iFood quer mil contratações em engenharia e IA nos próximos 12 meses

Diego Barreto CEO Ifood

O iFood continuará acelerando seus investimentos em tecnologia por meio de novas contratações em áreas como engenharia e inteligência artificial (IA). A estratégia foi compartilhada por Diego Barreto, CEO da companhia, durante um encontro com a imprensa na sede da organização nesta terça-feira (23). A expectativa, segundo o executivo, é de trazer mil novos profissionais para reforçar “majoritariamente” os times de tecnologia nos próximos doze meses.

“Em 2018, quando captamos US$ 500 milhões [por meio de investidores da Movile, da qual o iFood faz parte], direcionamos investimentos para três áreas: marketing, logística e tecnologia e inteligência artificial. Hoje, logística e marketing continuam recebendo investimentos, mas são áreas já maduras, com um nível de organicidade muito grande. A parte majoritária do nosso investimento está em inteligência artificial.”

A aposta em inteligência artificial tem sido um dos pilares fundamentais que justificam o crescimento da empresa brasileira de tecnologia ao longo dos últimos anos, segundo Barreto. Hoje, o iFood processa mais de 97 milhões de pedidos por mês – o primeiro milhão mensal veio em 2015 – e conta com 55 milhões de usuários por mês em sua plataforma, com mais de 310 mil entregadores ativos. Em 2022, atingiu seu breakeven após anos queimando caixa.

O time de tecnologia do iFood soma 2,4 mil pessoas, com cerca de 300 delas dedicadas ao tema de IA. A jornada da empresa com a inteligência artificial começou em 2018, com a aquisição da startup mineira Hekima, que focava em big data e ciência de dados.

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Hoje já são mais de 143 modelos proprietários de IA integrados à operação, em áreas como interpretação de intenção, chat, vouchers, cancelamentos, consultas, categorização e interpretação de imagem. Mais de 4 mil colaboradores também empregam algum tipo de ferramenta de IA dentro da organização no cotidiano de trabalho.

A abordagem do iFood com projetos de IA vem através dos chamados “jet skis”. A metáfora é simples: se o iFood é um “transatlântico”, navegando a todo vapor, mas difícil de manobrar, os “jet skis” são pequenos projetos focados em objetivos específicos que são “lançados ao mar” para traçar novos caminhos para a empresa seguir no futuro.

“Quando eu uso a expressão ‘vou colocar um jet ski na água’, estou falando em pegar uma pequena ideia e um time super enxuto para explorar novos caminhos”, disse Marcos Gurgel, diretor de Inovação do iFood. “Ele não precisa estar necessariamente dentro da área de inovação. Pode estar em logística, na área de compras ou até na área legal.”

Segundo o executivo, 118 ideias de “jet skis” envolvendo IA já foram desenvolvidas dentro do iFood até hoje. Boa parte não chega à produção, mas há exemplos bem-sucedidos rodando dentro da empresa. Uma delas foi um projeto interno desenvolvido pelo time jurídico da companhia, que utilizou um LLM para analisar contratos de fornecedores e compará-los com um contrato padrão do iFood, classificando a conformidade das cláusulas.

A IA também já está sendo utilizada com clientes. No fronte dos restaurantes, a empresa começou a utilizar a IA generativa para sugerir melhorias na descrição de pratos listados na ferramenta, com o objetivo de torná-las mais atraentes para os clientes. Há também um botão para melhoria de fotos de produtos, que não muda a imagem do alimento, mas pode, por exemplo, gerar um fundo mais bonito para a foto do prato ou aplicar um filtro ao estilo do Instagram.

O projeto foi bem recebido pelos restaurantes parceiros. Nos primeiros 30 dias após o lançamento da plataforma de IA, 75% dos lojistas quiseram testar a ferramenta e 90% acataram as sugestões dadas pela IA generativa. “O ponto mais interessante é que quem optou [pelas sugestões da IA] teve um aumento de tráfego de 5% dentro da loja. A gente está falando de entregar a tecnologia na mão de um dono de restaurante. Isso, pra mim, é a beleza de quando a gente tá falando de inovação e inovação aberta”, anotou Gurgel.

Planos de expansão

Diego Barreto assumiu em maio a posição de CEO do iFood. O executivo atua no Grupo Movile desde 2016 e chegou ao iFood há seis anos para atuar como vice-presidente de Finanças e Estratégias. Ele agora substitui Fabrício Bloisi, fundador da Movile, que deixou o cargo de CEO do iFood para comandar a Prosus, holding de investimentos em tecnologia da qual a Movile faz parte.

Nos primeiros 90 dias desde que assumiu o cargo, Barreto conta que não tem sofrido com muitas “buchas” na posição. Ele atribui a relativa tranquilidade no cargo à operação do iFood, em que tudo “já estava organizado”. “O iFood é uma empresa em que as pessoas são do bem. Ainda que a gente tenha problemas, brigue, discorde, a coisa rola. Nesse sentido, está sendo fácil. Não estou com uma ‘bucha’, procurando respostas. As nossas apostas são conhecidas. Agora é executá-las e, ao longo do tempo, ir criando novas”, disse.

Sobre os planos de expansão da companhia, o novo CEO argumenta que seu maior desafio é enfrentar a questão da “densidade”. De acordo com Barreto, a empresa tem hoje boa penetração entre as classes A e B do país nas 1,5 mil cidades brasileiras em que atua, mas ainda penetrou pouco na classe C.

O desafio está no tíquete médio dos diferentes públicos: com tíquetes médios mais altos, um volume menor de entregas justifica uma operação maior. “Eu consigo remunerar o meu serviço, pagar o marketing para gerar o tráfego, pagar o entregador e sobrar alguma coisa”, disse o CEO. Em áreas de tíquete menor, é preciso mais volume.

Além disso, a empresa vê a possibilidade de crescer em outras verticais dentro das cidades em que já atua, como junto à área de shoppings. “A expansão é de verticais, não em cidades. O que nós vemos de uma forma bem coberta são supermercados. O que está quase bem coberto são farmácias, e o que está no caminho de estar bem coberto são pet shops”, afirmou. “O que estamos testando – aí volto para o tema dos ‘jet skis’, para que fique bem claro que é um teste – é shopping.”

Se bem-sucedida, a ideia pode consolidar um novo modelo para o iFood similar ao que a finada Delivery Center buscava fazer, conectando lojistas de shopping centers com consumidores por meio de delivery.

Por fim, o executivo negou planos de internacionalização da companhia e de spin-off de produtos em joint ventures com outras organizações, e reforçou que o foco é continuar expandindo a operação no Brasil. Com a chegada de Bloisi na liderança da Prosus, que detém também outras marcas de delivery, como a gigante chinesa Meituan, Barreto vê, no entanto, a possibilidade de internacionalizar a “cultura” e o “modelo de gestão” do iFood.

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