O paraguaio Fleitas Solich por pouco não foi técnico da seleção na Copa de 1958

A seleção brasileira atual pode estar perto de ter um técnico estrangeiro, algo inédito na história. Entretanto, pouca gente sabe que, em 1958, o paraguaio Fleitas Solich, do Flamengo, aparecia entre os cotados para comandar a equipe nacional. Na época, a imprensa cobrava uma definição urgente da CBD, Confederação Brasileira de Desportos, sobre quem iria treinar a equipe na Copa. O cargo estava vago!

A revista Manchete Esportiva criticava a indefinição: “Querem assassinar o Brasil no mundial. (…) De duas uma: mãos à obra, já, ou (…) prelúdio de nova derrota no mundial de 58”. Na mesma publicação, Leônidas da Silva (artilheiro da Copa de 1938 e, na época, comentarista) mencionava as preferências dele: “Dois homens estão aí talhados para o posto: Flávio Costa e Zezé Moreira. Ninguém tem mais credenciais, mais condições para o comando da representação nacional. Vou mais longe: são eles os dois únicos que estão em condições de dirigir a seleção brasileira“. 

Além dos técnicos das últimas duas Copas, Flávio Costa (50) e Zezé Moreira (54), a imprensa citava como cotados: Martin Francisco, treinador do Vasco e considerado o inventor do esquema 4-2-4, Sylvio Pirillo, do Fluminense, e o paraguaio Fleitas Solich, chamado de “El Brujo” ou “Feiticeiro”, do Flamengo. 

João Havelange, presidente da CBD, não escondia a preferência pelo treinador rubro negro: “Querem saber quem é o técnico de minha preferência? Fleitas Solich. Acho que deve ser Solich o técnico da seleção nacional, em que pese o valor de um Zezé Moreira, de um Sylvio Pirillo, Martim Francisco, etc. Que vejo, há quatro anos, senão Fleitas Solich na ponta. Quando o Flamengo descansou do tricampeonato, sua campanha foi ótima. (…) Asseguro que tanto a CBD, na pessoa do seu presidente, como o Conselho Técnico da CBD, não estão brincando com a sorte do futebol brasileiro que jogará na Suécia. Iremos, sob todos os aspectos, muito bem representados. E com altas disposições, óbvio” (Manchete Esportiva). Solich poderia ter sido o primeiro estrangeiro a comandar a seleção. Mas não foi!

No sábado, 8 de fevereiro de 1958, dia do sorteio dos grupos da Copa, em Estocolmo, o jornal O Globo dava um furo ao revelar que o técnico Zezé Moreira tinha sido convidado para comandar a seleção novamente em uma Copa, a exemplo de 1954, mas não aceitou: “Absolutamente não”. O treinador declarou que estava pensando na família e não quis ocupar o cargo. Não há como saber se esse convite a Zezé Moreira foi ideia apenas de João Havelange ou se teve anuência de Paulo Machado de Carvalho, dirigente que seria o chefe da delegação brasileira na Suécia. O fato é que o desfecho foi outro.

O escolhido para tentar a façanha do primeiro título mundial da seleção brasileira trabalhava em uma equipe paulista. Prevaleceu a indicação de Paulo Machado de Carvalho. Essa nota do jornal O Estado de S.Paulo, publicada no dia 12 de fevereiro de 1958, confirmava a indicação do bonachão Vicente Ítalo Feola: “Depois de muita celeuma foi, afinal, escolhido o técnico a quem incumbirá o preparo dos jogadores que irão formar o selecionado brasileiro para o Campeonato Mundial de futebol a ser realizado em junho próximo, na Suécia. (…) Pouco importa, agora, indagar se o sr. Feola é um técnico competente ou não. Apurar se um preparador é competente, é uma das coisas mais difíceis. O que importa é que a ele seja dada a autoridade necessária a desempenhar seu difícil cargo, do melhor modo possível“.

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O nome de Feola foi escolhido em uma reunião secreta na Federação Paulista de Futebol. Com 48 anos, mas aparentando ter cerca de 60, o treinador comandou o São Paulo Futebol Clube inúmeras vezes e tinha ligações com o Tricolor paulista desde meados da década de 30. Com Vicente Feola, que assumiu a seleção em fevereiro de 1958, o Brasil voltou da Suécia com a taça de campeão.