Moraes nega pedido do advogado de Bolsonaro para ser dispensado de depoimento à PF

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), negou nesta terça-feira (1º) o pedido do advogado Paulo Amador Cunha Bueno, que representa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para ser dispensado de prestar depoimento à Polícia Federal (PF). A oitiva foi determinada na semana passada como parte de um inquérito que apura suposta tentativa de interferência na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid.
Bueno sustentou em petição que não buscou informações sobre a delação nem tentou assumir a defesa de Cid, e requereu ao STF a dispensa do depoimento. Em seu despacho, no entanto, Moraes reforçou que “não compete ao requerente escolher a forma do ato investigativo” e manteve a necessidade de sua oitiva.
A investigação tem como ponto de partida declarações da mãe de Mauro Cid, Agnes Barbosa Cid, de que o advogado Eduardo Kuntz e Paulo Bueno teriam abordado sua família durante evento na Sociedade Hípica Paulista. Segundo Agnes, os dois teriam se oferecido para defender o militar em meio ao acordo de colaboração premiada autorizado pelo STF.
Na ocasião, o ex-assessor presidencial Marcelo Câmara e outros investigados também foram alvo de determinação de depoimento por Moraes, sob suspeita de pressão sobre testemunhas e tentativa de atrapalhar as negociações da delação.
Defesa nega irregularidades
Em sua manifestação ao STF, Paulo Bueno reconheceu o encontro com Agnes em agosto de 2023, mas descreveu-o como “casual e breve”, disse que a família o procurou para agradecer ajuda na inscrição da neta em competição e negou qualquer menção à delação. O advogado afirmou ainda que jamais houve proposta de assumir a defesa de Cid, o que classificou como “imoral e antiético”.
Próximos passos
Com o indeferimento do pedido de dispensa, Paulo Amador Cunha Bueno deve prestar depoimento à PF ainda hoje. A oitiva é considerada fundamental para esclarecer o alcance das abordagens feitas à família de Cid e para confirmar se houve tentativa de obstrução ou pressão indevida durante o processo de colaboração premiada.
O inquérito segue sob sigilo, mas o resultado dos depoimentos poderá influenciar o desfecho das investigações sobre as eventuais vias de influência utilizadas por aliados de Bolsonaro no caso.