O dilema da inovação: máquinas eficientes e humanos exaustos

No Distrito Itaqui, líderes de recursos humanos se reuniram para o Jornada Itaqui, evento que teve como fio condutor a interseção entre inovação e o ser humano nas transformações tecnológicas.
Entre as palestras que trataram do tema, estavam as de Cecília Ivanisk, fundadora e CEO da Learn to Fly, e Guilherme Pereira, diretor de Inovação da Alura + FIAP Para Empresas.
O papel da felicidade no trabalho
Cecília Ivanisk abriu sua apresentação trazendo uma perspectiva menos explorada quando se fala em inovação: a importância do bem-estar emocional no ambiente corporativo. Com base em estudos de psicologia positiva, a executiva argumenta que a felicidade no trabalho não é um luxo, mas um fator determinante para desempenho e engajamento. “Nosso cérebro funciona melhor e por mais tempo quando está feliz”, afirmou.
A pesquisadora diferenciou dois conceitos de felicidade. A hedônica, associada a prazeres momentâneos, e a eudaimônica, ligada a propósito e satisfação duradoura. O desafio das empresas, segundo ela, é criar um ambiente que permita o equilíbrio entre esses dois eixos.
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Dados apresentados reforçaram a urgência dessa discussão: 77% dos empregados já experimentaram sintomas de burnout e 60% se declararam emocionalmente desconectados do trabalho. A solução, segundo Cecília, não passa apenas por benefícios superficiais, mas por uma reestruturação cultural. “Se queremos times produtivos, precisamos entender que pessoas prosperam em ambientes que reconhecem suas forças e promovem desenvolvimento contínuo.”
A emergência da passividade: reflexões do SXSW
Guilherme Pereira, que participou do SXSW, trouxe insights do evento que se conectaram diretamente com as preocupações levantadas por Cecília. Para ele, o maior risco da ascensão da inteligência artificial não é a substituição de empregos, mas a passividade humana diante da automação. “Não vamos perder nossos empregos para a IA, mas vamos perder nossa autonomia”, afirmou.
A tecnologia, segundo Pereira, está reduzindo a necessidade de tomada de decisões, tornando os profissionais mais dependentes de respostas automatizadas. O fenômeno já pode ser observado em ações cotidianas: um usuário comum gasta, em média, 50 minutos por semana decidindo o que assistir e 150 minutos escolhendo o que comer. “A IA está preenchendo os espaços que antes exigiam pensamento, criatividade e experimentação”, alertou.
No contexto corporativo, isso se traduz na adoção acelerada de agentes autônomos de IA. Empresas já os utilizam para realizar atividades que vão muito além de um chatbot: analisam documentos, propõem soluções para problemas complexos e gerenciam fluxos de trabalho sem supervisão humana. “Você ainda enxerga sua equipe como apenas um grupo de humanos?”, provocou Pereira. “Talvez você já tenha mais colegas artificiais do que imagina.”
Se por um lado esses avanços trazem ganhos de eficiência — 72% das empresas que já adotaram agentes de IA relatam benefícios —, por outro, impõem desafios para os profissionais. O conceito de “skill flux” — a rápida obsolescência das habilidades — tornou-se um mantra. O tempo de validade de um conhecimento técnico caiu de 30 anos para menos de dois. “Se você começou um curso universitário há dois anos, ele foi projetado para um mundo que já não existe mais”, ironizou Pereira.
Entre a emergência e a inércia
O Jornada Itaqui mostrou que a transformação digital está longe de ser apenas uma questão de adoção tecnológica. Ao contrário, ela impõe dilemas sobre o papel do ser humano nesse novo cenário. Se, por um lado, a palestra de Cecília reforçou que o bem-estar emocional é essencial para um ambiente corporativo sustentável, Pereira destacou como a dependência da tecnologia pode comprometer nossa capacidade criativa.
No SXSW, Melissa Valentine, da Stanford Human-Centered AI, fez um alerta que foi rememorado por Guilherme Pereira: “As regras que guiaram a humanidade até aqui estão ruindo, e não temos novas regras para substituí-las.”
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