Indústria brasileira alerta para prejuízos com tarifa de 50% imposta pelos EUA

Américas

O anúncio do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, de que aplicará tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto gerou reações imediatas de entidades industriais e análises econômicas que projetam impactos negativos relevantes para o comércio exterior e o crescimento do país.

A medida, anunciada por carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 9 de julho, afeta todos os bens brasileiros atualmente isentos ou tributados abaixo de 50% — com exceção dos que já são alvo de tarifas setoriais pela Seção 232 da legislação norte-americana.

Abinee: exportações do setor eletroeletrônico em risco

A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) afirma que a medida poderá inviabilizar as vendas externas do setor para os EUA. No primeiro semestre de 2025, os Estados Unidos foram o principal destino das exportações eletroeletrônicas do Brasil, com alta de 23,1% sobre igual período de 2024 e participação de 29% no total exportado.

Apesar disso, o saldo comercial do setor segue negativo para o Brasil: foram exportados US$ 1,1 bilhão e importados US$ 2,4 bilhões no semestre. Os produtos mais afetados pela tarifa seriam equipamentos elétricos de grande porte, motores, geradores, instrumentos de medição e máquinas de processamento de dados.

A entidade defende que o Brasil busque uma reversão diplomática da medida. “É importante que o diálogo entre os dois países seja preservado”, afirmou a associação.

Findes: Espírito Santo pode perder seu principal parceiro comercial

A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) também manifestou preocupação, afirmando que a tarifa é “extremamente severa” e tomada com base em “interesses político-partidários internos”. Segundo a entidade, os EUA responderam por 28,6% das exportações capixabas em 2024, com US$ 3,06 bilhões exportados e US$ 2,05 bilhões importados.

BTG: impacto vai além do comércio e eleva incerteza regulatória

Em relatório assinado por Iana Ferrão e Luiza Paparounis, o BTG Pactual projeta que a tarifa poderá reduzir as exportações brasileiras em US$ 7 bilhões em 2025 (0,3% do PIB) e US$ 13 bilhões em 2026 (0,6% do PIB). A tarifa efetiva média dos EUA sobre produtos brasileiros subiria de 1,3% para 37,2%, segundo o banco.

Embora a medida atinja exportações de manufaturados como aeronaves, autopeças e bens industriais, o BTG destaca que o maior dano não está no fluxo de comércio, mas sim “na deterioração da relação de parceria histórica entre os dois países e na incerteza gerada para investimentos e regulação”.

XP: tarifa pode reduzir PIB em até 0,5 ponto percentual

A XP Research estima que o PIB brasileiro pode encolher 0,3 ponto percentual em 2025 e 0,5 ponto em 2026 em decorrência da nova tarifa. O valor das exportações perdidas pode chegar a US$ 6,5 bilhões neste ano e US$ 16,5 bilhões no próximo.

Segundo a análise, cerca de 40% das exportações brasileiras aos EUA impactadas pela tarifa são compostas por manufaturados com baixa capacidade de redirecionamento. Itens como carne poderiam ser realocados com menos impacto, mas aeronaves e peças automotivas enfrentariam queda direta.

A XP também projeta que, caso o Brasil retalie, os custos podem subir em setores como transporte aéreo e indústria farmacêutica. O querosene de aviação, por exemplo, tem entre 10% e 15% de sua oferta vinda dos EUA. Nenhuma das análises ainda se debruça sobre os reflexos para o mercado de TICs.

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