Marina Silva fala sobre a COP30 e urgência climática para a Jovem Pan; leia a entrevista

Nesta semana, a ministra Marina Silva veio a São Paulo duas vezes para participar de eventos e debater sobre COP30, a transição energética e os desafios do Brasil na agenda climática. Mas uma questão insiste em se impor: o embate sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial. A decisão dos técnicos do IBAMA de barrar a exploração na região gerou uma tempestade política. O próprio presidente Lula sinalizou incômodo com o veto, enquanto governadores do Norte e Nordeste pressionam pelo aval. Marina, por sua vez, mantém a linha: o Brasil precisa pensar o futuro, não repetir os erros do passado. “A decisão do IBAMA foi técnica. Estamos falando de uma das áreas mais ricas em biodiversidade do planeta. O desafio é fazer a transição energética sem cair na armadilha de modelos ultrapassados de exploração”, afirmou a ministra. Mas como viabilizar essa mudança? O Brasil quer ser líder global em energia limpa, mas ainda carece de um ambiente econômico favorável e segurança jurídica para atrair investimentos.
A COP30 será a COP da implementação?
Com um histórico de grandes discursos e promessas, as conferências climáticas enfrentam um teste de credibilidade: onde estão os resultados concretos? Marina defende que a COP30, a ser realizada em Belém, será diferente. “O Brasil já apresentou sua NDC, com a meta de reduzir entre 59% e 67% das emissões até 2030. Também assumimos o compromisso do desmatamento zero e conseguimos reduções significativas: 45% na Amazônia, 77% no Pantanal, 47% no Cerrado e 26% na Mata Atlântica.” Mas há um gargalo evidente: dinheiro. Na COP29, o cálculo foi de que o financiamento climático global precisaria alcançar 1,3 trilhão de dólares por ano. O compromisso firmado? Apenas 300 bilhões. “Precisamos sair da COP30 com um plano de financiamento real. O Brasil está comprometido em construir um caminho para garantir esses recursos e cobrar dos países desenvolvidos o que foi prometido.”, ressaltou a ministra. A questão, porém, vai além de números. No tabuleiro geopolítico, os interesses são difusos. Enquanto Europa possui metas ambiciosas, outros países reivindicam um modelo mais flexível. O Brasil, no meio desse jogo, tenta se posicionar como articulador. Mas, sem um plano robusto de financiamento, o discurso pode perder força.
Energia limpa: o Brasil está pronto para a transição?
O Brasil tem uma vantagem estratégica na corrida global pela energia limpa. “Somos um dos poucos países com capacidade de produção em larga escala de fontes renováveis competitivas. Podemos gerar energia a partir do vento, do sol e da biomassa. Temos um programa de biocombustíveis consolidado há mais de 40 anos. Podemos produzir hidrogênio verde e atrair os melhores investimentos do mundo”, afirmou a ministra. Mas essa transição enfrenta barreiras políticas e econômicas. A exploração de petróleo na Margem Equatorial, por exemplo, se tornou um símbolo do dilema brasileiro: abrir novas frentes fósseis ou acelerar o desenvolvimento sustentável? Para Marina, o Brasil já tem a resposta, só precisa viabilizá-la: “A transição energética não é um custo, é uma oportunidade. A energia renovável já compete com os combustíveis fósseis. O Brasil pode ser para os investimentos verdes o que a China é hoje para a indústria tecnológica.” Segundo ela, a chave está em criar um ambiente regulatório estável e um plano de industrialização verde que conecte as oportunidades de energia limpa à geração de empregos e desenvolvimento econômico.
A infraestrutura de Belém estará pronta?
Se a COP30 pretende ser um marco global, o Brasil precisa provar que está preparado para recebê-la. Belém, a cidade escolhida, tem desafios estruturais. “O presidente Lula está fazendo um investimento alto. Criamos uma secretaria extraordinária para estruturar a cidade junto com o governo do Pará. Não será uma festa, será uma COP de trabalho, de implementação real.”, diz a ministra. Mas a questão vai além da logística. Realizar a COP na Amazônia é um recado ao mundo, uma afirmação de que a região é central na luta climática. O desafio é garantir que o evento não seja apenas simbólico, mas um espaço de decisões concretas. Para a ministra, o conhecimento técnico já existe. O que falta é o compromisso ético e político de colocar as soluções em prática. O Brasil quer liderar. Mas, para isso, precisa provar que está disposto a fazer o necessário para transformar ambição em realidade.