Celso Kleber, da Conta Black: ‘Queremos mostrar que é possível fazer negócios com impacto social positivo’

A desigualdade no acesso ao crédito no Brasil não é um fenômeno isolado, já que apesar de movimentarem R$ 1,7 trilhão por ano, 32% dos empreendedores negros e pardos tiveram seus pedidos de crédito negados sem justificativa.
Essa informação é confirmada pelo Estudo do Empreendedorismo Negro no Brasil, uma pesquisa realizada pela PretaHub em parceria com o Plano CDE e o JP Morgan. O estudo evidencia que a disparidade no crédito é parte de um quadro mais amplo de desigualdades raciais que afetam as relações econômicas.
Além disso, a falta de representatividade nas lideranças das instituições financeiras agrava essa situação. Celso Kleber aponta que a escassez de pessoas negras em posições de decisão resulta em políticas que frequentemente ignoram as necessidades dessa população, perpetuando práticas que os marginalizam.
Para entender melhor essa dinâmica e buscar soluções, conversamos com o executivo que é membro do conselho consultivo e sócio da Conta Black, que surgiu como uma resposta direta às dificuldades enfrentadas pela população negra em obter crédito.
Leia também: Intelipost quer se tornar empresa de dados logísticos
Segundo ele, a ideia surgiu a partir da experiência pessoal de Sérgio All, cofundador da Afro Business, que enfrentou a dificuldade de acesso ao crédito em um banco tradicional.
“Naquele momento, ele começou a refletir sobre quantas outras pessoas pretas enfrentavam a mesma dificuldade e decidiu que criaria um banco próprio”, conta Kleber. Anos depois, a Conta Black foi lançada, oferecendo um cartão de crédito acessível para empreendedores negros e periféricos.
A personalização e o desafio dos dados na Conta Black
Mas nem tudo foi fácil, com foco em personalização e acessibilidade nos serviços financeiros, a Conta Black enfrentou desafios ao utilizar os dados existentes. Kleber aponta que “os dados conhecidos têm um viés racista. Naturalmente, as respostas que vêm dos algoritmos são influenciadas por isso, pois basicamente é uma reprodução dos dados com um viés já existente”. Essa realidade exigiu uma estratégia que antecedesse o uso da tecnologia para a personalização.
Para navegar nesse cenário complexo, a Conta Black precisou construir uma base sólida. “Como eles estão à margem do sistema financeiro, a tecnologia mais sofisticada se baseia em dados conhecidos. Se a população periférica não tem seus dados capturados, existe um viés no algoritmo. Então, tivemos que aprender a trabalhar com dados limitados e ajustados para essa realidade”, explica. Esse processo envolveu não apenas a coleta de dados, mas também a curadoria e a criação de uma base própria adaptada às necessidades específicas dessa população.
Entretanto, o esforço da Conta Black foi além da coleta de dados. A empresa investiu em entender as necessidades reais da população periférica, colaborando diretamente com a comunidade, para isso, a startup contou com colaboradores negros liderando essas iniciativas, já que, segundo Kleber, “é essencial que as soluções sejam realmente eficazes e alinhadas com as necessidades da população negra e nada melhor do que pessoas que entendam na prática o que isso significa”.
Após todo o processo inicial, a primeira oferta foi a introdução de cartões de crédito, reconhecendo sua importância não apenas como ferramenta financeira, mas também como um símbolo de identidade para a população periférica. “O cartão de crédito é um item essencial para o público que atendemos. É mais do que um produto; é uma questão de identidade e inclusão”, afirma Kleber.
Em complemento aos cartões de crédito, a Conta Black está desenvolvendo seguros personalizados e microcréditos, adaptados às realidades econômicas dos seus clientes. “Os seguros oferecidos são ajustados para garantir que nossos clientes possam proteger seus bens e sua renda de maneira acessível e eficaz”, explica. Segundo ele, esta abordagem vai além da oferta de produtos básicos, focando em criar soluções que atendam às necessidades específicas dos clientes e contribuam para o crescimento dos negócios locais.
“Os microcréditos são fundamentais para o crescimento das iniciativas locais. Facilitamos o acesso a esses recursos com processos simplificados, adaptados às necessidades dos pequenos empreendedores”, destaca.
Além disso, a integração da educação financeira com os produtos é um aspecto fundamental da estratégia da empresa. Por isso, a empresa não apenas oferece crédito ou seguros, mas também se compromete a educar seus clientes para uma gestão mais eficiente de seus recursos. “Dá para entregar um crédito de 3-4% ao ano desde que você entregue educação financeira”, ressalta. “Desse jeito, queremos mostrar que é possível fazer negócios com impacto social positivo. Isso inclui educar nossos clientes e garantir que eles possam utilizar nossos produtos de maneira responsável”, conclui Kleber.
Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!