Para vencer as eleições em 2026, Bolsonaro precisa aprimorar a comunicação

Dez de cada dez pessoas atribuem o fracasso de Bolsonaro nas urnas, entre outros motivos, à sua inabilidade para se comunicar. Será mesmo que o ex-presidente é assim tão ruinzinho de oratória? Não vamos nos esquecer de que, embora não tenha vencido as eleições, ele bateu na trave. A diferença com a votação de Lula foi quase no fotochart. Uma levantada de cabeça na chegada poderia ter sido suficiente para se reeleger. Então ele é bom de oratória? Sim e não. Sim, porque conquistou quase 60 milhões de votos. Não, porque perdeu as eleições. E comunicação boa é aquela que dá resultado. Por isso, independentemente da competência de Bolsonaro para se expressar em público hoje, para ter excelência ele precisa melhorar. Se ele fizesse o curso de oratória, as recomendações que receberia seriam fáceis de aplicar, mas, para isso, deveria se entregar ao treinamento com disciplina e boa vontade. Essa é a premissa essencial para alguém aprender a falar em público com segurança e eficiência: estar consciente de que tem necessidade de melhorar e ter vontade de aprender. Se a resposta a um desses fatores for negativa, dificilmente o resultado aparecerá.

Vamos imaginar que o ex-presidente, disposto a vencer as eleições em 2026, resolva se submeter às aulas para se aprimorar na arte de falar em público. Os conselhos iniciais seriam a respeito das características que deveriam ser mantidas na sua comunicação. Jamais poderia perder a naturalidade. O político precisa ter credibilidade para conquistar os votos dos eleitores. Se as pessoas não acreditarem em suas palavras, não o escolherão como representante. E a naturalidade é o primeiro requisito para ser acreditado. Seria até preferível que continuasse com todos os defeitos de comunicação, mas se apresentando de maneira espontânea, a acertar nas técnicas com artificialismo. Essa é uma das boas qualidades de Bolsonaro: ele se exprime com naturalidade.

Outro aspecto a ser mantido é a emoção com que se apresenta. Em todas as circunstâncias, fala com envolvimento e disposição. Demonstra na maneira de se expressar a importância dos temas do seu discurso. Mais um requisito aprimorado ao longo do tempo em que esteve na presidência foi a demonstração de conhecimento dos assuntos que aborda. No início, era comum se desculpar por não dominar determinados temas. Vira e mexe, terceirizava as explicações ao seu Posto Ipiranga, Paulo Guedes. Com a experiência adquirida como chefe do Executivo, passou a se inteirar de praticamente todas as matérias e tratá-las com autoridade. Os pontos a serem aprimorados seriam: conteúdo, retórica, expressão corporal e estilo. Parece muito, mas com apenas alguns retoques haveria uma verdadeira transformação na sua oratória. Em pouco tempo seria outro na tribuna.

Conteúdo. Bolsonaro repete os mesmos temas à exaustão. Se pegarmos os discursos que proferiu no último ano, vamos constatar que os tópicos não mudam. Começa agradecendo a Deus pela segunda vida. Fala do milagre por ter chegado à Presidência. Enfatiza a importância da pátria, família, Deus e liberdade. Não que esses tópicos não possam ser abordados, mas precisa haver diversificação para não parecer repetitivo e vazio. A retórica também entra aqui. Depois de escolher os novos temas para discursar, deve ordená-los de forma lógica e concatenada. Expressão corporal. O hábito de se apoiar com frequência ora sobre uma perna, ora sobre a outra quando está parado pode passar a ideia de insegurança, fragilidade e despreparo. Ficar por tempo prolongado com a mão no bolso também pode ser prejudicial. Ao usar o teleprompter, embora tenha evoluído bastante, falta muito ainda para demonstrar domínio na leitura. Os olhos continuam vidrados e as frases entrecortadas em momentos inadequados. Estilo. Talvez seja o aspecto da sua comunicação mais difícil de ser corrigido, pois tem muito a ver com sua vaidade. Bolsonaro julga que demonstra inteligência e descontração ao fazer brincadeiras com frequência. Em vários momentos, ele ultrapassa a linha do bom senso e cai na vulgaridade. Especialmente quando seu humor tem conotações sexuais. 

A comunicação pode ser leve, descontraída, bem-humorada, mas nunca deve resvalar na deselegância. Como já percebeu que pondo o dedo na tomada leva choque, talvez aceite essas sugestões. Com esses acertos tão simples, Bolsonaro poderia galgar estágios mais elevados com a sua comunicação e ter ao seu lado uma parcela do eleitorado que hoje torce o nariz para os seus discursos. Siga pelo Instagram: @polito.