Protasio: Infovia bioceânica pode transformar o Brasil
*Por Paulo Protasio – O Brasil, com sua diversidade e tradição diplomática, pode se tornar um hub de inovação glocal — combinando escala global com ações locais. Para isso, é essencial garantir que moradores de favelas no Rio ou comunidades ribeirinhas da Amazônia se sintam parte ativa dessa rede.
Essa ambição se materializa na Infovia Bioceânica — uma rota digital entre o Pacífico e o Atlântico, ligando o Chile ao Rio de Janeiro via Mato Grosso do Sul. O projeto prevê a construção de um backbone de fibra óptica, a ampliação da Rede Norte-Sul e a conexão com cabos submarinos no litoral brasileiro. Desde já, é possível vislumbrar a instalação de data centers estratégicos e hubs de conectividade próximos a corredores logísticos (ferrovias, hidrovias) e zonas de agronegócio. Mato Grosso do Sul, quarto maior produtor de grãos do país, desponta como elo crítico dessa infraestrutura.
O estado se posiciona como o “Coração Digital” do Corredor Bioceânico, que inclui a BR-163/267 e a futura Ferrovia Bioceânica (EF-354). A conectividade do agronegócio 4.0 já é uma demanda concreta, com uso crescente de IoT para monitoramento de safras, drones para pulverização e projetos de cidades inteligentes em Campo Grande e Dourados — que avançam em iniciativas de smart grids e transporte autônomo. Tudo isso torna ainda mais relevante a segurança cibernética, especialmente para proteger contratos de exportação e dados sensíveis em uma rota crítica para o comércio internacional.
A revisão do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC) pela Anatel representa uma oportunidade estratégica para integrar a infovia bioceânica ao planejamento do setor de telecomunicações. A conexão entre o Chile e o Rio de Janeiro, passando pelo Centro-Oeste brasileiro, não apenas une os oceanos, mas também posiciona o Brasil como polo digital e logístico do continente.
A Anatel pode adotar medidas específicas para viabilizar essa integração, como:
· Leilões regionais com obrigações de investimento em fibra óptica e 5G no eixo Chile–Rio;
· Regras de compartilhamento de infraestrutura, obrigando grandes operadoras a compartilhar torres e dutos;
· Incentivos fiscais para data centers e ISPs que se instalarem entre Mato Grosso do Sul e o litoral fluminense;
· Definição de padrões de interoperabilidade entre as redes brasileiras e chilenas.
Essa proposta dialoga com iniciativas continentais em andamento, como o cabo submarino Humboldt (Chile–Austrália/Nova Zelândia), que pode se conectar ao Brasil via infovia terrestre, e com projetos da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), especialmente no Eixo Capricórnio (MS–Chile). Além disso, o Brasil pode se integrar a acordos de livre fluxo de dados já firmados entre membros da Aliança do Pacífico, como México e Colômbia.
Os impactos potenciais são significativos. Do ponto de vista econômico, estima-se uma redução de até 30% no custo de transmissão de dados entre Ásia e América do Sul, além da atração de data centers globais. No plano geoestratégico, o Brasil pode se tornar o principal hub de cibersegurança da América do Sul, com conexões diretas a Santiago e Miami. Socialmente, a proposta pode viabilizar a universalização do 4G e do 5G em 100% dos municípios ao longo do corredor até 2028.
O país tem uma janela histórica para liderar a revolução digital sul-americana. A revisão do PGMC não é apenas uma atualização técnica: trata-se de uma redefinição da soberania digital brasileira. Ao integrar a infovia bioceânica ao planejamento nacional, Brasil e Chile podem reduzir desigualdades regionais, atrair investimentos e consolidar uma nova ponte digital entre Pacífico e Atlântico.
Paulo Protasio foi Secretário Executivo da Rio 92, Presidente de Embratur, da Associação Comercial do Rio, fundador do CEBDS, da IETA, dirigente da Brasil Export, da Rio Internacional, é Advogado e empresário. Recentemente foi nomeado Diretor Executivo da Autoridade do Desenvolvimento Sustentável / Gov RJ.
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