Lula e Haddad batem cabeça, e quem sai machucado é o Brasil

Para surpresa de ninguém, Lula confessa ao país que aquela história de zerar o déficit com R$ 168 bilhões era cascata, conversa mole pra boi dormir. Além dos petistas crentes, que depositam muita fé nos dogmas lulistas, todo mundo sabia que esse plano não sairia do papel. Ficou claro nos últimos meses que, com a constante queda na arrecadação, não haveria aumento de imposto que conseguisse compensar a sanha gastadora do governo. Como cortar gastos para Lula funciona como a cruz para o demônio, só haveria um caminho para solucionar o problema, mexer ainda mais no bolso do contribuinte.

O problema é de magnitude tão descomunal que, nem virando cada brasileiro de cabeça para baixo para surrupiar seus últimos tostões, haveria grana suficiente para solucionar a crise. Por isso, só restou ao governo confessar que déficit zero é utopia, um grande sonho de verão. Na sexta-feira, 27, o presidente, com cara de quem tivesse sido atropelado por uma grande surpresa disse o que já era sabido: “Dificilmente o governo cumprirá a meta de zerar o déficit primário em 2024”.  Depois tentou capitalizar em cima da notícia ruim: “Tudo o que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai cumprir [SIC]. O que eu posso dizer é que ela não precisa ser zero, o país não precisa disso”.

Será que não precisa mesmo? Estourar as contas já não deu certo em governos passados e não vai dar certo agora. É matemática superior do primeiro ano primário. E achando que seria convincente seguiu: “Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para esse país”.  Também, como não poderia deixar de ser, sobrou até para o “bandido” do mercado: “Eu acho que muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que ele sabe que não vai ser cumprida”. E para encerrar, a pá de cal: “E se o Brasil tiver um déficit de 0,5%, de 0,25%, o que é? Nada”. Çei!

Espera aí. Quem estabeleceu essa meta foi o próprio governo, sabendo que não seria factível. E se esse percentual é tão irrisório assim, bastaria fazer alguns cortes para atingir a meta. Ops, veio na ponta da língua agora: “e quando atingir a meta, dobramos a meta”. O povo queria saber: como fica o excelentíssimo Ministro Haddad? Ao ser contrariado pelo chefe, ficou desmoralizado e não poderia deixar barato. Precisaria encontrar argumentos para tentar explicar o inexplicável. Foi aí que o caldo entornou de vez. Estava na cara que não só o mercado, mas também toda torcida flamenguista e corintiana, queriam saber o que ele achava das declarações de Lula. Afinal, sua posição também havia mudado, ou continuaria afirmando que o déficit seria zerado?

Depois de pensar, pensar, pensar, e quem sabe até recorrer a alguma velha entrevista de seu antecessor Paulo Guedes para organizar o raciocínio, sem que, aparentemente, ninguém o forçasse, convocou uma coletiva de imprensa. Um de meus professores na faculdade de Economia estava errado. Ele dizia: “se algum dia estiverem em situação constrangedora por causa de resultados, basta dizer que Economia não é matemática pura e exata. Ela faz prognósticos que para dar certo precisam de “ceteris paribus”. Ou seja, desde que tudo permaneça como está. No caso de Haddad essa tese do velho mestre não funcionou.

Os jornalistas foram não só com as perguntas, mas também com a faca nos dentes. Não estavam dispostos a engolir qualquer ladainha. As respostas precisariam ser convincentes. O próprio “mercado ganancioso” queria informações que pudessem tranquilizá-lo. Afinal, quem manda na Economia do país, Lula ou Haddad? Sua excelência não apenas não sossegou os desassossegados como os desassossegou ainda mais. Ao contrário de como tem agido desde o início do governo, quando demonstra equilíbrio em seu comportamento, dessa vez estava irritadiço, transtornado.

Percebendo que suas tergiversações não estavam enganando ninguém, pois a cada explicação fugidia, os arguidores voltavam à carga exigindo respostas mais transparentes, partiu para o deboche. Passou a tratar a jornalista que o cercava com arguição contundente de “querida”. Ops, de novo me veio à ponta da língua um: “tchau, querida”. Estava tão destemperado que ao ser indagado sobre determinado dado, mandou a jornalista “fazer o seu trabalho”. Emparedado, sem ter como responder se a meta de déficit seria ou não preservada, sentindo-se nas cordas, abandonou a entrevista. Agora sim, “tchau, querido”. O que esperar desse episódio traumático para o país? O ministro vai abraçar o discurso do chefe, ou mostrar que quem manda no seu pedaço é ele? Alguém tem dúvida de como essa história vai terminar? Como poderá desejar vencer as eleições em 2026 se mostrando um poste?! Siga pelo Instagram: @polito.