NR-1, IA e estratégia: o que uma norma do Ministério do Trabalho tem a ver com inteligência artificial

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Em maio de 2025, uma nova era se inicia para as empresas brasileiras. A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), fruto de mudanças promovidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em agosto de 2024, obriga os empregadores a incorporar a avaliação dos riscos psicossociais, desde o assédio e o estresse causado por metas abusivas até a sobrecarga de trabalho, como parte dos protocolos de Segurança e Saúde no Trabalho. A exigência, que não demanda a contratação de psicólogos, impõe às empresas o dever de diagnosticar e mitigar tais riscos, sob pena de sanções.

O cenário se torna ainda mais urgente quando se observa o retrato atual da saúde mental no ambiente corporativo. De acordo com a pesquisa “Diversidade e o futuro do trabalho no mercado de tecnologia”, realizada pelo IT Forum em parceria com a Landtech, 40% dos profissionais de tecnologia afirmam que sua saúde mental poderia estar melhor, enquanto 5% confessam estar em burnout, especialmente na faixa dos 41 aos 50 anos. Esses dados ressaltam um desafio que impacta profundamente o setor.

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Mas o que a IA tem a ver com isso?

Diante desse novo cenário regulatório, a strateg.ia aposta na transformação digital para enfrentar o desafio. Em parceria com a MakeOne, desenvolveu-se uma ferramenta de IA que promete simplificar e tornar mais segura a aplicação dos critérios da NR-1. A proposta é ancorar a tomada de decisão em dados concretos, substituindo a intuição e a improvisação por uma estratégia pautada na análise contínua e anônima dos sentimentos e percepções dos trabalhadores.

Luciana Magalhães, cofundadora e HR Partner da strateg.ia, enfatiza que a inovação proposta não é um fim em si mesma, mas um meio de humanizar as relações dentro das empresas. “Inteligência artificial não é só sobre tecnologia, é sobre estratégia”, diz ela, ressaltando que a ferramenta serve de ponte entre a cultura organizacional e a promoção da saúde mental.

Sobre a quantificação do retorno sobre investimento (ROI), Luciana destaca que a implementação dessa solução pode reduzir drasticamente os custos associados ao turnover – que pode custar quase o dobro do valor de um colaborador – além de acelerar a tomada de decisões críticas. “Se você não olha para esses dados de forma efetiva, acaba pagando um preço alto com substituições constantes e processos de onboarding demorados”, explica, sugerindo que os ganhos com a ferramenta vão muito além do tempo economizado, atingindo diretamente a lucratividade.

Harold Schultz, Chief AI Officer da MakeOne e responsável pelo desenvolvimento da plataforma, complementa: “Não se trata de automatizar decisões delicadas, mas de oferecer um mapa. A IA escuta e organiza, mas quem caminha ainda é o ser humano.” Segundo Schultz, a plataforma “escuta a organização em tempo real, sem precisar esperar o colaborador levantar a mão ou o problema se tornar visível”. Ela analisa variações de linguagem em mensagens corporativas, resultados de pesquisas internas e até o engajamento em reuniões, transformando esses sinais em alertas de risco psicossocial.

Felicidade dá lucro?

Na apresentação realizada durante o Jornada Itaqui, evento promovido pelo Distrito Itaqui para líderes de RH, Cecília Ivanisk, CEO e cofundadora da Learn to Fly, chamou a atenção para um aspecto pouco explorado quando se fala em inovação: o papel da felicidade no trabalho. Com base em estudos de psicologia positiva, ela argumentou que o bem-estar emocional não é um luxo, mas um fator determinante para o desempenho e o engajamento das equipes. “Nosso cérebro funciona melhor e por mais tempo quando está feliz”, afirmou, diferenciando entre a felicidade hedônica — associada a prazeres momentâneos — e a eudaimônica, que está ligada a um propósito e a uma satisfação duradoura.

Segundo Cecília, o grande desafio das empresas é criar ambientes que possibilitem o equilíbrio entre esses dois eixos. Ela destacou que, para que os times prosperem, não basta oferecer benefícios superficiais; é necessária uma reestruturação cultural que reconheça as forças individuais e promova o desenvolvimento contínuo.

Para corrigir uma cultura, porém, o primeiro passo é identificar que existe um problema – e é aí que a inteligência artificial preditiva entra. “Não é só uma questão legal, mas de sustentabilidade emocional das empresas”, diz Luciana, reforçando que o uso da IA não visa fiscalizar indivíduos, mas identificar padrões sistêmicos de risco. Segundo ela, a plataforma permite captar variações de humor, sobrecarga e desconexão emocional de forma contínua e anônima, oferecendo aos gestores alertas que muitas vezes não seriam detectados em dinâmicas convencionais.

A proposta da empresa aponta para um novo tipo de compliance: não o que apenas cumpre regras, mas o que transforma essas obrigações em ponto de partida para uma gestão mais empática. Em vez de substituir o fator humano, a tecnologia amplifica sua escuta — e, como pontuou Cecília Ivanisk, reconhece que a felicidade não é um bônus, mas uma condição de produtividade duradoura. Criar ambientes que sustentem esse equilíbrio entre propósito e bem-estar pode ser, afinal, a mais estratégica das inovações.

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