Por uma política com menos moleques e mais homens

Os atos do último domingo, 8, foram patéticos em muitos sentidos, desastrosos e criminosos em tantos outros, mas seu pior defeito foi criar um bode expiatório perfeito para os ditadores de ocasião. Olhando daqui, há quase uma semana de distância do ocorrido, podemos analisar tudo com aquele bom senso que falta aos fanáticos e aos covardes ideologizados. Tudo que a esquerda buscava recentemente era algo que materializasse suas eternas e vazias denúncias de terrorismo fanático de bolsonaristas: conseguiram. Sem motivo já agiam como ditadores, agora a direita fanática deu-lhes uma perfeita justificativa para enfeitar o despojo das liberdades. Ainda que as investigações estejam apenas começando, ainda que haja indícios de infiltrados na invasão, negligência bizarra do próprio governo Lula e sua pasta de segurança que foi avisada 24 horas antes pela ABIN sobre a iminência da invasão, fato é que a narrativa de “tomada dos três poderes” não pode ser inteiramente derrubada nas costas da esquerda, trata-se antes de uma burrice política da direita pró-Bolsonaro, uma burrice tão incrível que nem o próprio Bolsonaro demorou a condená-la em suas redes. Não dá para purpurinar, justificar ou sequer tentar amenizar o que foi realizado naquele dia; vandalismo é vandalismo, seja em qual lado ideológico ele estiver. Ponto!

Parcela significativa dessa direita acriançada por seu fanatismo, no ímpeto de ser a justiceira eleitoral por conta própria, armou-se de uma afobação tosca, dando assim à esquerda e seus autoritários oficiais tudo aquilo que eles queriam e precisavam em questão de narrativa. Pois bem, agora apertem os cintos, pois, se a bizarrice tirana já estava em níveis nunca antes vistos aqui no pós-redemocratização, agora os autoritários se revestirão da casula dos justificados a fim de aumentarem ainda mais o rasgo na sensatez e na democracia real. Se antes o vale-tudo jurídico já estava em voga, agora acrescentarão o vale-tudo policial para temperar esse caldo déspota.

Aliás, não demorou nada, no mesmo dia do ocorrido já vimos prisões em massa, o confinamento desses detidos em galpões ‒ entre eles velhos e crianças ‒, seguido de agressões tão bizarras aos direitos humanos que nem mesmo a sempre esquerdista OAB e parcela significativa da mídia tradicional se mantiveram neutras ao que viram nos campos da PF de Brasília. Alexandre de Moraes afastou o governador do DF sem nenhum respeito por qualquer processo legal definido, e a seu mando a Polícia Federal prendeu outros tantos ‒ entre eles o comandante da PM de Brasília. Cá entre nós, nada de anormal para os novos padrões dele. Aproveitou o ensejo da burrice direitista para atirar também contra aliados e ex-ministros do governo Bolsonaro, e assim continua firme e forte a sua subida absolutista imparável, sob os olhares meio admirados e pouco atônitos da esquerda de crachá e do mainstream.

Quando o país se reveste de uma atuação completamente ideológica das instituições, fanatismo político, além de uma real sensação de que a injustiça venceu ao final, a consequência sempre tende a ser o advento de atos criminosos. Todavia, como bem sustenta os nossos pais: um erro não justifica o outro, e por isso que à direita cabe repensar seus modus operandi e agremiações, à mídia esquerdista cabe repensar os seus heróis, pois aqui também cabe perfeitamente aquela eterna reflexão filosófica: aquele que instiga o assassino a puxar o gatilho é tão criminoso quanto o que puxou? Mas não nos cabe agora ser obscuros, por isso vou dar clareza ao meu julgamento: aos que invadiram os prédios dos três poderes, todo o peso da lei; aos tiranos que dia e noite assolam a democracia e rompem o processo legal, o exato mesmo peso.

A invasão foi criminosa e deve ser punida sim, mas nada justifica, apaga ou abranda o processo de rompimento democrático ao qual estamos assistindo acontecer através das instituições. E isso deve ficar claro. O fato de o exército da URSS ter derrubado quase que sozinho as forças militares de Hitler não faz de Stálin e do comunismo soviético menos repulsivos que o nazismo; não se deve afagar ditadores com erros alheios. Eu sei, ainda que o exemplo soe extremo nesse instante, o princípio é o mesmo, pois, um dos indicativos de amadurecimento de caráter ‒ e político ‒ é justamente não esconder certas falhas com outras; e, acreditem, tudo o que mais precisamos nesse instante é de homens maduros, com princípios bem constituídos, e não moleques, seja para quebrar vidraças ou pisotear direitos individuais.