Lula fala para sua bolha ao defender Dilma, elogiar José Dirceu e atacar Bolsonaro

Lula não perde a oportunidade para falar dentro da sua bolha. Alguns de seus discursos não conseguem ir um milímetro além da convicção cristalizada dos seus seguidores. Há temas defendidos por ele que não resistem a uma análise superficial. No aniversário do PT no dia 13, segunda-feira, seu pronunciamento não foi diferente. Nesse evento, entre outros assuntos, Lula tratou de três temas caros para ele: Dilma, José Dirceu e Bolsonaro. Já não é a primeira vez que o presidente afirma que o processo de impeachment de Dilma foi um golpe. Essa conversa é música para os ouvidos daqueles que acreditam em tudo o que ele diz. Há pouco tempo, Michel Temer respondeu de forma indignada à acusação de que tinha participado de um golpe. Depois de mostrar números que indicam os acertos do seu governo, espetou: “Como se vê, com a nossa chegada ao governo o Brasil não sofreu um golpe institucional, foi sim ‘vítima’ de um golpe de sorte”.

Não é para menos. Quem acompanhou todas as etapas do julgamento da ex-presidente sabe que ela teve à disposição todos os direitos de defesa assegurados pela Constituição. Os prazos foram respeitados nos longos 273 dias de duração. Para justificar um pedido de impeachment é preciso que o chefe do Executivo tenha cometido um crime de responsabilidade. Os juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale e Janaina Paschoal acusaram Dilma de ter cometido as “pedaladas fiscais” e editado decretos para abertura de crédito sem a autorização do Congresso. O processo de abertura na Câmara foi aprovado por 367 votos a favor, 137 contra e 7 abstenções. No Senado o resultado foi de 61 votos favoráveis e 20 contrários. Portanto, diante desse resultado, afirmar que foi “um golpe” acaba esbarrando em fundamentação política e judicial equivocada.

No mesmo evento, Lula aproveitou para agradecer a um dos nomes mais importantes da história do partido, José Dirceu. Disse que sabia que Dirceu havia sido solidário ao que ele havia passado. E o presidente age assim sem nenhum tipo de constrangimento, pois é sabido que o seu ex-chefe da Casa Civil foi condenado no processo do mensalão e da Lava Jato. Outro assunto jamais esquecido por Lula é Bolsonaro. Dia sim, outro também, lá está o presidente falando mal do seu antecessor. Até na visita que fez aos Estados Unidos, na conversa que manteve com Biden, fez questão de atacar o ex-presidente. Segundo levantamento recente, em 16 discursos proferidos pelo presidente, em 14 citou Bolsonaro. Nesse evento do PT, o seu desafeto também não poderia ficar de fora. Usando palavras que já se tornaram uma espécie de chavão incansavelmente repetido disse: “Vou lutar pelo nosso partido e vamos lutar pelo povo brasileiro, para que nunca mais um genocida ganhe eleições com base na mentira e na indústria da mentira”. Nenhuma prova dessas afirmações.

Lula deve ter algum tipo de estratégia para fazer esses pronunciamentos inconsistentes. Talvez imagine que, ao repetir essas informações à exaustão, alguém acabe acreditando que sejam verdadeiras. Procura, assim, desqualificar os opositores e enfraquecer a credibilidade de Bolsonaro. O presidente sabe que com a popularidade do adversário, assim que este retornar ao país terá pela frente um ferrenho combatente. Talvez o mais poderoso que já tenha enfrentado depois da sua primeira eleição. Se quando era um deputado desconhecido do baixo-clero, Bolsonaro enfrentava o PT com coragem e ousadia, o que o impedirá de partir para o confronto agora que está com o currículo mais encorpado? O pleito de 2024, que elegerá prefeitos e vereadores, está próximo. Tudo indica que o ex-presidente se transformará em forte cabo eleitoral dos candidatos conservadores. Uma ampla vitória nos 5.570 municípios em todo o país poderá ser fundamental para as pretensões dos candidatos à presidência em 2026. Por isso, defender Dilma e José Dirceu e atacar Bolsonaro pode ser um discurso antecipado de campanha. Agora, se o objetivo de Lula for o de falar, falar, falar até que acreditem no que diz, se o discurso continuar sendo esse mesmo, haja repetição para convencer as pessoas de que ele tem razão. Siga pelo Instagram: @polito.