Lula errou ou fez jogada de mestre ao escolher Gleisi Hoffmann para SRI?

Segundo notícia veiculada pelo jornal A Gazeta do Povo, publicada há cerca de um ano e meio, Bolsonaro e seus seguidores foram achincalhados de forma agressiva: “provocadores, golpistas, valentões, sonegadores, muambeiros, bandidos, trambiqueiros, assassinos, milicianos, extorquidores, ladrões de joias e genocidas”.
Até aí, tudo bem. Adversários, vira e mexe, se estranham nos embates políticos. O fato curioso nessa história, todavia, é que essas palavras foram proferidas por Gleisi Hoffmann. Também não seria nada demais se ela não tivesse sido escolhida por Lula para comandar a Secretaria de Relações Institucionais no lugar de Alexandre Padilha, que assumiu o Ministério da Saúde.
O cargo é para articular, não para confrontar
Nessa função, ela terá de articular com o Congresso para dar andamento aos projetos do governo e negociar a distribuição de emendas parlamentares. Por isso, foi uma surpresa a notícia da sua indicação. Conhecida por seu temperamento forte e briguento, não será fácil para ela romper as resistências, inclusive dentro do próprio partido.
Fiz uma pesquisa para ver o que os comentaristas políticos acharam da escolha. Não encontrei uma única opinião favorável, a não ser entre petistas raiz ou ocupantes de cargos no governo – que aplaudiriam qualquer decisão de Lula.
Companheiro de todas as horas
Um deles, “companheiro na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”, Jaques Wagner, deu aval à decisão do presidente. Enalteceu a experiência da deputada paranaense e destacou sua habilidade nas articulações políticas e alianças partidárias. Outro que não poupou elogios foi o vice-presidente, convertido ao lulismo pelo milagre do poder, Geraldo Alckmin.
Esses não contam, pois aprovariam qualquer nome indicado pelo chefe do Executivo. O importante é analisar os comentários daqueles que estão fora desse ambiente caracterizado pelo oba-oba. Gostaria de ouvir a turma que aplaudiu numa conversa à meia-luz, saboreando uma boa garrafa de vinho.
Lula não tem conseguido articular
A pergunta que fazem é esta: afinal, com tanta experiência política, tendo enfrentado desafios de todo tipo, por que Lula foi escolher uma “encrenqueira” para cuidar da interlocução com os parlamentares? Considerando ainda que, nesse quesito, o governo vai de mal a pior. Vamos analisar de fora por que Lula resolveu remar contra a maré. Parece um paradoxo, pois, exceto seu círculo mais próximo, ninguém parece entender essa escolha.
Um currículo de respeito
Gleisi respira política desde que nasceu. Ainda nos bancos escolares, atuou e se destacou como líder estudantil no Paraná. Sua ascensão foi vertiginosa. Venceu as eleições para o Senado em 2010 e, no ano seguinte, comandou a Casa Civil no governo de Dilma Rousseff, permanecendo lá até 2014.
Após retornar ao Senado, lutou como uma leoa para tentar impedir o impeachment de Dilma. Consciente de que o desgaste do PT talvez dificultasse sua reeleição como senadora em 2019, optou por disputar uma vaga na Câmara Federal. Foi reeleita em 2022.
As competências exigidas são outras
Assumiu a presidência nacional do partido em 2017 e nunca esmoreceu, nem nos momentos mais delicados, como no processo da Lava Jato e na prisão de Lula. Quem analisa seu currículo por esse prisma conclui que o presidente não poderia ter alguém com perfil mais adequado para o cargo.
Só que, nessa função, o que mais conta é a capacidade de conversar, negociar e interagir com os parlamentares. E o histórico da deputada não é dos melhores. Como disse o poeta francês Henry Bataille: “O passado é o segundo coração que bate em nós”. Se seu comportamento é vociferante, irascível e explosivo, o que levou Lula a optar pelo seu nome?
Experiência e lealdade como requisito
Além da experiência política e da lealdade demonstrada ao longo dos anos, não há outro motivo aparente que sirva como argumento. Uma explicação comentada nos bastidores é que, com ela nesse posto, o presidente teria certeza de contar com uma aliada fiel para a sua tentativa de reeleição. Se escolhesse alguém do Centrão, sempre haveria uma pulga atrás da orelha. Correria o risco de ser traído.
Na verdade, ninguém consegue justificar com certeza o que levou Lula a tomar essa decisão. Ou ele é um gênio, enxergando além do que as vistas normais conseguem ver, ou está cometendo um dos maiores erros políticos de sua carreira.
Tentando mudar a imagem
Com a intenção de virar a página e escrever uma nova história, foram mantidos contatos com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e com o presidente da Câmara, Hugo Motta. Os dois desejaram sucesso em sua empreitada. Nos próximos dias, vamos constatar se foram boas-vindas protocolares ou se atuarão como parceiros para valer.
Com a popularidade despencando e sem planos claros para resolver as questões mais urgentes do país, essas iniciativas de Lula bem que podem ser fruto do desespero. Será que a tropa toda está com o passo errado? Siga pelo Instagram: @polito