Por que Bento XVI renunciou?

Em fevereiro de 2013, o então Papa Bento XVI chocou o mundo e a própria Igreja Católica ao anunciar sua renúncia, em latim, durante uma reunião rotineira com cardeais presentes em Roma. O Papa emérito Joseph Ratzinger morreu neste sábado, 31, aos 95 anos, e entrou para a história como o primeiro pontífice da Igreja Católica a renunciar de maneira voluntária. Paulo VI e João Paulo II também chegaram a cogitar suas próprias renúncias, ambos por motivos de saúde. Na época, Ratzinger disse que falta de forças na mente e no corpo o haviam feito decidir abandonar o comando do Vaticano. “No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, seja do corpo, seja do ânimo, vigor que, nos últimos meses, em mim diminuiu, de modo tal a ter que reconhecer minha incapacidade de administrar bem o ministério a mim confiado”, declarou Bento XVI em seu afastamento do cargo e passou a ser o primeiro Papa emérito da história.

O anúncio da renúncia foi feito após o pontífice sofrer uma queda durante uma viagem ao México em março de 2012. Neste momento, o Ratzinger havia desistido de participar da próxima Jornada Mundial da Juventude, que foi realizada no Brasil em 2013. Paralelamente, escândalos que envolviam corrupção, desvio de dinheiro e abusos sexuais acobertados pela Igreja Católica foram expostos pelo chamado Vatileaks, o que isolou ainda mais a figura do Papa, que já não era muito popular dentro do Vaticano. Internamente, Bento XVI era considerado mais um teólogo e intelectual do que propriamente uma figura de liderança mundial. Tal fato era reconhecido pelo próprio Papa, que delegava boa parte das funções administrativas do Vaticano ao então secretário de Estado, cardeal Tarciso Bertone.

Deste modo, por motivos políticos e também médicos, Bento XVI acabou optando pela renúncia definitiva. Antes dele, também renunciou o Papa Gregório XII, em 1415, por causa de uma divisão política dentro do Vaticano, chamada de Grande Cisma Ocidental. A renúncia foi feita para que um novo pontífice eleito unificasse novamente a Igreja. Em 1294, o Papa Celestino V também renunciou em meio a crises internas. Com apenas apenas cinco meses à frente da Igreja, o pontífice virou eremita e, no fim da vida, foi mantido prisioneiro por seu sucessor, o Papa Bonifácio VIII.