Na Copa do Mundo do país que as reprime, mulheres ampliaram espaço na TV, no campo e na arquibancada

Ironicamente, mesmo com o histórico de violações de direitos humanos no Catar, a Copa do Mundo de 2022 ficará marcada como a Copa em que as mulheres conquistaram seu espaço no torneio. Em 92 anos de história, foi a primeira vez em que elas estiveram nas transmissões e na arbitragem. No Brasil, a comentarista Ana Thaís Matos se tornou a primeira jornalista a comentar jogos da seleção brasileira em televisão aberta. A narradora Renata Silveira foi a primeira narradora a participar de uma transmissão de Copa do Mundo no mesmo espaço, ambas pela Rede Globo, e Natália Lara a primeira em TV fechada, pelo SporTV. Além das três, a emissora ainda contou com a jornalista Renata Mendonça e as jogadoras Formiga e Thamires como comentaristas. No Oriente Médio, a novidade foi dentro de campo. Pela primeira vez, mulheres foram escaladas no quadro de arbitragem: Neuza Back (Brasil), Stéphanie Frappart (França), Salima Mukansanga (Ruanda), Yoshimi Yamashita (Japão), Kathryn Nestbitt (Estados Unidos) e Karen Díaz Medina (México) estiveram entre os 36 nomes selecionados pela Fifa. Apesar dos ares de novidade, apenas um dos 64 jogos foi apitado por elas. A francesa Stéphanie Frappart fez história como a primeira a apitar uma partida de Copa do Mundo masculina em Costa Rica x Alemanha, na primeira fase.

As mulheres também estão presentes nas delegações de seleções. A Croácia é uma das que mais emprega mulheres em seu quadro de funcionários: são 28, ante 25 homens. No Brasil foram apenas duas: Cláudia Faria, gestora administrativa da CBF e Andreia Picanço, nutróloga e médica do esporte, respectivamente. Canadá e Marrocos também levaram mulheres em suas delegações. Mesmo assim, a presença delas é restrita aos bastidores ou na área médica. Ainda não há mulheres como assistentes técnicas ou à frente das equipes. Nas arquibancadas a presença feminina não é novidade. Mulheres de todas as idades foram vistas nos oito estádios apoiando suas seleções. O caso mais emblemático foi o das iranianas, proibidas de frequentar jogos de futebol em seu país, mas que foram ao Catar apoiar a seleção depois do assassinato da jovem Mahsa Amini, de 21 anos, morta em setembro pela polícia da moral iraniana por usar o hijab de maneira incorreta. Em jogos do Marrocos, imagens dos jogadores comemorando com suas mães nas arquibancadas e dentro de campo também viralizaram. No Islã, ser bom com os pais, em especial a mãe, é como adorar a Deus.