iPhone “Made in USA” pode custar até US$ 3,5 mil com tarifas e produção local, estimam analistas

A ideia de produzir iPhones totalmente nos Estados Unidos voltou ao centro do debate após a nova rodada de tarifas implementadas pelo governo Trump em abril. Embora a Casa Branca defenda que o país tem mão de obra e infraestrutura para viabilizar essa mudança, especialistas ouvidos pela CNBC consideram a proposta, na melhor das hipóteses, altamente custosa, e, na pior, impossível.
Analistas financeiros já começaram a calcular o impacto de um iPhone “Made in USA”. Segundo Wamsi Mohan, do Bank of America, apenas o custo com mão de obra aumentaria o preço do iPhone 16 Pro em 25%, saltando de US$ 1.199 para cerca de US$ 1,5 mil.
Já Dan Ives, da Wedbush, foi mais direto: estimou que um iPhone fabricado nos EUA poderia custar até US$ 3,5 mil, caso a Apple decidisse mover 10% de sua cadeia de fornecimento para território norte-americano, o que exigiria um investimento de US$ 30 bilhões ao longo de três anos.
Leia também: Segurança cibernética não pode ser uma semi-função da TI, defende Aiqon
Atualmente, mais de 80% da produção da Apple ocorre na China, e esses dispositivos estão sujeitos a uma tarifa total de 145% ao entrarem nos EUA, após as novas medidas de Trump. A situação pressiona a Apple, mas não muda um fator central: quase todos os componentes de um iPhone continuam sendo produzidos na Ásia, dos chips da TSMC em Taiwan às telas da LG e Samsung na Coreia do Sul, sem contar os milhares de fornecedores chineses.
A Apple até tenta diversificar a produção. A fábrica da Foxconn no Brasil, aberta em 2011 para evitar impostos de importação, segue em operação e deve produzir parte do iPhone 16, segundo reportagens locais. Mas a maior parte das peças ainda é importada da Ásia. A tentativa de levar a produção para os EUA com a instalação da Foxconn em Wisconsin foi um fracasso: o projeto prometia criar 13 mil empregos, mas entregou pouco mais de mil, segundo a Reuters.
Mesmo se a montagem final ocorresse nos EUA, a falta de mão de obra qualificada segue sendo um entrave. Em 2017, o CEO da Apple, Tim Cook, explicou que o número de engenheiros de ferramentas nos EUA era tão pequeno que mal encheria um campo de futebol, enquanto na China, centenas desses profissionais podem ser reunidos com facilidade.
Além disso, a estrutura montada pela Foxconn na China, com dormitórios, refeitórios e transporte interno, permite a contratação de dezenas de milhares de trabalhadores em ciclos sazonais, algo que não existe nos EUA. Durante o lançamento do iPhone 16, por exemplo, o salário médio de um operário da Foxconn era de US$ 3,63 por hora. Na Califórnia, o mínimo é de US$ 16,50.
Apesar disso, Trump segue pressionando por uma reindustrialização do setor. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, declarou à CBS que “milhões de pessoas parafusarão iPhones nos EUA”, sinalizando um desejo de trazer toda a cadeia produtiva para dentro do país.
Mas especialistas continuam céticos. Laura Martin, da Needham, resumiu em entrevista à CNBC. “Isso não é uma possibilidade real.” Jeff Fieldhack, da Counterpoint Research, foi além e classificou a ideia como “sonhadora”.
A Apple, por sua vez, mantém uma abordagem diplomática. Tim Cook tem participado de eventos oficiais, como a cerimônia de posse de Trump e visitas a fábricas em Austin, no Texas, como a da produção do Mac Pro em 2019. Segundo analistas da Morgan Stanley, é mais provável que a empresa aposte em fabricar itens de menor volume nos EUA, como HomePods ou AirTags, para agradar o governo e, eventualmente, conseguir isenções tarifárias.
Até o momento, a Apple não se pronunciou oficialmente sobre o impacto direto das tarifas ou sobre um possível plano para produzir iPhones em solo americano. Mas, com as atuais barreiras fiscais e estruturais, tudo indica que o iPhone “vermelho, branco e azul” ainda está muito distante da realidade.