O retorno do Vale do Silício no investimento em Trump: avaliações despencam e IPOs são adiados

Donald Trump toma posse como presidente dos EUA pela segunda vez - Foto: Congresso americano (redes sociais)

O mercado de tecnologia dos Estados Unidos entrou em turbulência em 2025, poucos meses após Donald Trump reassumir a presidência. O índice Nasdaq acumulou queda de 10% na semana, seu pior desempenho desde o início da pandemia em 2020, e grandes empresas de tecnologia viram suas avaliações derreterem em questão de dias.

A virada veio com o anúncio de um novo pacote de tarifas pela Casa Branca. A medida provocou reação de Wall Street, que passou a se desfazer rapidamente de ativos considerados arriscados. O movimento levou à perda de US$ 1,8 trilhão em valor de mercado entre as sete empresas de tecnologia mais valiosas do país em apenas dois dias.

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Segundo a CNBC, a Apple registrou uma queda de 14% na semana, o pior resultado em mais de cinco anos. Tesla, comandada por Elon Musk, que contribuiu com cerca de US$ 300 milhões para a campanha de Trump, caiu mais de 9%, acumulando desvalorização superior a 40% no ano. As ações da Nvidia, Meta e Amazon também amargaram perdas de dois dígitos, com esta última enfrentando sua nona semana consecutiva de queda, algo que não ocorria desde 2008.

O impacto se estendeu para o mercado de aberturas de capital. Startups como Klarna, StubHub e Chime recuaram de seus planos de IPO poucos dias após registrarem documentos junto à SEC. A CoreWeave, especializada em infraestrutura para inteligência artificial, chegou a estrear na bolsa, mas reduziu o valor da oferta e viu suas ações oscilarem com força, encerrando a semana abaixo da faixa inicial de precificação.

Segundo especialistas, o ambiente atual é considerado um dos piores possíveis para abertura de capital, dada a instabilidade macroeconômica. A metáfora de que todos os voos estão no chão, usada por um dos principais executivos da área de investimentos privados, resume a sensação generalizada: excesso de turbulência e nenhuma visibilidade.

O apoio do Vale do Silício à campanha de Trump em 2024, que incluiu vultuosas doações de investidores como Marc Andreessen e Ben Horowitz, agora é visto com cautela. O otimismo inicial com a promessa de redução de burocracias deu lugar a dúvidas sobre os efeitos colaterais de medidas protecionistas.

Nas redes sociais, alguns executivos tentam justificar o apoio, minimizando os efeitos das tarifas ou destacando benefícios indiretos, como a redução de importações de substâncias ilícitas. Mas a escalada da tensão comercial com a China trouxe um novo elemento de preocupação, com o anúncio de tarifas de 34% sobre produtos norte-americanos a partir de 10 de abril.

Economistas alertam que o risco de recessão está em alta e que as expectativas de inflação já começam a subir. O conselheiro-chefe econômico da Allianz avaliou que as novas tarifas representam uma reprecificação das perspectivas de crescimento, com probabilidade de recessão nos EUA subindo para 50%.

No epicentro dessa instabilidade, executivos das grandes empresas de tecnologia optaram pelo silêncio. Durante a celebração de 50 anos da Microsoft, o CEO da companhia, Satya Nadella, foi questionado sobre os impactos das tarifas, mas evitou se posicionar diretamente. Já Steve Ballmer, ex-CEO, reconheceu que esse tipo de cenário é ruim para os acionistas.

Consultores de mercado observam que o momento é de cautela. A prioridade, dizem, deve ser tranquilizar os funcionários e garantir que as empresas consigam operar com os recursos já disponíveis. A perspectiva de novas ofertas públicas em série, como se esperava para este ano, foi colocada em pausa e pode demorar.

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