Magalu Cloud completa um ano com ambição de “provocar” o mercado de nuvem

Christian 'Kiko' Reis, diretor da Magalu Cloud, sorrindo para a câmera com um fundo branco minimalista

Há anos, o mercado global de nuvem é dominado por um pequeno grupo de gigantes. Estimativas do Synergy Research Group sobre o terceiro trimestre de 2024 apontam que a Amazon Web Services (AWS) detém 31% da infraestrutura de cloud no mundo, enquanto a Azure, da Microsoft, possui 20%, e o Google Cloud, 11%. Juntas, essas três empresas dominam mais de 60% do segmento. Oracle, Alibaba, IBM e Tencent também estão na disputa, mas registram apenas um dígito de participação de mercado cada.

Para Christian “Kiko” Reis, diretor da Magalu Cloud, esse cenário consolidado não é imutável. “Tendemos a olhar para a indústria como se os grandes fossem permanentes, mas não percebemos que essas indústrias estão sempre sujeitas a transformações”, avaliou em entrevista ao IT Forum. Como exemplo, ele cita a intensa transformação vivida pelo mercado de semicondutores desde os anos 1990 até hoje, em que empresas como a Sun Microsystems passaram do auge ao esquecimento.

Por acreditar nesse potencial de transformação do mercado de nuvem, a Magazine Luiza, gigante brasileira de tecnologia e varejo, lançou, há exatamente um ano – completado nesta quinta-feira (12) –, sua própria oferta no segmento: o Magalu Cloud. O objetivo do serviço é ser uma alternativa para a “democratização” da nuvem, oferecendo um portfólio menor de produtos, mas estruturado em uma lógica econômica eficiente e que atenda às expectativas de escala dos clientes.

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“A nuvem só existe para viabilizar outros negócios; ela não é a finalidade. A infraestrutura não pode ser o maior custo de uma empresa. Para nós, é uma aberração histórica que as nuvens tenham crescido até ocupar esse espaço nos orçamentos”, reflete Reis. “Nós vamos provocar.”

Ao longo do último ano, o Magalu Cloud evoluiu de forma gradativa, mas constante. A companhia não esconde que a estratégia para o produto é de longo prazo, o que explica as atualizações cadenciadas trazidas nos últimos meses. “O ano de 2024 foi dedicado à expansão de capacidade e à conclusão do portfólio inicial de produtos. Escolhemos não ir muito forte ao mercado nem fazer grandes anúncios porque queríamos a tranquilidade de embarcar clientes e garantir uma experiência de ponta a ponta”, explica o executivo.

O primeiro grande anúncio ocorreu em abril de 2024, durante o WebSummit Rio, com o lançamento dos produtos ID Magalu, Turia IAM Automations e Object Storage. No segundo semestre, a empresa abriu seu console de nuvem para que qualquer pessoa física ou jurídica pudesse criar uma conta e experimentar o serviço.

Essa abertura trouxe uma evolução significativa para o negócio. No segundo trimestre fiscal deste ano, encerrado em agosto, a companhia tinha 130 contas corporativas no serviço. Ao final do terceiro trimestre, em novembro, esse número já havia superado 500. Empresas como Kognita, Unite e iCasei estão entre os clientes atuais.

Ainda assim, a Magalu Cloud vivia uma fase de “soft launch” no Brasil. Isso muda a partir desta quinta-feira, com a disponibilidade geral dos produtos de rede, armazenamento e computação, além do anúncio de novas ofertas, como gestão de containers com Kubernetes e MySQL autogerenciado. “Ano que vem será outro jogo: começaremos a fazer campanhas progressivamente maiores e executar uma estratégia ampla”, declara o diretor.

Da necessidade interna às oportunidades de crescimento

A Magalu Cloud nasceu da combinação de dois fatores. O primeiro foi a necessidade da própria Magazine Luiza em conter o crescimento dos custos com operações em nuvem, que, segundo o CEO Frederico Trajano, na conferência de resultados do terceiro trimestre fiscal de 2024, já alcançavam a casa de “centenas de milhões” de reais.

A jornada da Magalu com nuvem não é recente: a empresa foi uma das pioneiras na adoção de nuvem pública no Brasil, há mais de 15 anos, mas viu os custos relacionados a esse modelo subirem consideravelmente. O projeto do Magalu Cloud começou em 2020, no LuizaLabs, laboratório de tecnologia e inovação, como uma forma de reverter esse processo. Hoje, quase metade dos workloads da empresa já estão em sua própria nuvem.

