IA é aliada de comunidades locais na preservação da Amazônia

Stefany Pinheiro; Amazonia

No coração do Amazonas, na capital Belém, a inteligência artificial é utilizada no combate ao desmatamento da maior floresta tropical do mundo. Lançada em 2021 pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em parceria com Microsoft e Fundo Vale, a PrevisIA é uma plataforma aberta que aplica a IA para prever áreas sob risco de desmatamento na Amazônia. Este é o bioma brasileiro que mais sofreu com a perda de vegetação nativa ao longo dos anos, aponta o MapBiomas.

A solução fornece anualmente projeções para o próximo ciclo de desmatamento (de agosto a julho do ano seguinte), que coincide com o período de menos chuvas na Amazônia seguindo a sazonalidade da região, o que influencia diretamente as atividades de desmatamento. Ao utilizar dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a PrevisIA antecipa as tendências de desmatamento, permitindo um acompanhamento mais preciso e a tomada de medidas preventivas.

“A PrevisIA surge com a premissa de que nós queremos errar a previsão. Fornece dados para evitar o desmatamento e prever as regiões que podem ser mais pressionadas por um futuro desmatamento a fim de direcionar o comando e controle e a atuação preventiva para conservar a floresta”, explica Stefany Pinheiro, pesquisadora assistente no Imazon.

O modelo da plataforma apresenta um índice de 70% de assertividade em um raio de até 4km de áreas identificadas com risco alto de desmatamento. O Imazon compara a previsão de desmatamento para um calendário com os dados do PRODES.

Diante dos resultados dos últimos calendários, o modelo da PrevisIA indica um aumento do risco em áreas que antes eram consideradas com risco moderado baixo. Isso acontece porque o modelo consegue identificar mudanças sutis nos padrões de desmatamento. “Mesmo sem considerar diretamente fatores políticos, o modelo consegue captar a tendência de redução do desmatamento e mostrar que o risco está se concentrando em alguns lugares”, explica Stefany.

A jovem engenheira da computação integra, desde o início, o time responsável pela tecnologia, que hoje é composto por outros cinco profissionais de diferentes áreas, como biologia, agronomia e engenharia florestal. Stefany ingressou no Imazon como estagiária, em 2021, para apoiar o processo de automatização da detecção de estradas, antes realizado manualmente, sendo este o primeiro uso de IA na organização. “Mapear as estradas é importante uma vez que cerca de 95% do desmatamento ocorre em até 5 km dessas estradas”, detalha. “O acesso facilita o desmatamento”.

Amazônia: monitoramento de estradas

Além da presença de estradas legais e ilegais, o modelo de previsão de desmatamento da ferramenta leva em conta um conjunto de variáveis que inclui dados históricos de desmatamento, classes de territórios, distância para áreas protegidas, hidrografia, topografia, infraestrutura urbana e informações socioeconômicas.

A plataforma disponibiliza publicamente diversos dados, como de previsão e risco de desmatamento, bem como relatórios por calendário que destacam informações relevantes, como rankings por estados ou categoria. E são essas informações que servem como base para diversas iniciativas de combate ao desmatamento conduzidas por entes privados, públicos, academia e terceiro setor dos nove estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).

A PrevisIA possui um Termo de Cooperação Técnica com os Ministérios Públicos dos estados do Pará, Amazonas, Rondônia, Acre e Mato Grosso. Na fase atual do projeto, são fornecidos capacitação técnica e diagnósticos territoriais das regiões de interesse solicitadas pelo MP. Dessa forma, a plataforma contribui para compreender as áreas de risco de municípios e sinalizar as áreas prioritárias para combate do desmatamento. Entre as informações entregues, estão boletins mensais de desmatamento e de risco do município em questão. Equipes de outro país da região amazônica também já estão em treinamento para utilizar a PrevisIA.

“O monitoramento da Amazônia exige um esforço humano e tecnológico, e este tipo de tecnologia mostra que ele caminha junto com a preservação”, enxerga Stefany. A PreviSIA demonstra como a inteligência artificial, aliada à capacitação das comunidades locais, representa uma nova abordagem para a proteção da floresta e combate ao desmatamento “A equipe responsável pela tecnologia é composta por pessoas da própria Amazônia e nosso desejo é engajar o maior número possível de pessoas para aplicar essas análise nas tomadas de decisão”.

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