Por que, mesmo no poder, a esquerda anda tão desesperada?

A esquerda retomou no Brasil o poder que havia perdido em 2018. A história foi turbulenta, mas rápida. O governo de Dilma Rousseff foi um desastre. Arrebentou a economia do país. Acusada de cometer crime de responsabilidade, devido às famosas pedaladas, acabou sendo impichada dentro de todas as regras constitucionais. Sem apoio dos parlamentares, com os quais não possuía muita intimidade, foi apeada do cargo e substituída pelo vice, Michel Temer. Durante as eleições de 2018, Lula estava preso. Por isso, escalou para concorrer com Bolsonaro, Fernando Haddad, pejorativamente apelidado de “poste”, pois, segundo seus opositores, não tinha vontade própria, só fazia o que o “Senhor” mandava. 

O PT (Partido dos Trabalhadores) e suas agremiações satélites não se conformavam com a possibilidade de perder aquelas eleições. Afinal, o adversário era um capitão tosco. Sem coligações políticas. Desconhecido. Sem grana para manter uma campanha. Fazendo filminhos de quinta categoria com celular. Tendo como aparato uma mesa de cozinha coberta por uma raquete de matar mosquito e uma jarra de plástico com suco. E, para fechar, usando como cenário uma bandeira do Brasil grudada com fita isolante, que de vez em quando caía. E não eram só esses detalhes. A sua linguagem era condenável. Bolsonaro não se preocupava com o politicamente correto; era mesmo “meio incivilizado”. Na verdade, boa parte da sua votação veio de eleitores que não aguentavam mais um mi-mi-mi que tolhia a liberdade de expressão. Pois é, ganhou o “tiozão do churrasco”.

Boa parte da imprensa que abominava aquele “militar desqualificado” não deu trégua. Continuou a criticá-lo. Se aparecia algum resultado positivo, a manchete se referia ao “governo”, e era pontual, quase seca. Por exemplo, “Governo supera metas”. Se, ao contrário, a notícia não era boa, a informação mudava de figura, revelando sentimentos e posicionamento, com destaque para o nome do presidente. “Bolsonaro bate recordes nas queimadas na Amazônia”. Dessa forma, independentemente dos resultados que foram apresentados, a concomitância da atuação de vários agentes criticando suas ações e a oposição ferrenha do Congresso acabaram por levar a um desgaste político, prejudicando sua imagem. 

Em 22, com todos os contorcionismos jurídicos, Lula saiu da prisão, concorreu e voltou à Presidência. Eu não estarei vivo para saber como os livros escolares vão contar essa história. Dependerá, lógico, do viés ideológico de quem a escrever. Como tem sido no mundo todo ao longo do tempo. Bolsonaro perdeu as eleições e encontraram um jeito de torná-lo inelegível. Não satisfeitos com essa proeza, tentam por todos os meios colocá-lo atrás das grades.  Afinal, qual a questão importante a ser considerada aqui? Por que, mesmo estando no poder, continuam apavorados com a sombra da direita? Permanecem temendo a popularidade e a força política de Bolsonaro. E não se trata apenas de suposição, os fatos estão aí para confirmar. Dois exemplos recentes são muito significativos.

O primeiro deles saiu da boca do próprio Lula. Ao participar da conferência eleitoral do PT, em 8 de dezembro, disse que o partido precisava reaprender a falar com as pessoas, com os evangélicos e pequenos empreendedores: “Quem ganha mais de R$ 5 mil não quer votar na gente. Essa pessoa ficou ruim? Não, às vezes essa pessoa elevou um pouco o padrão de vida. Desaprendemos a conversar com ela”. É quase uma crise de sincericídio. Agora tivemos outra surpresa. Em texto publicado na “Folha de S.Paulo” (22/01), José Dirceu, o grande estrategista da esquerda no Brasil nos últimos tempos, declara com expressivo alarde as suas preocupações: “A extrema direita se apropriou dos avanços tecnológicos e das guerras culturais e nos impuseram derrotas políticas e eleitorais graças à aliança com interesses econômicos das elites financeiras e agrárias e com os neopentecostais. Para enfrentar os desafios da próxima década, o PT e as esquerdas necessitam de renovação”.

É fácil deduzir que a esquerda perdeu o chão. Essa mea-culpa velada é mais profunda e preocupante. Sabem que voltaram ao poder, mas não encontram meios de se manter lá. O que estão dizendo em últimas palavras é que, se tudo continuar assim, a direita, ou “extrema direita”, como dizem, volta e eles, mais uma vez, serão expurgados. Siga pelo Instagram: @polito.