Imunidade Digital: o que é e como impacta na qualidade de software?

Segundo o Gartner, Imunidade Digital é uma estratégia para construir sistemas confiáveis e resilientes, que excedem as expectativas do consumidor e mitigam os riscos operacionais e de segurança para os negócios.

Diante desta definição, a consultoria coloca o conceito como top 10 em tendências estratégicas em tecnologia para 2023, ao lado de iniciativas como Inteligência Artificial Adaptativa, Superapps e Metaverso.

Mas, afinal, como desenvolver ou aplicar a estratégia na prática? A teoria fala sobre construir um Sistema de Imunidade Digital, o que está bastante relacionado ao conceito de qualidade de software. Porém, como juntar as peças deste quebra-cabeça?

Estratégia de Imunidade

A intenção da estratégia de Imunidade Digital é, em suma, reduzir o raio de explosão de um problema. Dessa forma, os times adquirem mais confiança e ferramentas para remediar situações delicadas, com menos dificuldade.

Nesse ponto, entra a resiliência. A Imunidade Digital ajuda a entregar tecnologias mais resilientes, uma vez que o conceito engloba diferentes mecanismos para que uma empresa esteja preparada para enfrentar ameaças, minimizando os riscos associados.

Muito desse raciocínio está contido na ideia de qualidade, afinal uma cultura bem assimilada de testes constantes permite evitar erros que podem se tornar problemas futuros em produtos digitais. É algo como estar sempre pensando no que poderia acontecer com um sistema e não apenas resolvendo ocorrências atuais.

Qual a relação da Imunidade Digital com qualidade de software?

Para o Gartner, até 2025, organizações que investirem em construir Imunidade Digital vão incrementar a satisfação do consumidor, diminuindo downtime em 80%.

Basicamente, investir na satisfação do consumidor é assegurar que ele tenha a melhor experiência possível ao interagir com uma empresa. No mundo digital, essa interação está presente nos diferentes pontos de contato, como sites, aplicativos e, até mesmo, sistemas de loja. Afinal, se um software trava no momento de uma compra em caixa físico, toda uma experiência de consumo pode ser prejudicada. E esse descontentamento pode ser irreversível.

Toda essa preocupação pode ser resumida em evitar o que se pode chamar de frustração digital, que nada mais é do que o sentimento negativo de um usuário quando um produto digital não atende às suas expectativas. De acordo com pesquisa da Cisco AppDynamics, 73% dos consumidores afirmam que não há desculpas para experiências ruins de compra online, não importa quão boas sejam as ofertas. Logo, não há espaço para deslizes.

Quando se fala em deslizes, há que se pensar não somente em avaliações negativas em sites especializados ou comentários nas redes sociais. Obviamente, tudo isso é prejudicial à reputação de uma empresa, mas o impacto diretamente financeiro também é extremamente relevante.

Por isso, prevenção é a palavra e testar deve ser um mantra. Nesse sentido, algumas frentes de trabalho são importantes, a começar pela análise do volume de acessos simultâneos a uma aplicação. Aqui, testes de carga e desempenho são bastante recomendáveis. Com eles, uma empresa pode se preparar para não decepcionar os consumidores em um período ou evento com alto pico de tráfego.

A segunda frente é avaliar o impacto das conexões de internet. No Brasil, essa questão ainda é delicada, em virtude da qualidade e variação da velocidade dos serviços. No entanto, é sempre possível pensar em produtos mais ágeis e adaptados a diferentes realidades.

Por fim, é preciso planejar com cuidado a jornada do cliente, afinal, não encontrar o que se procura em uma aplicação pode frustrar um consumidor da mesma forma que não conseguir sequer acessar um site.

Testar com frequência é chave para a imunidade

No ambiente de qualidade e testes de software, há um conceito chamado de Continuous Testing ou Testes Contínuos. Essa ideia está intimamente ligada à implementação de uma Cultura de Qualidade, uma vez que executar processos de testes em todas as etapas do desenvolvimento de um produto digital não só ajuda a evitar entregas com problemas, mas também gera o comprometimento de diferentes equipes e profissionais no sucesso de um projeto.

Entretanto, desenvolver Imunidade Digital não é um movimento que acontece da noite para o dia. Encontrar problemas que atrapalhem a experiência em produtos digitais é tão frequente que pode ser considerado comum. Porém, esse pensamento não pode ser normalizado, sob pena de colocar toda uma estratégia de imunidade de sistemas em risco.

O conceito de Imunidade Digital, na essência, tem a ver com proporcionar aos sistemas uma forma de mitigar, e até mesmo evitar, bugs que prejudiquem o desempenho, além de, consequentemente, a experiência do consumidor. Investir em testes contínuos é imprescindível para que a balança da estratégia de qualidade fique equilibrada.

Mas que equilíbrio é esse? Testes manuais e automatizados são complementares. Por isso  é importante permear todo o ciclo de desenvolvimento de um produto digital com essa mentalidade. Dessa forma, é possível entender as reais necessidades de um projeto e, com a colaboração de diferentes profissionais, planejar cenários críticos de automatização e outros desafios que serão melhor resolvidos com testes manuais.

Mas por onde começar?

Não é preciso ser uma grande empresa para começar a pensar em construir Imunidade Digital. Como já foi explicado anteriormente, implantar uma cultura de testes contínuos é um bom caminho. Alguns pontos importantes são:

  • Construir um roadmap de imunidade digital;
  • Adotar uma cultura colaborativa entre os times de desenvolvimento, segurança e operações;
  • Desenhar sistemas para Imunidade Digital integrando segurança e confiabilidade em todo o ciclo de vida do desenvolvimento de software.

A Imunidade Digital não apenas prepara uma organização para combater riscos potenciais, mas também usa falhas identificadas em testes como oportunidades de aprendizado. Por isso, tem o potencial de entregar tanto valor para as áreas de Negócios e Tecnologia das empresas.

Implantar um sistema de imunidade digital requer uma mentalidade inovadora, porém todo o processo prova sua relevância ao se colher resultados como experiência e usabilidade aprimoradas e aumento da resiliência de produtos digitais.

 

* Bruno Abreu é co-fundador e CEO da Sofist