Menor parte das empresas já tem retorno de investimento em IA generativa, aponta estudo do Google Cloud

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Quase dois anos após a explosão da IA generativa, o retorno sobre o investimento (ROI) na tecnologia ainda é registrado pela menor parte das empresas que adotaram ferramentas do tipo. Essa tendência foi observada em um novo estudo global encomendado pelo Google Cloud, realizado pelo National Research Group com mais de 2,5 mil líderes empresariais, incluindo o Brasil.

Na América Latina, o índice de empresas que já obtiveram algum retorno com a IA generativa varia conforme o tipo de aplicação da tecnologia. Ele é mais alto entre as empresas que realizaram projetos focados em atendimento ao cliente (42% das respondentes já obtiveram algum ROI), produtividade individual de colaboradores (37%) e vendas e marketing (34%).

Os índices são ainda menores entre projetos de back office e processos de negócios (29%), desenvolvimento de novos produtos e serviços (28%), comércio digital e experiências aprimoradas (27%), processos de produção e manufatura (24%) e engenharia/desenvolvimento (22%).

Há, no entanto, a expectativa positiva para o próximo ano: dois em cada cinco respondentes dizem que terão retornos em até um ano. Os índices de expectativa também variam conforme a área de aplicação: atendimento ao cliente (31%), produtividade individual de colaboradores (30%), vendas e marketing (36%), back office e processos de negócios (37%), desenvolvimento de novos produtos e serviços (39%), comércio digital e experiências aprimoradas (41%), processos de produção e manufatura (38%) e engenharia/desenvolvimento (44%).

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“Hoje, ainda estamos em uma etapa de investimento. Ainda que já estejamos vendo algum impacto, talvez ele não esteja compensando todo o investimento em capacitação de pessoas e novas ferramentas”, afirmou Fernanda Jolo, head de Customer Engineer, Data Analytics & AI do Google Cloud para a América Latina, em um encontro com a imprensa. “Em algum momento, isso precisa alcançar o ponto de equilíbrio.”

Ricardo Fernandes, head do Google Cloud Brasil, ecoou o ponto. Em sua avaliação, o cenário reflete a “fase inicial” dos projetos de IA generativa dentro das organizações, que estão migrando da “experimentação” para a “produção”. “As métricas de negócio ainda estão sendo definidas”, disse. “Todos entendem a necessidade de aprofundamento e entendimento, mas ainda estamos aprendendo como o valor será impactado”.

Sobre áreas específicas de investimento, o estudo revelou que, no Brasil, 77% das empresas indicam usar a IA generativa para atendimento ao cliente. Na América Latina como um todo, as organizações superam a média global no uso da IA generativa para atendimento ao cliente (74%), vendas e marketing (65%) e produtividade individual (61%). No total, duas em cada três organizações da América Latina que usam a tecnologia já colocaram seus casos de uso de IA generativa em produção.

Poucos CEOs envolvidos

Além das percepções de ROI em IA generativa, o estudo revelou um índice reduzido de envolvimento de CEOs com projetos de tecnologia entre empresas nacionais. Uma em cada três empresas nacionais relatam o envolvimento de seus CEOs na condução da estratégia de IA generativa. No México, esse número chega a mais da metade das organizações.

“Quando um terço dos CEOs – e de certa forma, também os conselhos – não está envolvido, há uma grande oportunidade de melhoria, incremento e mais consumo. Sem o envolvimento do CEO, é difícil ter uma iniciativa alinhada ao negócio. Há iniciativas capitaneadas pelo próprio CTO, que têm seu valor, mas não necessariamente estão alinhadas com as métricas do negócio”, ponderou Rodrigues.

Na avaliação do líder do Google Cloud no Brasil, a descoberta pode ser atribuída ao fato de a IA generativa ainda ser considerada um tema “de tecnologia” por muitos líderes empresariais e seus conselhos. “[A IA generativa] aparenta ser um tema hermético para um CEO ou uma pessoa do conselho”, disse. “A maioria entende que há uma oportunidade de negócios, mas ainda estão tentando entender como aplicá-la.”

Ele pontuou que a tendência é similar ao início de outras jornadas de tecnologia, como a nuvem, que exigem um letramento executivo e esforço de capacitação antes de decolar. “Isso é algo que sempre comento com os executivos: você precisa entender do assunto, senão corre o risco de criar uma feira de ciências na empresa. Isso pode ser uma perda de tempo e investimento”, ressaltou.

Planejamento estratégico

Nas últimas semanas, analistas do Goldman Sachs, Barclays e Sequoia divulgaram relatórios alertando sobre as expectativas do mercado quanto ao retorno dos investimentos na infraestrutura necessária para rodar sistemas de IA generativa.

Nos documentos, as firmas de Wall Street questionam a capacidade de soluções de IA generativa gerarem retorno nos próximos anos para companhias como Meta, Microsoft e Alphabet – detentora do Google – que compensem os investimentos bilionários já realizados. As estimativas indicam um gap que pode variar entre US$ 600 bilhões e US$ 1 trilhão.

Questionado se os resultados da pesquisa reforçam um cenário pessimista, Fernandes avaliou que o momento é de “planejamento estratégico” e estruturação para a demanda futura pela tecnologia. “Esse tipo de investimento necessariamente é feito de forma antecipada porque é muito intensivo em capital. Modelos consomem dados, mas também processamento. A capacidade computacional tem que ser alta, então você precisa construir datacenters”, explicou. “Esse tipo de investimento, para nós, está se pagando, e nossa expectativa é de um crescimento significativo.”

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Na última semana, durante a divulgação dos resultados do segundo trimestre fiscal deste ano, a Alphabet anunciou que sua divisão Google Cloud alcançou, pela primeira vez, US$ 10 bilhões em receita, com US$ 1 bilhão em lucro operacional. Sundar Pichai, CEO do Google, afirmou que as soluções de IA generativa da empresa já geraram “bilhões em receitas e estão sendo usadas por mais de 2 milhões de desenvolvedores.”

“Não adianta querer vender a tecnologia pela tecnologia. No início, vimos muito disso. Mas você tem que escolher problemas de negócio e determinar métricas de impacto. Não adianta vender cloud por cloud ou IA por IA. Esse é talvez o principal ensinamento para o mercado de fornecedores: parar de falar de tecnologia e começar a falar muito mais sobre problemas de negócio”, finalizou Fernandes.

Metodologia

O estudo ‘Retorno Sobre Investimento da IA Generativa’ é baseado em uma pesquisa que ouviu 2.508 líderes seniores de empresas globais de 23 de fevereiro a 5 de abril de 2024. A divisão das funções pesquisadas inclui 758 CEOs e CIOs; 746 CFOs, CMOs ou CTOs; 517 CISOs, CDOs, CSOs, COOs, diretores de Estratégia Digital, ou vice-presidentes de TI; e 487 diretores de TI ou chefes de Inovação.

Os participantes do estudo representam organizações da América do Norte, América Latina, EMEA e APAC, e de setores incluindo Serviços Financeiros, Manufatura & Automotivo, Varejo e Bens de Consumo, Telecomunicações, Saúde e Ciências Biológicas, e Mídia e Entretenimento.

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