Lenovo lança computadores que permitem o uso de línguas indígenas brasileiras


População tem dificuldade em usar os idiomas escritos sem os caracteres especiais disponíveis nos teclados, o que agrava o risco de extinção das línguas desses povos. Lenovo inclui idiomas indígenas Kaingang e Nheengatu em seus notebooks
Divulgação / Lenovo
A Lenovo anunciou que começou a vender os primeiros notebooks com duas opções de idiomas indígenas falados no Brasil, o Kaingang e o Nheengatu.
Segundo a empresa, os modelos começaram a ser comercializados no final do ano passado e fazem parte das linhas IdeaPad e Yoga, usando o sistema operacional Lux.
Na terça-feira (17), notebooks da linha IdeaPad foram encontrados disponíveis para compra a partir de R$ 1.847,99 e da linha Yoga a partir de R$ 4.499,99, na loja oficial da empresa.
A iniciativa faz parte do projeto de Revitalização de Línguas Indígenas Ameaçadas de Extinção, lançado pela Motorola, empresa de mobilidade do Grupo Lenovo, que, em 2021, incluiu os dois idiomas em modelos de smartphones com Android 11.
A empresa disse que espera em breve disponibilizar outros idiomas, como o Cherokee, falado por nativos da América do Norte, que foi incluído nos smartphones da Motorola em 2022.
Além da inciativa da Motorola e da Lenovo, existem alguns teclados virtuais que podem ser baixados contendo caracteres de idiomas indígenas. Confira ao final da reportagem.
Uma língua indígena pode desaparecer a cada duas semanas, o que resultaria na extinção de aproximadamente 3 mil idiomas até o final do século, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Para evitar que isso continue acontecendo, as línguas indígenas têm que ampliar o seus espaços e o uso delas de forma escrita, afirma o doutor em linguística e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Wilmar D’Angelis, que auxiliou o projeto.
O professor explica por que esses dois idiomas foram escolhidos:
O Kaingang é a terceira língua indígena mais falada no Brasil, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Guarani, idioma mais falado, foi descartado por contar com diferentes ortografias e dialetos conforme as regiões do Brasil, sendo mais difícil fazer um teclado universal.
O Nheengatu, apesar de não ser uma das línguas mais faladas, é considerado o idioma oficial da Amazônia, pois foi introduzido pelos colonizadores e jesuítas no século 19, que estavam acompanhados do povo Tupinambá. Ao longo dos anos, muitas comunidades indígenas foram substituindo seus idiomas pelo Nheengatu.
Na geografia, a fluência desses dois idiomas está divido da seguinte maneira:
Kaingang: é falado por mais de 30 mil pessoas distribuídas nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e região oeste do estado de São Paulo;
Nheengatu: é falado por cerca de 14 mil pessoas na região amazônica brasileira, colombiana e venezuelana.
Calendário em Nheengatu no sistema Lux da Lenovo
Divulgação / Lenovo
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Improviso nos aplicativos de conversa
Sem teclados oficiais nos idiomas indígenas, os jovens, principalmente, têm que improvisar na hora de conversar pelos aplicativos de mensagens: ou aderem ao português, ou enviam áudios, ou tentam substituir os seus caracteres.
No caso do Nheengatu, por exemplo, a grafia inclui um “~” acima da letra “Y”, na falta dessa possibilidade, as pessoas têm usado o trema, ficando assim: “ÿ”, comenta D’Angelis.
Sem a possibilidade de se manterem atualizadas, essas línguas vão sofrendo alterações.
Um dos motivos de correrem risco de extinção, como todos os idiomas indígenas, é essa pressão por falar a língua portuguesa.
Além do uso na internet, há a exigência de se saber o idioma para arranjar um emprego, ele é o principal ensinado, inclusive, em escolas indígenas e também para qualquer comunicação fora da aldeia, explica o professor.
Opções na área de trabalho na lingua Kaingang no sistema Lux da Lenovo
Divulgação / Lenovo
Teclados digitais indígenas
Além da inciativa da Motorola e da Lenovo, existem alguns teclados virtuais que podem ser baixados contendo caracteres de idiomas indígenas, o próprio professor D’Angelis já desenvolveu um, que incluía também uma enciclopédia de verbetes.
No ano passado, um grupo de jovens pesquisadores do Amazonas lançou o teclado digital “Linklado”. O software reúne caracteres especiais e diacríticos de mais de 40 línguas indígenas da Amazônia.
Os idealizadores do “Linklado” são os estudantes Samuel Benzecry, da Universidade de Stanford (EUA), e Juliano Portela, que cursa o ensino médio em Manaus. Juntos, eles desenharam o layout e desenvolveram o protótipo do teclado digital para o Windows e android.
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