Lula e Bolsonaro estão cada vez mais longe da pacificação

“Duplipensar Dialético”? Talvez seja necessário para entender a realidade, com ironia bem humorada e seriedade implacável. Atingir a síntese verdadeira das situações é missão quase impossível. O mundo se rearranja. A Globalização cada vez mais mostra sua face descompromissada com a Liberdade e a Legalidade com Legitimidade. A narrativa predominante tende ao autoritarismo, só que fingindo que mantém a aparência “democrática”. O clima é de guerra, de extremismo. A multipolaridade de forças nunca foi tão complexa. Os Estados Unidos da América vivem uma imensa contradição entre a influência de um sistema de Estado estruturalmente fascista em conflito com o modelo de República Constitucionalista instituído por seus “pais fundadores”. É o efeito colateral do Globalitarismo. Retrocedemos na civilização. O negócio parece ser dividir a humanidade por riqueza, raça, cor de pele, gênero, orientação sexual, postura social, preferência política e visão econômica. Tudo é motivo para briga, em escalas pessoal, local, regional e planetária. Dureza.

O Brasil reflete essa confusão global. A recente eleição presidencial mostrou e comprovou que estamos divididos, radicalizados, extremados. A perspectiva de pacificação interna é remota. A promessa fica só na teoria e em algumas narrativas políticas. Na prática, os detentores do poder apostam na continuidade do conflito. Acreditam que o clima de confronto beneficia o sistema de controle (principalmente social), garantindo a preservação do espaço político. Nos dois primeiros meses de (novo?) governo (a dúvida cabe porque o PT está em seu quinto mandato presidencial), o Presidente Lula da Silva e seus principais assessores jogaram muito tempo fora fazendo permanentes referências (e críticas) a Jair Bolsonaro. O ex-Presidente, que andava calado, descansando, cuidando da saúde e fazendo articulações nos Estados Unidos, emite sinais de que pode disputar a próxima eleição presidencial (no distante 2026). Ou seja, um compra a briga com o outro. Abre-se espaço para uma outra candidatura além dos pólos Lulistas e Bolsonaristas? Eis a questão que ainda aguarda resposta certa. Talvez no médio e longo prazos.

O momento é estranho. A guerra de comunicação se amplia. Um adversário (na verdade, inimigo político) trabalha para consolidar a imagem do outro como “desonesto”. Essa insana competição é baseada em fatos, factóides e mentiras. O PT tem maior dificuldade na missão, por causa da Lava Jato, que seus caríssimos advogados conseguiram transformar em “Vaza Jato”, para anular vários processos, condenações e conseguir o milagre de o Supremo Tribunal Federal reabilitar Lula politicamente (o que lhe permitiu disputar a Presidência para tomar o poder de Bolsonaro). Agora, a intenção é forçar a barra midiática e política para que o Tribunal Superior Eleitoral investigue, processe e condene Jair Bolsonaro, tornando-o inelegível. Uma eventual prisão de Bolsonaro (por qualquer motivo) pode não ser uma boa alternativa, porque pode transformar o “Mito” em “mártir”.

Bolsonaro é candidato (a alguma coisa) em 2026? Muito cedo para essa previsão ou afirmação. Claro que Bolsonaro pode fazer o que bem quiser. Mas tudo vai depender do processo de fritura política que promete (e tende a) se intensificar. A Juristocracia pode impor um “impedimento” às ambições eleitorais de Bolsonaro. A aposta do PT é que ele ficará inelegível. De olho no fator de risco Bolsonaro, Lula já fez discursos sugerindo que pode disputar sua própria reeleição (mesmo quando estiver com 81 anos de idade). Acontece que tudo isso é prematuro demais. Por enquanto, duas coisas se apresentam no horizonte imediato. Primeiro, Lula tem de governar (ou “cuidar do povo”, como ele prefere dizer) e comprovar que faz isso com competência e honestidade. Segundo, no meio do caminho vem a eleição municipal de 2024. Bolsonaro se credencia como o grande cabo eleitoral (ficando ou não hipoteticamente inelegível). PT e PL precisam conquistar hegemonia na maioria das 5.570 Prefeituras e Câmaras Municipais do País. O PT tem a máquina federal e pretende usar diferentemente de Bolsonaro – único Presidente na Nova República que não conseguiu se reeleger.