Quebrar ovo na testa de criança: o que dizem especialistas sobre a trend que viralizou nas redes sociais

Nas cenas, adultos se divertem com a reação confusa e, em alguns casos, de choro das crianças. Pais usam a testa dos filhos para quebrar ovos em trend polêmica nas redes sociais
Nas últimas semanas, vídeos de pais e responsáveis quebrando ovos na testa de crianças virou trend no TikTok. Mas o que parece ser uma brincadeira inocente desperta alertas sobre exposição nas redes sociais, incentivo a comportamento vexatório e até violência, segundo especialistas ouvidos pelo g1.
Os vídeos já foram vistos entre mil e 700 mil vezes até o início da tarde desta sexta-feira (18).
📊 Contexto: Nas cenas, um adulto, que na maioria das vezes é a mãe, mas também pode ser o pai ou um irmão mais velho, surpreende as crianças, que parecem ter idades entre os 2 e os 10 anos, ao quebrar na cabeça delas ovos que supostamente serão usados em uma receita (veja no vídeo acima).
Segundo psicólogas ouvidas pelo g1, o ponto principal é que crianças não deveriam ser expostas em redes sociais, já que não têm discernimento para entender as implicações disso.
Além disso, para a psicóloga infantil Sabrina Pani, a dinâmica ultrapassa o tom da brincadeira e chega a beirar uma agressão. “Agressão, sim, porque a própria criança pode interpretar dessa forma. Imagina quebrar algo na cabeça de outra pessoa sem pedir ou avisar, especialmente de uma criança. Ela pode achar que está sendo punida por algo de errado que fez e vai ficar sem entender”.
Renata Bento, psicóloga com especialização em psicologia clínica com criança, explica:
A brincadeira acontece quando as duas ou mais pessoas estão cientes do que está acontecendo e há uma reciprocidade. Quando uma delas é pega de surpresa, [o ato] pode facilmente ser entendido como uma invasão.
As especialistas concordam que a dinâmica não oferece risco à integridade física da criança, mas pode deixar marcas no psicológico, como:
Falta de confiança
Ansiedade nas interações
Culpa
Medo da exposição
Naturalização de comportamentos semelhantes
Confusão na compreensão dos sentimentos
Outro ponto de preocupação é a forma como os pequenos vão entender essa dinâmica. Para uma criança, pode ser algo muito invasivo, a ponto de ela não querer passar a experiência adiante, mas, para outra, pode servir de validação para ela que se comporte de maneira semelhante.
Os pais são os principais exemplos dos filhos e se eles veem o pai ou a mãe fazendo essa brincadeira com eles, podem entender que podem fazer o mesmo com outras pessoas, algo que é absolutamente falso.
Exposição nas redes sociais
A “brincadeira” parece ter origem na América do Norte e, por meio das redes sociais, migrou para o Brasil. Para as psicólogas, isso se resume uma exposição desnecessária e não solicitada das crianças, além da normalização de uma possível situação vexatória.
No Brasil, o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) protege as crianças de situações como essa.
“É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”, diz o ECA.
“Fica claro que algumas crianças ficam confusas, e deveriam mesmo. Elas não entendem o que aconteceu ali. Algumas podem até achar graça e se divertir, mas outras podem ficar desconfortáveis, sentir medo e entender como uma agressão, um castigo”, explica Sabrina Pani.
E quando o adulto responsável perceber esse desconforto, a recomendação da especialista é de que ela peça desculpas à criança.
Enquanto para o adulto pode parecer uma brincadeira divertida e inocente, para a criança representar uma quebra na confiança. Sentar e conversar, reconhecer o erro e garantir que isso não se repetirá pode conter os danos.
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