Moeda única deve aumentar instabilidade do Brasil e da Argentina, afirma economista

Nesta segunda-feira, 23, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumpre a primeira agenda internacional de seu terceiro mandato. Ele desembarcou na Argentina na noite último domingo para participar da 7ª cúpula da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac). Estão previstos encontros bilaterais com o presidente do país, Alberto Fernandez, e com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. No último sábado, uma carta de Lula e Fernandez foi divulgada citando a possibilidade de criação de uma moeda única da América do Sul para realizar transações exclusivas entre os países do continente, diminuindo a dependência regional do dólar. Para falar sobre o assunto, o diretor de Gestão de Recursos da Nova Futura Corretora, o economista Pedro Paulo Silveira, concedeu uma entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News nesta segunda. “Não dá para pensar em alguma coisa semelhante a uma moeda única entre esses dois países, que hoje têm os seus indicadores macroeconômicos mais importantes prejudicados. A Argentina uma taxa de crescimento que oscila, mas está pressionada para baixo, tem uma situação fiscal bastante ruim. E o Brasil, apesar de estar muito melhor, tem uma situação fiscal ruim, tem um endividamento elevado. E essas questões são importantes para estabilizar a moeda, a taxa de câmbio. Se você já tem problema da taxa de câmbio isoladamente, é pouco provável que você consiga resolver esse problema conjuntamente. A impressão que eu tenho é que, ao colocar junto esses dois países, que têm, vamos dizer assim, uma instabilidade, cada um nas suas moedas, eles vão aumentar a instabilidade conjuntamente. Pode ser uma situação bastante complicado. Eu acho, apesar de serem boas as intenções, que isso não deve andar. A estrada para o inferno está pavimentada de boas intenções. As intenções são ótimas, são maravilhosas, mas por enquanto é difícil aplicar isso de alguma maneira entre esses países que têm tantas vulnerabilidades”, comentou.

Questionado sobre a possibilidade de países da América do Sul reduzirem a dependência do dólar, o economista ressaltou que a moeda norte-americana continuará tendo relevância global, independente da criação ou não da moeda comum. “Eu acho que o problema não é só a dependência do dólar. O dólar tem um papel fundamental na economia global e vai continuar tendo mesmo que essa moeda apareça. O que os países latinoamericanos, em particular a Argentina, têm é uma vulnerabilidade externa, que ela não consegue resolver. A Argentina tem problema de déficit de pagamentos. É uma coisa que o Brasil já não vive há bastante tempo. A Argentina não conseguiu resolver esse problema básico. O total de transações que ela faz recebendo do exterior e o que ela paga para o exterior é desfavorável. E isso faz com que, vira e mexe, ela tenha problema com sua dívida externa, tanto o governo como as empresas. Ela tem reservas baixas, tem problema para gerar saúde comercial, tem problema para receber investimento direto. O Brasil não tem mais esse tipo de problema há muito tempo. A fórmula básica é que países como a Argentina resolvam esse desequilíbrio externo para depois pensar numa modificação”, disse

Sobre a reaproximação comercial do Brasil com a Argentina, o economista defendeu ser muito importante para ambas nações. “Eu acho que isso é sempre muito importante, a Argentina é o nosso vizinho e é a segunda economia mais importante da América do Sul. É importante termos esse mercado muito próximo da gente. É claro que eles enfrentam muitos problemas, mas vender e comprar mais da Argentina sempre é muito positivo para a gente. Eu acho que isso é importante reestabelecer. Há vários ganhos que nós podemos ter nessas trocas comerciais, em termos de serviços também, então acho que isso tem que ser impulsionado. É diferente de pensar [numa moeda única]… Isso ainda é muito inviável. Nós não temos condição de ajudar os nossos vizinhos. Os nossos vizinhos nesse caso nos atrapalhariam demais. Nessa questão particular não há muito o que fazer”, argumetou Silveira.