‘Multicloud híbrida’ é oportunidade para Nutanix na América Latina

“A nossa grande evolução é simplificar”, resume em poucas palavras Leonel Oliviera, o diretor geral da Nutanix para o Brasil, em conversa exclusiva com o IT Forum em Chicago, nos EUA*. A cidade é sede, entre terça (9) e quarta-feira (10), do NEXT, maior evento da companhia californiana especializada em gerenciamento de nuvem (ou nuvens).

Essa simplificação a que se refere o executivo passa, na prática, pela grande plataforma de nuvem da companhia – chamada de Nutanix Cloud Plataform – que segue sendo expandida em termos de funcionalidades. Também recebeu, aqui mesmo em Chicago, um novo mapa de desenvolvimento chamado Project Beacon.

“A gente vê no mercado muita coisa engraçada, porque as empresas dizem que provem liberdade pra fazer coisas em qualquer lugar. Mas elas criam lockins [travas] para criar dependência em quem cria a tecnologia”, me disse o executivo brasileiro durante o evento americano. “Vamos prover a tecnologia para dar liberdade de criar aplicações e desenvolver bancos de dados para que estejam em qualquer lugar.”

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Segundo ele, reverberando a crítica feita ao mercado pela própria Nutanix, os provedores de tecnologia não conseguem dar aos gestores de TI visibilidade completa de ambientes multicloud de modo fluída. E as múltiplas interfaces disponíveis atualmente trazem sobrecarga de trabalho desnecessário em “ambientes que não precisam de tanta atenção”.

“Quando você consegue ter essa gestão mais simplificada passa a ter visibilidade da movimentação [de workloads na nuvem]. Pode criar aplicações conteinerizadas para ter mobilidade total”, explica o executivo.

Pergunto ao executivo se a Nutanix é, então, uma adversária dos provedores de nuvem, uma vez que facilita e talvez até transforme em comoditie o serviço de nuvem. Para Leonel Oliveira, se trata de uma conciliação.

“Queremos ser a conciliadora pra que todo mundo converse de fato”, argumenta. “Desacoplar a dependência de qualquer ambiente específico.”

Nutanix na América Latina

Segundo a Nutanix, todas as novidades trazidas para o Next em Chicago já estão globalmente disponíveis, o que inclui a América Latina. O consumo das ferramentas precisa, naturalmente, passar pelos parceiros da fabricante, que baseia sua atuação na região nos canais.

O primeiro dia do evento, aliás, foi todo dedicado a apresentar as novidades aos parceiros – a “comitiva” brasileira no evento soma cerca de 100 pessoas, entre integradores e clientes. Para os executivos da empresa, o momento do mercado latino é favorável à proposta da companhia.

“Até antes da pandemia tínhamos a nuvem primeiro [nas estratégias], parecia uma diretriz das diretorias, que elas tinham comprado a ideia. Odiavam os data centers [on premises] pelos custos. Parecia que processamento ia ser uma utilitie”, se recorda Andres Hurtado, vice-presidente para a América Latina da Nutanix. “Essa diretriz chegou aos CIOs. Só que eles se depararam com a realidade.”

andres hurtado, nutanix

Andres Hurtados. Foto: Reprodução, LinkedIn

Há uma série de razões para esse recuo, que o mercado tem chamado de “repatriação”, ou seja, o movimento de trazer aplicações da nuvem de volta para data centers privados. Talvez a principal delas seja os custos e esforços elevados para adaptar uma aplicação antiga para rodar na nuvem.

“O que a gente sente é que o mercado de nuvem é como um pêndulo de um relógio. E que na América Latina estamos no movimento de retorno do pêndulo”, concorda Leandro Lopes, diretor de engenharia da Nutanix para a América Latina. “Não é incomum vemos orçamentos [de TI] sendo tomados por um consumo que não era possível prever. O benefício do consumo fracionado está virando dor de cabeça.”

O cenário, indicam os executivos, é ainda mais complicado nos países menores da América Latina, que não contam com infraestrutura local dos grandes hyperscalers e se deparam com problemas outros, incluindo latência e dificuldades regulatórias (uma vez que os dados usados pelas aplicações ficarão invariavelmente fora de seus países de origem).

leandro lopes, nutanix

Leandro Lopes. Foto: Marcelo Gimenes Vieira, IT Forum

Para Hurtado, nesses locais a flexibilidade com data centers privados ou locais é ainda mais importante. E cita a brasileira Tivit, que “é um provedor local muito grande, está em toda América Latina, e vai desempenhar papel muito crítico”, disse.

“Buscamos dar a esses clientes as funcionalidades da nuvem pública, que são o que fazem elas grandes, como segurança, flexibilidade etc. É aí que entra a Nutanix”, diz o executivo. “Temos dezenas de milhares de clientes pequenos, que não necessariamente vão trabalhar com a Tivit, que é muito grande para eles, mas vão trabalhar com provedores locais, que estão oferecendo serviços”, pondera.

Nesse sentido, a empresa enxerga grande potencial nos canais, que podem levar os benefícios da nuvem de forma mais capilar às regiões mais distantes da América Latina. Os integradores, particularmente, com suas ofertas de serviços gerenciados.

“A razão para eles [os integradores] terem se aproximado da gente para esse tipo de oferta é essa capilaridade que a plataforma permite, com os benefícios da nuvem. A Nutanix pode dar esse benefício da hiperescala”, defende Lopes. “O integrador se torna um service provider e consegue disseminar algo muito parecido com o que fazemos em nossos programas de parcerias.”

Para Hurtado, mesmo clientes que não são “sofisticados o suficiente” para consumir AWS diretamente podem se beneficiar dos recursos de nuvem. E a oportunidade está em “oferecer uma solução na medida dele [da PME] sabendo que a AWS não vai mandar ninguém para falar com ele”, diz.

* o editor do IT Forum está em Chicago a convite da Nutanix