Claudio Dantas: Intervenção na Abin?
Descartado por Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça e da Segurança Pública, o jornalista Ricardo Cappelli pode acabar no comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Se o lobby der certo desta vez, claro. A pressão pela troca do delegado Luiz Fernando Corrêa começou, ironicamente, por meio da própria Polícia Federal — ainda subordinada a Dino –, que, em relatório ao Supremo Tribunal Federal, acusou a atual gestão de prejudicar as investigações. Embora tenha divulgado sua decisão e a manifestação da Procuradoria Geral da República, o ministro Alexandre de Moraes manteve em sigilo do documento da PF. Isso não impediu que ocorresse o vazamento seletivo de trechos que falam em “possível conluio de parte dos investigados (da gestão anterior) com a atual alta gestão da Abin, cujo resultado causou prejuízo para a presente investigação, para os investigados e para a própria instituição”. Uma acusação grave. Não se sabe, contudo, quais elementos prova a corroboram ou quais integrantes da cúpula estariam envolvidos.
Corrêa foi nomeado pelo próprio Lula, com quem tem relação de confiança e a quem serviu por dois mandatos, como secretário nacional de Segurança Pública e diretor-geral da Polícia Federal. O atual diretor da PF, Andrei Passos, também se tornou bastante próximo do presidente e foi mantido por ele no cargo, mesmo com a posse de Lewandowski no próximo dia 1 de fevereiro. Nesse cenário, o mais provável é que Corrêa entregue a cabeça de seu adjunto, o delegado Alessandro Morretti, que foi diretor de Inteligência da PF no governo de Jair Bolsonaro. Nesse caso, Cappelli teria de se contentar em ser novamente o número 2, o que talvez seja o suficiente para mantê-lo na mídia, de olho em eventual disputa pelo governo do Distrito Federal, do qual foi interventor após o 8 de janeiro. Em seu currículo, o jornalista também pode exibir a interinidade de duas semanas no comando do Gabinete de Segurança Institucional.