A era da inteligência artificial e a “bolha de sabão” empresarial

Por Stéfano Venturato, head de inovação e novos Negocios da TalentX Digital
Imagine que você está em uma festa cheia de executivos, investidores e gente que adora soltar buzzwords (expressões populares) sem compromisso com a realidade. O coquetel está servido, e a conversa gira em torno de um único tema: Inteligência Artificial. “Nosso novo produto usa machine learning para otimizar a eficiência operacional”, diz um CEO com cara de quem mal sabe configurar o Wi-Fi de casa. Outro executivo emenda: “com a nossa solução baseada em deep learning, estamos revolucionando o setor”. Mas a verdade é que, se você apertar um pouco, descobre que a IA deles não passa de um “autopreenchimento” glorificado em Excel.
Bem-vindo à curva de hype de Gartner, aquele ciclo previsível onde todas as grandes inovações passam por um pico de expectativas infladas antes de despencar no vale da desilusão. Se você é do time que já viu esse filme antes, sabe que estamos vivendo exatamente esse momento com a IA: todo mundo fala, todo mundo promete, mas no fim, pouca gente realmente entrega.
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A grande ilusão da inteligência artificial
Se você assistiu a “Blade Runner” ou leu qualquer ficção científica do século XX, pode ter imaginado um futuro onde a IA estaria transformando o mundo em um cenário cyberpunk de alto nível. No entanto, o que temos é um LinkedIn lotado de posts dizendo “como a IA transformará sua empresa” enquanto, nos bastidores, muita gente só usa o ChatGPT para escrever e-mails e fingir produtividade.
O fenômeno não é novo. Lembra do boom das startups de blockchain? Todo mundo queria “descentralizar tudo”, e, agora, o que temos são NFTs esquecidos e criptomoedas que prometiam revolucionar o sistema financeiro mas que acabaram virando um cassino digital. A IA está indo pelo mesmo caminho: um monte de gente tentando “vender vento” e pouquíssimos avanços reais sendo aplicados de forma consistente.
Empresas falando demais, mas fazendo de menos
O que se vê hoje é uma corrida desenfreada para parecer inovador. Os C-Levels descobriram que incluir “IA” na estratégia da empresa atrai investidores e que impressiona o conselho administrativo. O problema é que, na maioria dos casos, a “IA” deles se resume a um chatbot irritante no site ou um algoritmo meia boca de recomendação de produtos que sugere algo que você já comprou.
Você pode pensar: mas a IA realmente não tem impacto? Claro que tem! Empresas que implementam IA de forma séria, com estratégia clara e objetivos definidos, estão colhendo frutos. A questão é que essas são minoria. O que temos é um oceano de PowerPoints vazios e de empresas que falam muito sobre IA, mas no fundo usam automação básica e scripts antigos que rodavam desde 2015.
O vale da desilusão e o futuro
O próximo passo é inevitável: em algum momento, a “bolha” do hype estoura. A maioria das empresas vai perceber que, na verdade, não têm necessidade real de IA ou que é muito caro treinar modelos complexos. Como sempre, alguns gigantes do setor sobreviverão e seguirão inovando de verdade, enquanto os oportunistas mudarão o discurso e partirão para a próxima moda, como o metaverso. Alguém ainda lembra dele?
E você? Vai continuar acreditando em tudo que falam ou vai se tornar aquele sujeito na festa que em vez de embarcar na conversa fiada, apenas sorri de canto e espera para ver quem realmente está construindo algo relevante? A escolha é sua, mas uma coisa é certa: da próxima vez que alguém disser: “nosso sistema usa IA para transformação digital”, faça a pergunta que realmente importa: “Isso é sério mesmo ou é só espuma?”.
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