Quase 800 pessoas morreram desde 27 de maio enquanto buscavam ajuda em Gaza, diz ONU

Cerca de 800 pessoas morreram na Faixa de Gaza tentando obter ajuda humanitária desde o fim de maio, informou a ONU nesta sexta-feira (11), enquanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou que espera obter um acordo de trégua em “poucos dias”. “Estamos falando de quase 800 pessoas mortas enquanto tentavam obter ajuda”, destacou Ravina Shamdasani. “A maioria dos ferimentos foi causada por balas”, disse em Genebra Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. A quase totalidade das mortes ocorreu perto de postos da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), apoiada por Estados Unidos e Israel, que começou a distribuir alimentos no final de maio, após um bloqueio de mais de dois meses imposto por Israel.
Entre 27 de maio, início das operações da Fundação, e 7 de julho, “registramos 798 mortos, dos quais 615 perto das instalações da GHF”, declarou Shamdasani. As distribuições da GHF levaram a cenas caóticas e o Exército israelense abriu fogo diversas vezes na tentativa de conter o fluxo de palestinos desesperados por ajuda. Questionado sobre os números, o exército disse ter trabalhado para minimizar “possíveis fricções” entre esses civis e os soldados, e que realizou “análises exaustivas” dos incidentes.
“Foram dadas instruções às forças no terreno a partir das lições aprendidas”, acrescentou em um comunicado. A ONU e as principais organizações humanitárias se recusam a trabalhar com a GHF, alegando que a organização serve a objetivos militares israelenses e viola princípios humanitários básicos.
“Negociar um final”
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que espera alcançar um acordo de trégua com o grupo terrorista Hamas “em poucos dias”, enquanto as negociações através de mediadores estrangeiros continuam pelo sexto dia consecutivo em Doha. “Provavelmente haverá um cessar-fogo de 60 dias. Retiraremos o primeiro grupo (de reféns) e, em seguida, usaremos esse cessar-fogo de 60 dias para negociar o fim de tudo isso”, declarou o premiê em entrevista ao canal americano Newsmax.
O líder israelense disse na quinta-feira que estava disposto a negociar uma trégua permanente em Gaza, desde que o Hamas desmilitarize a área e deixe o governo do território. O Hamas, por sua vez, exige a retirada israelense de Gaza, “garantias” quanto à natureza permanente do cessar-fogo e o retorno da ONU e de organizações internacionais reconhecidas à gestão da ajuda humanitária. A guerra foi desencadeada por um ataque sem precedentes em 7 de outubro de 2023, no sul de Israel, pelo movimento islamista palestino. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva contra o Hamas, tomando vastas áreas do território palestino.
O ataque de outubro de 2023 deixou 1.219 mortos em Israel, em sua maioria civis, segundo uma contagem baseada em dados oficiais do país. Das 251 pessoas sequestradas durante o ataque, 49 seguem cativas em Gaza, 27 delas foram declaradas mortas pelo Exército israelense. Na Faixa de Gaza, ao menos 57.762 palestinos, em sua maioria civis, morreram na campanha militar de represália lançada por Israel, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
“Situação extremamente difícil”
O Exército israelense atacou vários pontos da Faixa de Gaza nesta sexta-feira, deixando pelo menos 30 mortos, informou a Defesa Civil local. Segundo Mohamad al Mughayir, responsável pela organização, dez pessoas morreram após serem atingidas por disparos enquanto esperavam para receber ajuda humanitária perto de Rafah, no sul de Gaza. Devido às restrições impostas à imprensa em Gaza e às dificuldades de acesso no terreno, a AFP não está em condições de verificar as alegações das diferentes partes de forma independente.
Uma testemunha disse que viu blindados israelenses na região de Al Maslaj, perto desta localidade. “A situação continua sendo extremamente difícil na região, com intensos tiroteios, bombardeios aéreos intermitentes, ataques de artilharia e a destruição com buldôzeres dos campos de deslocados e de terrenos agrícolas”, contou a testemunha, que pediu o anonimato.
*Com informações da AFP
Publicado por Fernando Dias