Quase 30% dos antibióticos consumidos viram poluentes em rios, revela estudo global

Um novo estudo internacional acende um alerta para a contaminação dos rios por resíduos de antibióticos. De acordo com a pesquisa publicada na revista científica PNAS Nexus, cerca de 30% dos antibióticos consumidos por humanos são eliminados pelo organismo e acabam indo parar diretamente nas águas dos rios — contribuindo para a poluição ambiental e o surgimento de superbactérias resistentes a medicamentos. O levantamento foi liderado pela cientista brasileira Heloisa Ehalt Macedo, pesquisadora da Universidade McGill, no Canadá. O grupo analisou dados de 877 pontos de coleta em 110 países e cruzou informações sobre consumo de medicamentos, tratamento de esgoto e monitoramento da água. Segundo o estudo, no Brasil, aproximadamente 211 mil quilômetros de rios estão sob risco de contaminação por antibióticos. A estimativa é que quase 34 milhões de pessoas estejam expostas a esses poluentes. O principal antibiótico encontrado foi o ciprofloxacino, usado no tratamento de infecções urinárias e respiratórias. O problema ocorre porque, após o uso, os antibióticos são excretados pela urina e seguem para os sistemas de esgoto. O tratamento convencional, na maioria das vezes, não consegue remover totalmente essas substâncias. E o que sobra é despejado nos rios, afetando os ecossistemas e a qualidade da água.

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Além disso, o descarte incorreto de medicamentos vencidos ou em excesso — jogados no lixo comum ou no vaso sanitário — agrava ainda mais o problema. Esse comportamento colabora diretamente para a presença contínua desses resíduos nos corpos d’água. Os resíduos de antibióticos no ambiente aquático favorecem a seleção de bactérias resistentes. Segundo os pesquisadores, esse processo aumenta o risco de surgimento das chamadas superbactérias, que não respondem mais a tratamentos convencionais — o que ameaça a saúde pública em escala global. A Organização Mundial da Saúde já classifica a resistência antimicrobiana como uma das 10 maiores ameaças à saúde da humanidade. A estimativa é que, até 2050, 10 milhões de pessoas possam morrer anualmente por infecções resistentes se medidas não forem adotadas.

O estudo reforça a importância de aprimorar os sistemas de saneamento básico e investir em tecnologias mais modernas para o tratamento de esgoto. Também destaca a necessidade de campanhas de conscientização sobre o uso racional de antibióticos e o descarte correto de medicamentos — que deve ser feito em pontos de coleta em farmácias ou postos de saúde. Para os especialistas, reduzir o uso indiscriminado de antibióticos e tratar adequadamente os resíduos já é uma prioridade ambiental e sanitária. O desafio é global, mas as soluções começam em cada casa, cada farmácia e cada estação de tratamento.