Ipês e jequitibás correm risco de desaparecer com avanço das mudanças climáticas

Espécies emblemáticas da vegetação brasileira, como ipês e jequitibás, estão ameaçadas pelas mudanças climáticas. Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela que essas árvores apresentam baixa capacidade de adaptação às novas condições de temperatura e precipitação, o que pode levar ao seu desaparecimento de biomas onde hoje ainda são comuns. A pesquisa indica que até 2060, a Caatinga pode perder boa parte das espécies nativas. Em cerca de 40% do bioma, as árvores seriam substituídas por vegetação rasteira, com impactos diretos nos serviços ecossistêmicos, como o sequestro de carbono, a fotossíntese e a regulação do microclima. Além da Caatinga, o Cerrado — que já perdeu aproximadamente 70% da sua cobertura vegetal original, segundo levantamento do projeto MapBiomas — enfrenta um processo semelhante de degradação. A perda de vegetação impacta diretamente a biodiversidade: estima-se que um terço das espécies do Brasil vive nesse bioma. No caso da Amazônia, as projeções também preocupam. De acordo com estudos publicados na Revista Pesquisa Fapesp, entre 31% e 37% da diversidade arbórea da região pode desaparecer até meados do século, em decorrência do aumento das temperaturas e do prolongamento das estações secas.
As alterações climáticas intensificam estresses hídricos, reduzem a capacidade de regeneração natural das florestas e alteram a composição das espécies. Árvores com ciclo de vida longo, como os jequitibás, são particularmente vulneráveis, pois demoram décadas para atingir a maturidade e têm baixa taxa de reprodução em ambientes degradados. Para os pesquisadores, conter o avanço desse cenário exige preservação das áreas remanescentes, restauração ecológica em grande escala, redução de emissões de gases de efeito estufa e adaptação dos sistemas produtivos às novas realidades climáticas. Mais do que um problema ecológico, a possível extinção de espécies como o ipê representa uma perda cultural, simbólica e econômica para o país. Árvores que ajudam a regular o clima, a proteger o solo e a manter a qualidade da água, são também parte da identidade nacional.