Apesar de lei reguladora, ecossistema de mercado de carbono precisa ser criado

Painel de debate durante a Febraban Tech, com seis pessoas sentadas no palco discutindo o mercado de carbono. Em destaque no telão está uma das painelistas falando ao microfone, usando uma saia colorida e blazer preto. No canto superior esquerdo da tela, aparecem os nomes dos participantes: Tiago Ricci, Viviane Otsubo Kwon, Daniel Bocayuva e Larissa Gandour, além da moderação feita por professora da FGV. A plateia está cheia e atenta, em um ambiente moderno e iluminado com luzes verdes e violetas. Elementos visuais do evento, como logotipos e telas digitais, compõem o fundo da cena.

No final de 2024, uma mudança significativa impactou as empresas instaladas no Brasil, especialmente aquelas que emitem mais de 10 mil toneladas de dióxido de carbono (CO²) por ano – a sanção da lei que regulamenta o mercado de carbono. A partir deste ano, todas as organizações que operam no país passam a estar sujeitas ao Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) e, dependendo do nível de poluição que geram, poderão ser obrigadas a compensar sua pegada de CO²

A implementação oficial tem um prazo de cinco anos, e os bancos ocupam uma posição central nessa nova configuração, como responsáveis pelas transações e, muitas vezes, financiadores das iniciativas ecológicas. As movimentações realizadas em prol desse novo mercado foram tema de discussão no painel ‘Mercados de carbono: plataformas reguladas e voluntárias’, realizado no segundo dia da Febraban Tech 2025

O debate contou com a presença de Aline Ferreira, líder de Compliance (CRCO) do Citi Brasil; Daniela Baccas, chefe do Departamento de Apoio à Sustentabilidade do BNDES; Tiago Ricci, diretor jurídico da Systemica; Viviane Otsubo Kwon, sênior expert do Santander Brasil; e Clarissa Gandour, professora e pesquisadora da FGV EESP, que atuou como mediadora.

Durante a conversa, a executiva do Santander Brasil afirmou que o país está diante de uma oportunidade única de se posicionar como potência global no mercado de carbono, considerando a vasta quantidade de áreas passíveis de restauração. As projeções de retorno financeiro chegam a R$ 35 bilhões, segundo ela. No entanto, o setor financeiro nacional ainda enfrenta desafios complexos para transformar essa vantagem competitiva em realidade.

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“Nós temos várias startups desenvolvendo projetos incríveis, mas ainda não contamos com uma cadeia de restauração estruturada. Quem são os agentes diretamente envolvidos na restauração? Quem são os seus fornecedores?”, questionou. A executiva mencionou também as iniciativas dos próprios bancos para fomentar esse ecossistema e destacou a parceria entre o Santander e o BNDES nessa jornada.

Para Baccas, do BNDES, o principal desafio tem sido assegurar que os projetos de restauração florestal sejam financeiramente viáveis sem depender de garantias tradicionais. “É preciso entender que, muitas vezes, esses projetos de restauração não possuem garantias. Como garantir que uma floresta permanecerá em pé pelos próximos 100 anos? Portanto, é necessário desenvolver modelos e metodologias inovadoras para que os projetos tenham integridade própria e sejam passíveis de financiamento”, defendeu.

A fala da executiva foi endossada por Ricci, que afirmou que os agentes do setor financeiro já vêm se preparando há algum tempo para o mercado de carbono, mas alertou para a complexidade técnica do tema, dada sua abrangência. “Quando falamos de mudança do clima, estamos tratando de aspectos sociais, políticos e econômicos, não apenas ambientais. Portanto, é uma equipe multidisciplinar que vai capacitar o setor financeiro a criar produtos para que esse mercado funcione”, avaliou.

Para Aline Ferreira, do Citi Brasil, além de uma equipe diversa, é fundamental que os bancos compreendam as distintas realidades que compõem o país ao desenvolver suas metodologias e soluções. “Como nós, sendo um país em desenvolvimento, conseguimos garantir que sejamos compreendidos em âmbito supranacional? Precisamos analisar como isso vai se encaixar nesse novo quebra-cabeça global.”

Ao longo do painel, os executivos também debateram a relevância da credibilidade no novo mercado em formação. Em sua intervenção, Ricci mencionou as desconfianças sociais geradas pelo mercado voluntário. “O que observamos a partir do segundo semestre de 2022 foi uma crise de credibilidade nos processos de certificação. Mas há um amadurecimento no mercado voluntário – alcançamos um patamar mais sólido. É fundamental trazer essa experiência para o mercado regulado agora.”

Para a executiva do Santander, nesse aspecto, é essencial que o sistema bancário esteja disposto a assumir mais riscos, mas que a sociedade também se adeque às suas normas. “Se estamos dispostos a financiar a natureza, também precisamos estabelecer as nossas regras. A implementação leva cinco anos, mas todos os setores devem fazer sua parte para entender sua pegada de carbono.”

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