Este foi o primeiro ano em que muitos dos recursos utilizados para proporcionar a experiência do usuário final durante a Black Friday, um dos principais eventos de compras do ano, foram hospedados na Magalu Cloud. “Sempre que trazíamos uma carga de trabalho ou um projeto muito grande, descobríamos coisas que poderíamos fazer e que não eram evidentes inicialmente”, revela Reis.

A migração foi fundamental, por exemplo, para reduzir o tempo de espera do usuário na entrega de uma experiência móvel, já que a hospedagem local de dados reduz a latência na entrega de conteúdos como imagens e vídeos. “Estamos em cinco milissegundos”, destaca Reis.

No entanto, a iniciativa não foi pensada apenas para uso interno. A necessidade de equilibrar despesas com nuvem não é exclusiva da Magalu e também afeta inúmeras empresas no mercado brasileiro. Com preços em reais e baixa latência garantida por dois data centers em colocation – um na Grande São Paulo e outro em Fortaleza –, o Magalu Cloud também se tornou uma importante oportunidade de negócio para o grupo.

Durante a Black Friday deste ano, a empresa teve uma experiência inusitada que validou sua infraestrutura em um teste de estresse não planejado. Na quinta-feira anterior ao evento, dia 28 de novembro, a Magalu Cloud migrou, em menos de 24 horas, o site de vaquinha da torcida organizada Gaviões da Fiel, que arrecadava fundos para a quitação da Neo Química Arena.

“Nós não estávamos preocupados com a volumetria em si. O problema é que a aplicação estava fora da nuvem na quinta-feira e era preciso trazê-la para a nuvem antes do meio dia da sexta-feira”, aponta. Em menos de 24 horas a migração fei realizada, incluindo a possibilidade do cliente aumentar ou diminuir o provisionamento de acordo com os momentos de pico ou baixa de acessos da campanha de arrecadação. “No fundo, a prova de fogo foi a nossa capacidade de responder”, completa o diretor.

Magalu Cloud busca jornada de IA e novos clientes

Na conferência de resultados do terceiro trimestre fiscal deste ano, Frederico Trajano, CEO do grupo, usou uma analogia inusitada para explicar o posicionamento que a empresa busca com sua nuvem. “Eu falo que o mercado brasileiro vai ter espaço para as ‘Ferraris’, que são as nuvens gringas, mas vai ter ‘Toyota’ e ‘Honda’ também, que eu acho que são a nossa Magalu Cloud. É um bom valor por custo”, disse.

Para Reis, a analogia reflente a ambição de democratização da nuvem da Magalu, além do desejo de que ela se expanda no mercado. Para reforçar essa estratégia, a companhia contratou Alexandre Mandl como diretor de Vendas, novo cargo no organograma da firma. Veterano do segmento de nuvem pública com mais de 20 anos de experiência e passagens pela AWS, Red Hat e Cisco, Mandl será responsável por expandir as operações comerciais. O time da unidade de nuvem da Magalu, aliás, quase dobrou neste ano: hoje são cerca de 400 pessoas, e a expectativa é crescer 50% em 2025.

A empresa também busca atrair clientes maiores sem deixar de atender os pequenos e médios. Entre as novas ofertas está a chamada Zona Privada, que oferece “células” dedicadas a clientes, apartadas dos data centers que hospedam múltiplos usuários. A solução permite escalabilidade independente e maior previsibilidade de custos, sendo lançada em parceria com a Dell Technologies.

Para 2025, o roadmap inclui produtos de inteligência artificial, como GPUs como serviço, e ofertas voltadas para inferência e geração aumentada por recuperação (RAG). A empresa constituiu múltiplas “células” que avaliam diferentes ângulos de atuação em IA, e estão colaborando para avançar as ofertas que serão disponibilizadas aos clientes. “É o início de uma jornada rumo à IA”, afirma Reis. A ideia da Magalu Cloud, no entanto, é sempre trabalhar em primeiro lugar com clientes específicos para entender o potencial de novas ofertas antes de lançá-las como produtos publicamente. Isso é especialmente verdade com a IA. “Queremos ter certeza que vamos encontrar algo que faz sentido no envelope econômico. Muito do que se gasta hoje com IA é questionável”, conclui.

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