IA pode reproduzir vieses ou quebrá-los. Solução passa por mais mulheres no comando

Cinco mulheres sentadas em cadeiras brancas no palco de um evento de tecnologia. Elas participam de um painel sobre diversidade e inteligência artificial, com um telão ao fundo exibindo a imagem ampliada da moderadora falando ao microfone. O ambiente é moderno, com iluminação cênica e público ao fundo. Foto: Déborah Oliveira

A inteligência artificial (IA) está reconfigurando a forma como empresas operam e pessoas interagem com o mundo. Mas, em um País marcado por desigualdades estruturais, o avanço dessa tecnologia levanta um alerta. E se ela ampliar, em vez de reduzir, as lacunas sociais e de gênero?

Essa foi a provocação central do painel “Diversidade e liderança feminina na era da IA”, realizado no segundo dia do Febraban Tech, em São Paulo, com a participação de quatro mulheres que lideram agendas estratégicas em tecnologia e inclusão no mercado nacional.

“A IA pode escalar soluções ou problemas”, alertou Renata Marques, CIO da Natura para a América Latina. Para ela, o primeiro passo para virar o jogo da sub-representação feminina em tecnologia é reconhecer o problema. “Sem mulheres em cargos de liderança, fica mais difícil frear os vieses nos algoritmos e na cultura. Precisamos de intencionalidade, ou seja, vagas afirmativas, mentoria entre mulheres e ações claras de inclusão”, afirmou.

Hoje, menos de um terço dos profissionais que atua com IA no mundo é de mulheres, segundo dados da Unesco. O risco, como apontaram as executivas, é de que essa ausência se reflita nos próprios sistemas inteligentes, treinados a partir de dados que reproduzem preconceitos de gênero, raça e classe.

No Banco do Brasil, iniciativas como o programa de mulheres na TI e a AcademIA, criada para capacitar os 85 mil funcionários em inteligência artificial, têm buscado mudar essa realidade. “Dos 25 mil inscritos no AcademIA, 40% eram mulheres e a maioria nunca havia trabalhado com tecnologia”, contou Marisa Reghini, VP de Negócios Digitais e Tecnologia do Banco do Brasil. “Mostramos que IA não é só para homens ou gênios. Ela pode ser para todo mundo, mas precisamos ensinar o caminho.”

Mulheres e a IA

A educadora e empreendedora social Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME), reforçou a importância de traduzir a IA para a realidade das mulheres em todo o Brasil, especialmente para as empreendedoras nas regiões mais vulneráveis. “Elas, muitas vezes, só têm acesso a aplicativos de mensagem, não a vídeos ou ferramentas de IA. Estamos mostrando, na prática, como criar um anúncio ou programar uma IA para escrever um texto. Precisamos tirar essa aura de que IA é coisa de outro planeta”, disse.

Valéria Marretto, diretora de RH do Itaú Unibanco, destacou que o tema da diversidade precisa sair da agenda exclusiva do RH e se tornar temática de todos, especialmente do CEO e do comitê executivo. “A educação é o único caminho para transformar o País, mas também precisamos atuar agora. A IA traz a possibilidade de personalizar o aprendizado e democratizar o acesso ao conhecimento, se enfrentarmos a barreira da infraestrutura.”

Indo além dos desafios, a conversa também trouxe uma visão otimista. A IA pode, sim, ser uma aliada na redução das desigualdades, desde que mulheres estejam liderando, ou sendo parte ativa, da sua construção, sua governança e sua aplicação. “Se aproveitarmos esse momento em que todos estão aprendendo, as mulheres podem sair à frente”, disse Marisa.

Para Renata, da Natura, a IA traz uma vantagem competitiva que combina perfeitamente com habilidades tradicionalmente femininas: empatia, escuta ativa e colaboração. “A era da força ficou para trás. Agora, são essas competências que vão moldar as máquinas e o mundo que queremos”, finalizou.

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