Joseval Peixoto transformou o milésimo gol de Pelé em poesia pelas ondas da Jovem Pan 

Atenção Brasil, bola na marca fatal!”. Foi assim que Joseval Peixoto deu início a uma das narrações mais icônicas da história do rádio no Brasil. O grande nome da Jovem Pan começava a descrever o lance que resultaria no milésimo gol de Pelé, em 19 de novembro de 1969, no Maracanã. O Rei do Futebol conseguiu a marca histórica na partida contra o Vasco da Gama. Na descrição do lance, Joseval faz poesia: “Tenta esconder-se na humildade que o trouxe criança um dia de Bauru para o palco também humilde da Vila Belmiro. Humilde demais para a grandeza do futebol que lá ele apresentou em um teatro pequeno, mas de um artista sóbrio, grande, enorme demais, torcedor do Brasil.” 

Em 1999, eu era estagiário na Rádio Eldorado e resolvi escrever um texto sobre o milésimo de Pelé. Afinal, o gol estava completando 30 anos. Perguntei para o meu chefe, Adhemar Altieri, se eu poderia usar a narração de Joseval Peixoto. Ele então ligou para a Jovem Pan e pediu autorização para o diretor de jornalismo, José Carlos Pereira, que, prontamente, atendeu à solicitação. Guardo até hoje na memória o texto desta reportagem: 

Há trinta anos, um Rei que se cansou de balançar as redes adversárias vivia uma aflição: a de justamente marcar um gol. O nervosismo, no entanto, tinha um motivo, não seria um lance qualquer. Pelé queria chegar ao milésimo e vinha perseguindo a marca durante todo o mês de novembro de 1969. Ele atingiu o número cabalístico no maior estádio do mundo, o Maracanã, na partida entre Santos e Vasco da Gama. Foi de pênalti. O goleiro do time carioca, o argentino Andrada, pulou no canto esquerdo e, por pouco, não defendeu. Mesmo com as pernas tremendo, Pelé conseguiu demonstrar tranquilidade: confira na narração de Joseval Peixoto.” 

A conclusão do texto foi a seguinte: “Eram mil gols, mil comemorações, mil socos no ar, mil vezes goleiros batidos…mil vezes Pelé!”. Confesso que essa parte eu tinha ouvido do brilhante jornalista Michel Laurence. Em 2019, quando o milésimo de Pelé fez 50 anos, pedi a Joseval Peixoto que lesse o mesmo texto em uma reportagem especial exibida no Jornal da Manhã

Voltando a 1969, o Rei dedicou o gol às crianças pobres, o que gerou muitas críticas na época: “Nesse momento de viva emoção para mim, afirmo que devo tudo o que sou ao povo brasileiro. E faço um apelo para que nunca se esqueçam das crianças pobres, dos necessitados e das casas de caridade. Vamos defender os pobres, vamos defender as criancinhas necessitadas. Vamos ajudar todo mundo, pelo amor de Deus. O povo brasileiro não pode esquecer das crianças”. Encerro esse “Memória da Pan” com o gol narrado por Joseval Peixoto e a reportagem levada ao ar em 2019. 

Milésimo de Pelé: Joseval Peixoto