensivos que estava em pauta desde 1999. Conversei com José Otávio Menten, presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e professor da Esalq/USP, que falou sobre as razões que evidenciam a informação falsa divulgada. Confira:

Foi feita uma afirmação dizendo que os brasileiros comem veneno, explique por que essa afirmação não é verdadeira. As pessoas confundem a liderança no mercado com o consumo. O consumo, nós temos que expressar através da quantidade de defensivos por área ou produto colhido. E se levarmos em consideração esses indicadores que são os corretos, o Brasil fica em posição muito abaixo de países europeus como Holanda, França ou Japão, considerados países desenvolvidos. Ou seja, nós usamos aqui porque produzimos muito. Temos um mercado muito grande porque temos uma área grande, fazemos 2 ou 3 safras por ano e somos um país tropical onde as pragas são frequentes, o agricultor só usa quando realmente necessário e com todo o cuidado porque ele não quer onerar seu custo de produção.

Há resíduos de agroquímicos nos alimentos? Isso não é verdade. Os próprios órgãos do Brasil, tanto o Ministério da Agricultura tem programa nacional de controle de resíduos, como a Anvisa também tem um programa de análise demonstrado nos últimos anos que a quantidade de resíduos é ínfima aqui no Brasil. É praticamente irrelevante. E as pessoas também confundem o consumidor, porque o relatório permitido pela Anvisa, que é um programa chamado Para – chama de inconformidade quando temos resíduos de produtos em culturas que não se tem produto registrado para ela. O PL que queremos que seja aprovado vai ajudar a regularizar, aumentar o número de registros, que é uma questão unicamente legal, para essas culturas menores que são, de maneira inadequada, relatadas como inconformidade, mas não por excesso de produto, é que a simples presença já caracteriza o uso próprio, porque são as minor crops, com culturas com suporte fitossanitário insuficiente.

Qual o objetivo de uma ONG como o Greenpeace disseminar uma informação falsa? Eu acho que as pessoas que realmente conhecem o assunto têm menos chance de se expor nos meios de comunicação do que determinadas ONGs ou influencers digitais, por isso a fake news está se propagando. A razão pode ser ideológica, mas pode ser também por falta de conhecimento ou até mesmo interesse econômico. Porque toda vez que prejudica a imagem do agro brasileiro no exterior, e o Brasil é a grande potência agrícola e ambiental, estamos alimentando quase 1 bi de pessoas no mundo inteiro, existem interesses de países que são nossos competidores e gostariam de implementar barreira não tarifária, como a de imagem irreal de que nossos alimentos podem estar contaminados com defensivos agrícolas. Existe esse controle no Brasil, os supermercados fazem levantamento sistemático da qualidade dos alimentos e todos esses países que importam nossos alimentos também fazem, eles não estariam comprando se tivesse prejuízo na sua qualidade.