Mais ameaças após 180 foguetes
Em uma semana de crescente tensão no Oriente Médio o cenário continua cada vez mais incerto sobre uma possível guerra total na região. O que antes se concentrava no enclave palestino de Gaza e no sul de Israel e já provocava inúmeras reações pelo mundo, hoje se desenrola no Líbano, na Síria e também no Irã. Após ter perdido a liderança mais importante de uma de suas proxies, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, o regime teocrático iraniano atacou pela segunda vez de maneia explícita o estado de Israel e com isso declarou formalmente ser o cérebro por trás de organizações terroristas e grupos paramilitares radicais que atacam múltiplos países nessa localidade tão importante de nosso planeta.
A resposta veemente prometida pelo premiê israelense, Benjamin Netanyahu, ainda não aconteceu, mas enquanto a expectativa para a reação de Telavive cresce, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, aumentou ainda mais o tom contra o ocidente e em uma rara aparição para as orações de sexta-feira, disse que o país Israel, estaria próximo de seu fim. O líder religioso, que de fato governa o Irã de maneira ditatorial desde 1989 chamou de “brilhante ação” o ataque de dezenas de mísseis, foguetes e drones contra Israel e conclui dizendo que foi algo “completamente legal e legítimo”.
As falas desencontradas do presidente norte-americano Joe Biden sobre um possível ataque coordenado com os israelenses contra as instalações petrolíferas do Irã também foram mencionadas por Khamenei, que enfatizou que todos os tipos de ataques militares ultrapassando as linhas vermelhas do país terão uma resposta decisiva das forças armadas iranianas.
A retórica antiocidental pedindo o “fim do estado de Israel” e “morte à América” é parte da coluna vertebral do regime iraniano que antes de propor ser algo próprio e original, tratou de negar todas as influências externas e consideradas “malignas” para sua população. Ao longo de quase 5 décadas, discursos começando ou terminando com frases de efeito pedindo a destruição total do ocidente se tornaram rotina, e por muito tempo, caíram em completa irrelevância pela sua repetição inofensiva.
Hoje, todavia, vemos o castelo de cartas a definhar, onde as proxies iranianas na Palestina, Líbano e Iêmen começam a demonstrar sinais de fraqueza, o que deixa claro à cúpula do poder em Teerã que as tão caras barreiras de contenção criadas por 45 anos, já se mostram ineficazes. Nesse momento os mais crentes nas causas da República Islâmica e os mais pragmáticos e realistas em relação à dificuldade geopolítica atual, tomaram a mesma decisão: agir sem escudos e mostrar sua verdadeira face ao mundo lançando dezenas de artefatos bélicos por centenas de quilômetros. Com isso aquelas ameaças contra o resto do mundo, que permearam centenas de orações e discursos de estado, vão ganhando mais corpo e se tornando algo além de meras palavras.
Como e quando os israelenses reagirão é um mistério para todos nós, mas em uma semana em que 1 milhão de pessoas se deslocaram no Líbano e outras milhares morreram nessa guerra, os israelenses percebem que ignorar as ameaças, assim como o fizeram desde 1979, não será mais possível, mesmo que ainda tenham superioridade tecnológica para conter a ira iraniana.