O risco da volta do dragão inflacionário

Nesta semana, duas notícias foram ruins para o cenário inflacionário de 2024 e 2025. A primeira diz respeito ao IPCA de setembro, que apresentou alta de 0,44%. Com esse resultado, o índice acumula alta de 4,42% nos últimos 12 meses – 0,08 p.p. abaixo do teto da meta de inflação (4,5%). A outra notícia é sobre o indicador de capacidade instalada (NUCI), calculado pela FGV. De acordo com a instituição, nossa indústria segue com capacidade 83,4% dos fatores de produção.
A notícia sobre capacidade instalada preocupa mais do que o próprio IPCA de setembro. Isso porque o número revela a baixa ociosidade dos fatores de produção (mão de obra, máquinas, etc.), elevando o risco o risco inflacionário. Pela teoria econômica, sabemos que pressões de demanda, quando a capacidade de oferta (produção) está no limite, invariavelmente os preços dos bens e serviços sobem. Esse risco se torna ainda maior, dado que o atual governo adota uma política fiscal expansionista – pelo menos do lado do gasto.
A elevação do gasto público e de políticas de subsídios para o consumo e para a indústria só trazem pressões de demanda, diante de uma capacidade produtiva estagnada. Fenômeno parecido observa-se no mercado de trabalho. A queda do desemprego e o aumento da massa salarial não vêm acompanhados de aumento da produtividade, o que traz preocupações inflacionárias. Todos esses riscos são captados na piora das expectativas inflacionárias. Há mais de 2 meses, as projeções de inflação do relatório Focus sobem semanalmente.
O risco da desancoragem de expectativas inflacionárias é a materialização de aumentos de preços no presente. Se todo mundo acreditar que haverá inflação, ela acaba se concretizando. A explicação é simples: o empresário, com receio de um aumento de preços no futuro, se antecipa, reajustando o valor da sua mercadoria agora. Dessa forma, o processo inflacionário é concretizado.
Como se não bastasse tudo isso, há o risco de o dólar subir por conta dos riscos inflacionários nos EUA. Tanto os dados de mercado de trabalho (payroll) quanto de inflação (CPI) vieram acima do esperado, o que pode levar o Banco Central a adotar um corte menos intenso da taxa de juros. Juros mais elevados nos EUA aumentam a demanda por investimentos em dólares, pressionado a taxa de câmbio no Brasil. Como parte de nosso processo produtivos tem componentes em dólar, ocorre uma elevação dos preços.
Nesse cenário, Gabriel Galípolo assume a presidência do Banco Central. O desafio é enorme diante de uma política fiscal que em nada ajuda o Banco Central. Se Galípolo ceder as pressões do presidente da República, baixando os juros com elevação dos preços, o dragão da inflação voltará a assustar os brasileiros.