IA avança no Brasil, mas falta de infraestrutura e preparo travam transformação digital, aponta Lenovo

João Bortone Lenovo IGS

Apesar de 68% das empresas brasileiras já utilizarem inteligência artificial (IA), a transformação digital com base na tecnologia enfrenta entraves importantes, como a falta de infraestrutura adequada, carência de especialistas e problemas na qualidade dos dados. É o que mostra o CIO Playbook 2025, estudo conduzido pela IDC em parceria com a Lenovo, divulgado nesta segunda-feira (20) durante almoço com jornalistas em São Paulo.

Segundo o presidente e gerente-geral da Lenovo ISG para América Latina, João Bortone, o avanço da IA no Brasil é promissor, mas não está livre de armadilhas. “IA não é mais fumaça, é realidade. E o CIO precisa encampar essa agenda.

Ainda temos uma parcela significativa de empresas que sequer começou”, diz, referindo-se aos 36% dos CIOs que não estão olhando para a tecnologia, dado que, em comparação com os EUA, onde a taxa de adoção é muito mais alta, ainda surpreende. “Estamos diante de uma onda irreversível. A questão agora não é mais se vamos usar IA, mas como ela realmente vai transformar o negócio”, provoca.

Entre hype e prática

A pesquisa com 500 líderes de tecnologia da América Latina revela que, embora mais da metade das empresas no Brasil já esteja implementando IA generativa (53% pretendem intensificar o uso nos próximos 12 meses), boa parte das aplicações ainda se concentra em áreas específicas, como TI, desenvolvimento de software, RH e finanças. Apenas 4% disseram usar IA em toda a companhia.

Na prática, segundo ele, a tecnologia começa a aparecer em soluções cada vez mais concretas: de sistemas que identificam tumores de pulmão a drive-thrus que reconhecem preferências dos clientes e ajustam os pedidos automaticamente. “Veremos um crescimento exponencial da inferência — o uso da IA em tempo real, nos bastidores da operação”, explica Bortone.

Mas nem todos estão prontos. “Há empresas com medo de adotar IA por achar que vai perder o emprego. Precisamos de muita educação”, completou, comparando o momento atual ao período em que empresas proibiam o uso do YouTube, temendo perda de produtividade. “O comportamento humano é o mesmo: medo do novo paralisa.”

Soberania, governança e o futuro da IA na América Latina

O estudo também mostra que 86% das empresas da região já possuem ou estão criando políticas de governança, risco e conformidade (GRC) voltadas para IA. Esse cuidado é essencial para garantir ética e segurança no uso da tecnologia, além de preparar o terreno para ganhos sustentáveis no longo prazo.

Outro ponto de atenção levantado por Bortone é a soberania dos dados. “Nem tudo pode ir para uma nuvem que não sabemos onde está. É preciso organização e infraestrutura local. Estamos, por exemplo, finalizando a última fase de um projeto estratégico de HPC com a Petrobras, um dos maiores da América Latina”, comenta.

O executivo destacou ainda o surgimento das chamadas “fábricas de IA”, estruturas dedicadas ao desenvolvimento interno de soluções baseadas em inteligência artificial. Segundo ele, esse é um caminho natural para empresas de grande porte, que já contam com times multidisciplinares e especialistas focados exclusivamente no tema.

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