Saiba mais sobre Merlot, uva de Bordeaux que conquistou o mundo e se deu muito bem na Argentina

A uva Merlot é uma das castas tintas mais cultivadas e apreciadas no mundo. Conhecida por produzir vinhos macios, aveludados e acessíveis, também pode originar rótulos de enorme complexidade e potencial de guarda. Ao lado da Cabernet Sauvignon, forma a base dos grandes vinhos de Bordeaux, mas também ganha destaque em terroirs diversos — como na Argentina, onde tem mostrado identidade própria.
Ela tem origem na região de Bordeaux, na França, sendo mencionada em registros oficiais desde o século XVIII. Seu nome vem provavelmente da palavra francesa merle (melro, um tipo de pássaro preto), por conta da coloração escura da uva. Na sua terra natal, a Merlot é a uva mais plantada. Ela se adapta perfeitamente aos solos argilosos e ao clima oceânico moderado de Bordeaux. Saint-Émilion e Pomerol (Rive Droite – Margem Direita), são as regiões onde esta casta prepondera; nestes locais a Merlot reina absoluta. Produz vinhos intensos, sedosos e longevos. Ícones como o Château Pétrus e Château Cheval Blanc (em corte com Cabernet Franc) são centrados na Merlot.
Os Merlots varietais são geralmente vinhos de corpo médio a cheio, com taninos macios, textura sedosa e aromas de ameixa preta, cereja madura, chocolate, ervas frescas, tabaco e baunilha (quando envelhecido em carvalho). A acidez moderada e os taninos aveludados tornam o Merlot muito amigável ao paladar.
A casta tem características peculiares, de maturação precoce, o que a torna ideal para regiões mais frias ou para equilibrar castas de colheita tardia. Apresenta cachos médios a grandes, bagos redondos, de pele fina e escura. E têm produtividade relativamente alta, exigindo controle no vinhedo para preservar qualidade.
Hoje o país do, chamado, Novo Mundo, que nos oferece os Merlots mais interessantes é a Argentina. Verdade é que, embora não tão emblemática como Malbec, a Merlot encontrou na Argentina terroirs de destaque, especialmente em regiões de altitude. Introduzida no país com as primeiras cepas europeias, a Merlot foi por muito tempo usada em cortes. A partir da década de 1990, com a revolução enológica argentina, começaram a surgir vinhos varietais de Merlot com maior atenção à qualidade, particularmente no Vale do Uco e em Salta.
O Vale do Uco, localizado em Mendoza, apresenta altitudes entre 900 e 1.500 metros, clima seco, com grande amplitude térmica entre dia e noite. Os solos pedregosos e calcários proporcionam boa drenagem e estresse hídrico controlado, favorecendo concentração e elegância nos vinhos. O Merlot aqui revela notas de frutas negras, ervas de montanha, minerais e taninos finos, com um frescor surpreendente.
Já em Salta, região extrema, com vinhedos que chegam a 2.000 metros de altitude, a intensidade solar e a grande amplitude térmica promovem concentração e acidez. Os Merlots de Salta são mais exóticos, com toques de especiarias, notas florais e taninos mais marcados, mantendo elegância.
Os vinhos da casta Merlot, da Argentina, vão bem com carnes grelhadas (cordeiro, filé mignon), massas com molhos à base de tomate, queijos curados (como parmesão ou grana padano), risotos de cogumelos e pratos com trufas. Os exemplares mais leves também seguem bem com pratos vegetarianos assados e aves de carne escura, como pato.
Vou sugerir alguns vinhos argentinos da casta Merlot, absolutamente interessantes e de qualidade ímpar e começo pelo Gran Tomero Single Vineyard, da Bodega Vistalba, do Vale de Uco, é um vinho muito bem estruturado, com grande expressão a frutos vermelhos e pretos, notas de alcaçuz e especiarias doces, com certeza longevo e gastronomico. Já o Achaval Ferrer Mendoza Merlot, tem um potencial de guarda incrível e é bem gastronômico. O Humberto Canale Estate Merlot, de Rio Negro, já apresenta um corpo médio e com notas de especiarias bem bacanas.
O Altos del Condor Merlot, de Salta, é elaborado pelo Grupo Peñaflor, um dos maiores produtores de vinho da Argentina, este Merlot expressa as características do terroir de Salta, com aromas frutados e taninos equilibrados. E o Miraluna Merlot, também de Salta, é produzido a cerca de 2.600 metros de altitude e destaca-se pela intensidade aromática e tipicidade varietal.
Embora muitos Merlots varietais argentinos sejam consumidos jovens (em 3 a 5 anos), os melhores exemplares podem evoluir lindamente por 8 a 12 anos, ou até mais. Em cortes com Cabernet Sauvignon ou Malbec, a longevidade se estende, graças à estrutura adicional e ao potencial de guarda das demais variedades. Ao envelhecer, o Merlot argentino desenvolve notas terciárias de tabaco, couro, frutas secas e especiarias, mantendo taninos sedosos e uma acidez refinada. Salut!