O improviso para hospedar participantes da COP30

O Brasil terá, em novembro, a chance de sediar o evento ambiental mais importante do mundo. A COP30, em Belém, deve reunir cerca de 50 mil pessoas, entre líderes globais, negociadores, ativistas e jornalistas. Mas a pergunta que ainda paira é: Belém está realmente pronta para receber esse público? A cidade tem cerca de 18 mil leitos, segundo o Ministério do Turismo. A conta não fecha. Só os participantes oficiais da conferência devem ocupar mais de 30 mil vagas. Diante disso, o que se vê é uma corrida por soluções emergenciais: navios de cruzeiro alugados, escolas públicas reformadas para virarem dormitórios, e um apelo para que moradores recebam visitantes em suas casas. Além das denúncias de preços exorbitantes nas diárias oferecidas. O governo federal já contratou três navios para servir de hospedagem temporária. Juntos, somam pouco mais de 7 mil leitos. Ao mesmo tempo, o governo estadual reforma 17 escolas, que devem comportar mais 5 mil pessoas. O restante vai depender da rede privada, dos moradores e das plataformas de aluguel por temporada. O problema da hospedagem revela algo mais profundo: a falta histórica de investimento em infraestrutura na Amazônia urbana. Belém, que deveria ser vitrine da bioeconomia e da justiça climática, vive um apagão estrutural. Hospedar um evento como a COP exige mais do que navios e beliches. Exige mobilidade urbana, saneamento, conectividade, hospitalidade qualificada — elementos que não se constroem em seis meses.
Há avanços? Sim. Mas a dependência de soluções provisórias escancara a negligência com as cidades amazônicas. Belém não deveria ser apenas sede da COP — deveria ser símbolo do que o mundo quer construir: um futuro sustentável, justo e preparado. Se nada for feito além das reformas pontuais, Belém corre o risco de ser palco de um evento global sem deixar herança local. Uma COP bem-sucedida não é medida pelo número de discursos, mas pelo legado deixado para a população anfitriã. O Pará terá a chance de mostrar ao mundo que desenvolvimento na Amazônia é possível — mas isso começa com infraestrutura básica e dignidade para quem vive ali o ano inteiro, e não só em novembro. A COP30 não pode ser só um evento internacional com soluções nacionais improvisadas. Se o Brasil quiser mesmo liderar a agenda climática global, precisa começar investindo nas suas cidades, respeitando seus territórios e garantindo que as soluções climáticas passem primeiro pelo cuidado com as pessoas.