‘Ponto fundamental é a equipe’, analisa Meirelles sobre indicação de Haddad para Fazenda

Depois de semanas de especulação, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), foi confirmado como ministro da Fazenda do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para falar sobre os desafios econômicos que ele enfrentará e também sobre a PEC da Transição, que pretende furar o teto de gastos em cerca de R$ 168 bilhões, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que ressaltou a importância de bons nomes para a equipe econômida do próximo governo: “O ponto fundamental é a equipe. Se ele leva uma equipe competente, que tem experiência na área de atuação e uma equipe a qual ele de fato vai ouvir e seguir as recomendações, eu acho que isso vai fazer toda a diferença. Nós tivemos um exemplo disso no primeiro mandato do Lula, quando o ministro da Fazenda era um médico, mas com uma equipe excelente. Tinha o Joaquim Levy, o Marcos Lisboa, o Bernard Appy e etc”.

“O Fernando Haddad em si, na gestão da Prefeitura, fez uma gestão com uma situação e abordagem fiscal responsável. Nesse aspecto, é uma boa indicação. Evidentemente que o Ministério da Fazenda é outra coisa, mas vai depender fundamentalmente da equipe que ele venha a escolher. É esse o dado importante que temos que aguardar nos próximos meses”, analisou. A respeito da PEC da Transição, o ex-ministro alertou para a fragilidade do orçamento atual: “O maior desafio está exatamente no fato de que, com a PEC e com as outras despesas também que foram aprovadas de excesso de arrecadação e outras coisas, nós estamos com R$ 168 bilhões de gastos adicionais em uma situação fiscal que já é frágil. Nós tivemos um governo que violou o teto de gastos várias vezes durante os últimos anos. Portanto, já é uma situação fiscal sujeita a uma certa desconfiança”.

A respeito do que deve ser feito na economia, Meirelles defendeu a elaboração de uma nova âncora fiscal, o corte de despesas para equilibrar as contas públicas e uma reforma tributária ampla: “Então, é muito importante duas coisas. Primeiro, amarrar o mais rápido possível a definição da chamada nova âncora fiscal. Quer dizer, está chegando no momento de fazer um ajuste no teto, e isso já estava previsto quando ele foi concebido. Mas, desde que seja uma âncora e que leve em conta as despesas. A âncora fiscal não pode ser baseada só em dívida e coisas que o governo não controla, que envolvem receita e superávit primário, como era no passado. Tem que ser algo que o governo controla, isso é despesa. Em segundo lugar, falando em despesa, eu acho que será importante também o corte de despesas desnecessárias. Companhias que perderam a finalidade e não tem razão de existir, mas continuam com orçamento, pessoal e despesas. Tem uma série de medidas adicionais que terão que ser tomadas durante o ano de 2022”.

“Acho que a reforma tributária é fundamental. Mas, note bem, é uma reforma tributária ampla dos impostos de valor agregado, isto é, IPI, PIS/COFINS, ICMS e etc, que é o grande complicador da economia brasileira, principalmente os impostos estaduais. Isto é a raiz do problema, essa é a grande complexidade tributária que diminui a produtividade da economia brasileira. Em resumo, a reforma tributária deve visar simplificar. Deve visar aumentar a produtividade da economia e o crescimento do país. E não apenas tentar algo pontualmente para arrecadar mais, porque isso seria um erro. Aí nós estaríamos simplesmente criando distorções na economia e tributando mais lucro de empresa (…) A reforma tributária não deve ser por aí. O aumento de despesas deve ser compensado com cortes de despesas desnecessárias, e não um aumento tributário, porque a carga tributária do Brasil já é alta”, argumentou Meirelles.

O ex-presidente do Banco Central também avaliou como foi a gestão de Paulo Guedes à frente da Economia: “A impressão que me dá é que ele não teve nesse governo o poder suficiente para executar tudo aquilo que ele gostaria, propôs e queria. O poder ficou muito dividido, muito concentrado, principalmente nos últimos anos, na Casa Civil, ou na presidência da Câmara dos Deputados (…) Então, a impressão que dá é que ele tem bons princípios, anunciou coisas positivas e teve baixa capacidade de execução, em função principalmente por essa questão de desconcentração de poder do Ministério da Economia. O outro problema é que ficou de fato um ministério, com a fusão da Fazenda, da Indústria e Comércio e do Planejamento, um ministério excessivamente grande. Uma máquina excessivamente grande e com focos muito diferentes para administrar. Teve dificuldades, mas é de fato uma pessoa e um profissional que tem princípios bons, princípios liberais e toda a direção foi correta”. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.