‘Lula pode confiar absolutamente nas instituições’, diz Santos Cruz sobre relação com Forças Armadas

Nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve se reunir com os três comandantes das Forças Armadas e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para tratar das invasões e depredações ocorridas em Brasília no dia 8 de janeiro e amenizar o clima entre o Governo Federal e os militares. Para falar sobre o encontro, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro (PL) e general da reserva, Carlos Alberto dos Santos Cruz, que fez um apelo pela pacificação e fortalecimento das instituições: “Lula pode confiar absolutamente nas instituições. Se alguma pessoa cometeu algum erro, substitui. Se o planejamento de segurança não está bom, tem que rever o planejamento. Mas, você não pode descaracterizar as instituições. Ele tem experiência, oito anos ficou ali com essas mesmas instituições provendo a segurança dele, não aconteceu problema nenhum e não vai acontecer”.

“Falhas, sem dúvida nenhuma, aconteceram no dia oito. Falhas em todos os níveis, não adianta querer negar. Houve falha de avaliação, falha de acompanhamento de inteligência, falha de execução. E não só de órgãos de segurança, de todo mundo. Inclusive de decisões governamentais. Todos tem participação nesse volume de erros de uma primeira semana de governo. Dificuldade de integração, troca de todos do primeiro escalão e segundo escalão em todos os órgãos. Não é problema afastar algumas pessoas, substituir, isso não tem problema nenhum. Não pode é você desvalorizar as instituições (…) Forças Armadas, GSI, órgãos de governo, Polícia Federal, Polícia Militar do DF, que tinha uma grande responsabilidade, essas instituições têm que ser preservadas e aperfeiçoadas. Não pode confundir com erro pessoal”, argumentou.

Para o general, o encontro entre Lula e Forças Armadas tem potencial para acalmar os ânimos. Além disso, Santos Cruz criticou a certa aproximação entre militares e política nos últimos anos: “Está previsto para hoje e a conversa tem que ser franca, uma conversa franca. Realmente há a necessidade de não haver participação política da parte militar, não só da parte militar, mas em todas as carreiras de Estado. Nós tivemos aí outras carreiras de Estado que também sofreram esse desgaste pela tentativa de arrastar essas carreiras de Estado, inclusive os militares, para o jogo político. Isso não foi conseguido pelo governo anterior, mas a imagem foi conseguida. O governo não conseguiu arrastar as Forças Armadas para o jogo político, mas a imagem para o público foi. Tem que desmanchar isso daí”.

“É um momento de equilíbrio, e eu penso que não há necessidade nenhuma de acordo, há a necessidade só de deixar os comandantes tomarem as providências que eles sabem que têm que tomar. Isso é normal no Exército. Fiquei mais de 45 anos e nunca vi nenhuma omissão em tomar as providências que precisam ser tomadas. O presidente Lula também já está no terceiro mandato, não tem novidade nenhuma do relacionamento dele com as Forças Armadas. Não há necessidade nenhuma de grandes modificações. Tudo pode se acomodar. O que a gente tem que evitar nesse momento é a narrativa e a projeção de extremismo. O Brasil não precisa de mais extremismo, o Brasil precisa de equilíbrio”, defendeu.

O ex-ministro criticou o comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro após sua derrota eleitoral e argumenta que a tentativa de transferir essa responsabilidade para os militares causou desgaste institucional para as Forças Armadas: “Transferiram a responsabilidade política, que é do poder político, para os militares. Quando houve insatisfação do ex-presidente que perdeu a eleição, ele não liderou nada, ele se omitiu e a indústria de fake news empurrou as pessoas para frente dos quartéis, como se os quartéis fossem responsáveis por resolver um problema político. A transferência de responsabilidade do poder político para os militares foi um absurdo. Isso foi uma covardia. Questão política tem que ser resolvida pelo poder político, e não pelos militares. Aqueles acampamentos resultaram nisso aí que a gente viu e foram incentivados por motivação política”.

“Tinha que ser resolvido pelo poder político, mas conseguiram de maneira sorrateira, de maneira desleal, empurrar essa responsabilidade para os militares. Aquele público que ficou perdido politicamente ficou na mão de aventureiros extremistas, e deu no que deu. O desgaste vem daí, dessa transferência absurda que aconteceu ao longo de um bom tempo. Não foi só exatamente depois do segundo turno, ela aconteceu ao longo de um bom tempo com discursos na frente do QG, aquela história de falar do ‘meu exército’ (…) Tudo isso daí é tentativa de arrastar as Forças Armadas para o jogo político. Não conseguiu, mas conseguiu a imagem. Para o público, essa imagem às vezes interessa para as pessoas ficarem iludidas politicamente. Elas não foram tratadas com respeito, elas não foram tratadas com sinceridade, com honestidade”, declarou.